AVC em jovens mulheres: tabagismo associado ao uso de contraceptivos é o principal ‘fator de risco modificável’


Cantora Karen Silva, ex-The Voice Kids, morreu aos 17 anos, na semana passada, acendeu o alerta para o risco de AVC em jovens. Cantora Karen Silva morre aos 17 anos em Volta Redonda
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O Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico é comum em jovens? Na semana passada, a cantora Karen Silva, ex-The Voice Kids, morreu aos 17 anos, vítima desta condição. O g1 conversou com neurologistas para entender mais sobre a incidência de AVC por faixa etária e os fatores de risco para este tipo de hemorragia em jovens.
O AVC é atualmente a terceira principal causa de morte no mundo, ficando atrás apenas da doença isquêmica do coração e da Covid-19. Além disso, é a doença que mais causa incapacidade no mundo. No Brasil, o cenário é igualmente preocupante, segundo o chefe da Neurocirurgia Vascular e Anatomia Microneurocirurgica da UNIFESP, Feres Chaddad Neto.
Cerca de 13% dos AVCs ocorrem na faixa etária de 18 e 50 anos, segundo a neurocirurgiã e diretora de Comunicação da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), Vanessa Milanese.
O tabagismo é o principal fator de risco modificável para o AVC em mulheres jovens, especialmente quando associado ao uso de contraceptivos hormonais. E o risco é ainda maior em mulheres com predisposição genética, acrescenta o Chaddad Neto.
Mulheres com até 35 anos têm 44% mais chances de ter um acidente isquêmico cerebral, comparado aos homens.
O dado é resultado de uma meta-análise (estatística que combina resultados de vários estudos independentes) com cerca de 700.00 jovens adultos, publicada no Journal of Stroke e parcialmente apoiada pelo National Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI), em 2022.
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AVC em jovens mulheres: tabagismo associado ao uso de contraceptivos hormonais é o principal fator de risco
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📋 ➡️ Fatores de risco modificáveis são aqueles que podem ser alterados ou controlados por meio de mudanças no estilo de vida ou intervenções médicas.Estão relacionados a comportamentos e hábitos do indivíduo.
O pai de Karen, Fernando Sérgio da Silva, informou ao g1 que a jovem não apresentava nenhum tipo de anormalidade de saúde:
“Ela nunca foi de ficar sentindo dor de cabeça e qualquer tipo de dor. Ela era 100% saudável e 100% alto-astral. Uma menina com uma saúde imensa. O que houve foi uma fatalidade mesmo. Ela não tinha absolutamente nada”, contou o pai.
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Ex-The Voice Kids morre aos 17 anos vítima de AVC
O que é o AVC?
Popularmente conhecido como “derrame”, o AVC tem duas formas principais de manifestação e as duas impedem o cérebro de receber oxigênio e nutrientes, o que pode causar danos irreversíveis. São elas:
AVC hemorrágico: causado pelo rompimento de um vaso, provocando sangramento cerebral. É mais comum em idosos e tende a ser mais grave, pois o sangue extravasado agride o tecido cerebral e pode elevar perigosamente a pressão dentro do crânio, o que exige intervenção imediata.
AVC isquêmico: causado pela obstrução do fluxo sanguíneo para o cérebro. Pode ocorrer por causa de uma oclusão do vaso por um trombo ou por uma placa que se formou naquela região. É o tipo mais comum de AVC em adultos jovens.
Incidência no Brasil e no mundo e por faixa etária
Número de atendimentos por de AVC no Brasil, segundo o Ministério da Saúde:
Em 2023, foram registrados 1.190.100 atendimentos, dos quais 42.188 em pessoas de até 25 anos (3,54%).
Em 2024, foram 1.354.007 atendimentos, sendo 47.476 em pessoas de até 25 anos (3,51%).
Número de óbitos por AVC no Brasil, segundo o Ministério da Saúde:
Em 2023 foram registrados 87.283 óbitos entre indivíduos com 25 anos ou menos, sendo 75 por AVC (0,09% do total), ocupando a 174ª posição entre as causas de morte nessa faixa etária.
Em 2024, dados preliminares indicam 43.524 óbitos, sendo 32 por AVC (0,08% do total), ocupando a 195ª posição.
Apesar de a doença ser mais frequentemente associada a idosos, a incidência entre jovens e adultos tem crescido. Estima-se que de 13% dos casos de AVC ocorram em pessoas de menos de 50 anos, refletindo uma tendência global, com destaque para países em desenvolvimento. E desde a pandemia, esses números vêm crescendo por causa do aumente da pressão arterial, que é um dos fatores de risco.
