
Israel divulgou uma mensagem oficial de condolências ao mundo cristão pelo falecimento, hoje, do Papa Francisco. Segundo o texto divulgado pelo gabinete do presidente Isaac Herzog, “ele dedicou sua vida a ajudar os pobres e a clamar pela paz em um mundo conturbado… Via grande importância em fomentar laços com o mundo judaico e em promover o diálogo interreligioso”.
No entanto, há opiniões bastante diversas entre os israelenses sobre sua postura em relação a Israel, especialmente depois do início da guerra.
Após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, o Papa Francisco veio a público condenar o Hamas. Poucos dias depois, frente à resposta de Israel, pediu “calma” e cessar-fogo, apesar de haverem 254 reféns israelenses em Gaza. Em meses mais recentes, pediu averiguações em relação à acusação de que Israel estivesse cometendo “genocídio” contra os palestinos. Essa notícia foi estampada em manchetes no mundo inteiro, provocando enorme desconforto em Israel. O uso de um kaffiah em uma exposição de Natal no Vaticano, em dezembro de 2024, também não foi bem digerido no país.
Papel político
O Papa Francisco chegou à liderança da Igreja Católica com ótimas inspirações e aparentemente trazia um novo olhar sobre diversos temas. Foi também o primeiro papa sul-americano, uma enorme honra para os latinos. Mas, na minha visão, ele cometeu o mesmo pecado que muitos de seus antecessores: arvorou-se um papel político, e tomou partido em lugar de defender todas as vítimas com igual compaixão, como deveria esperar-se de um líder religioso.
Em dezembro do ano passado, escrevi aqui esta coluna, na qual questiono por que o Papa dava tanta atenção à guerra em Gaza e nenhuma a tantos massacres que ocorrem em diferentes países do mundo contra sua própria comunidade. Também pergunto por que não ele não fez nenhum movimento no sentido de fortalecer a população cristã que vive em cidades israelenses de maioria árabe, como Nazaré, ou em cidades sob controle palestino, como Belém (ambas, como sabemos, berços do Cristianismo), cuja demografia cristã decresce a cada ano por diversas razões, mas especialmente em função da pressão de seus vizinhos muçulmanos.
Essa e outras decisões do Papa foram políticas, e não religiosas. Enquanto eu buscava informações que respondessem o motivo dessa postura, encontrei teóricos defendendo que ele prefere manter seus correligionários católicos longe da guerra entre judeus e o Islã fundamentalista. Como se os cristãos de países como Síria, Moçambique e Congo, entre tantas outras nações, já não estivessem sendo massacrados aos milhares.
Peço desculpas a quem se despede dele hoje apenas como a um líder máximo do catolicismo: para mim, sua atuação foi, especialmente nos últimos anos, também a de um ativista político.