Prelazia do Marajó pede que saída de Dom José Azcona seja revista


O pedido de saída da região veio da representação diplomática do Vaticano no Brasil para que o bispo deixasse a região. Dom Azcona ficou conhecido por combater exploração sexual infantil no Marajó. Dom José Luís Azcona Hermoso.
Tarso Sarraf
A Prelazia do Marajó divulgou, por meio das redes sociais, que pediu esclarecimentos sobre a saída de Dom José Azcona do território marajoara e disse, também, que solicitou que a decisão seja revista, à Nunciatura no Brasil.
O pedido veio da representação diplomática do Vaticano no Brasil para que Dom José Azcona deixasse a região. Ainda não há informações para qual cidade ele será encaminhado.
No comunicado, divulgado na quarta-feira (13), a Prelazia diz que “o desejo do povo pela permanência de Dom José Azcona no território marajoara, corresponde com o nosso”:
“Nós, Presbíteros da Prelazia do Marajó, reunidos em nosso encontro anual em Belém, na presença fraterna de Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira-SDV, bispo nomeado para a Prelazia do Marajó, manifestamos solidariedade e apoio às manifestações em favor da permanência de Dom José Luiz Azcona Hermoso-OAR, nosso bispo Emérito. Alegramo-nos pelas expressões de carinho, respeito e amor demonstrados a Dom José Azcona e pela forma pacífica como as manifestações estão sendo realizadas.
Em carta à Nunciatura no Brasil, nós, presbíteros, juntamente com Dom José Ionilton, em espírito de comunhão, pedimos esclarecimentos sobre a Decisão pela saída de Dom José Azcona do território da Prelazia do Marajó, solicitando, ao mesmo tempo, que tal decisão, para o bem dos fiéis, seja revista.
Reafirmamos que o desejo do povo pela permanência de Dom José Azcona no território marajoara, corresponde com o nosso.
Enquanto esperamos uma resposta da Nunciatura, convidamos todos a rezarmos pela unidade da Igreja, esperançosos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus e sua Igreja”.
Na última terça-feira (12), os moradores de várias cidades na Ilha do Marajó protestaram contra a saída de Dom José Luis Azcona Hermoso da região.
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Os protestos ocorreram nas cidades de Bagre, Breves e Soure. Os moradores caminharam pelas ruas carregando balões brancos, cartazes e entoando cânticos religiosos.
Um dos cartazes dizia: “a igreja marajoara não deve calar-se diante da expulsão de D. José Azcona da Prelazia do Marajó”.
Defesa da região
Dom Azcona ficou conhecido internacionalmente por sua luta contra o tráfico humano e exploração sexual na ilha marajoara.
Em 2015, o bispo denunciou a exploração sexual de duas crianças de sete anos, uma abusada pelo vizinho, também acusado pela polícia de violentar outras duas meninas.
Há alguns anos, Dom José Luiz Azcona testemunhou casos em que as crianças se ofereceram aos ocupantes das balsas com o consentimento da própria família.
“Uma mãe levava uma menina de 10 anos para uma dessas balsas, meninas que se chamam ‘balseiras’ no jargão normal. R$ 2,40 e um pequeno balde com vísceras de porco ou de boi, isso é que vale uma menina em algumas regiões do Marajó”, contou ele à reportagem do Jornal Nacional, na época.
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Dom José Luís Azcona já foi ameaçado de morte por denunciar a violência sexual na região.
“Eu sou consciente de que me podem matar, mas eu não posso tolerar mais que esse fenômeno tão triste aconteça diante da minha cara”, disse Dom José Luís Azcona.
Dom José Luis Azcona Hermoso nasceu em 28 de março de 1940, em Pamplona, na Espanha. Há 30 anos denuncia as mazelas da região e a exploração sexual de crianças no arquipélago.
O bispo emérito também foi fundamental para a instalação da CPI da Pedofilia na Assembleia Legislativa do Pará e no Congresso Nacional, nos anos de 2009 e 2010.

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