O AVC pode acometer indivíduos de qualquer idade.
• Entre os 28 dias de vida e os 18 anos, a condição é chamada de AVCs infantis, sendo os meninos com até cinco anos os mais vulneráveis.
• Já entre jovens adultos, de 18 a 45 anos, os casos isquêmicos representam cerca de 75% do total.
Segundo dados da World Stroke Organization (Organização Mundial de AVC), um em cada seis indivíduos no mundo terá um AVC ao longo da vida. No Brasil, a cada cinco minutos uma morre após ter um AVC, de acordo com o Ministério da saúde.
Fatores de risco:
Diversos fatores contribuem para o aumento do risco de AVC, especialmente entre os mais jovens. Entre os principais estão:
Hipertensão arterial
Dislipidemia
Diabetes
Tabagismo
Obesidade
Outros fatores associados incluem:
Consumo excessivo de álcool
Uso de drogas como cocaína
Doenças ateroscleróticas (condição crônica que afeta os vasos sanguíneos e ocorre quando há acúmulo de placas de gordura, cálcio e outras substâncias nas paredes das artérias, levando ao seu endurecimento e estreitamento)
Uso de anticoncepcionais
Sedentarismo
Estresse
Gravidez
*Estudos recentes também apontam que fatores ambientais, como a poluição do ar e o aumento das temperaturas, também podem desempenhar um papel relevante.
Cada vez mais os jovens têm doenças que são fatores de risco para o AVC, como diabetes, hipertensão, obesidade e uma vida estressante, conforme o neurologista Octávio Pontes Neto já informou ao g1. Além disso, outros fatores também podem aumentar a incidência: uso de drogas, anticoncepcionais orais e reposição hormonal.
Doenças do coração, especialmente as que produzam arritmias, aumentam o risco de AVC. As arritmias, por exemplo, provocam uma corrente sanguínea irregular e facilitam a formação de coágulos sanguíneos dentro do coração, que podem chegar pela circulação dos vasos do cérebro, diminuindo o fluxo sanguíneo e causando o AVC. Alguns exemplos de doenças são: infarto, fibrilação atrial, doenças nas válvulas e cardiopatia chagásica.
Fatores de risco mais específicos em mulheres
Nas mulheres, além dos fatores clássicos, há um conjunto de fatores modificáveis que aumentam o risco de AVC em idades mais precoces, como:
Uso de anticoncepcionais hormonais
Enxaqueca com aura (quando há alterações na percepção visual antes da dor de cabeça)
Tabagismo
Um estudo demonstrou que mulheres com enxaqueca com aura que faziam uso de anticoncepcional apresentavam risco significativamente maior de AVC isquêmico, mesmo quando expostas a doses baixas do hormônio.
Mas o tabagismo permanece como o principal fator de risco modificável para o AVC em mulheres jovens, especialmente quando associado ao uso de contraceptivos hormonais.
O risco é ainda maior em mulheres com predisposição genética, como aquelas com trombofilias — distúrbios caracterizados pela tendência à formação de coágulos sanguíneos.
Estilo de vida aumenta o risco de AVC em jovens
Sintomas
Os principais sintomas do AVC incluem:
Dor de cabeça intensa e repentina
Dificuldade para levantar os braços
Perda da força
Náuseas
Vômitos
Perda de equilíbrio
Dormência ou formigamento em partes do corpo
Alterações na visão
Alterações na fala
Sorriso torto
Em casos graves, pode levar à perda de consciência e crises epilépticas
O que fazer em caso de suspeita de AVC?
Caso você suspeite que uma pessoa esteja tendo um AVC, os médicos recomendam que se faça o teste SAMU:
Sorriso (peça para a pessoa sorrir. Veja se um lado do rosto não mexe)
Abraço (veja se a pessoa consegue elevar os dois braços como se fosse abraçar ou se um membro não se move)
Música (veja se a pessoa repete o pedacinho de uma música ou se enrola as palavras)
Urgente (chame o 192, serviço de urgência)
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico de hemorragia cerebral é feito através de realização de exames de imagem, como:
tomografia computadorizada de crânio
ressonância magnética de crânio
Esses exames permitem identificar a hemorragia e estabelecer a sua localização, volume do sangramento e outras complicações.
A hemorragia cerebral pode causar morte por aumento da pressão intracraniana ou quando o sangramento ocorre em locais imprescindíveis para a vida como o tronco cerebral.
As consequências um AVC
As consequências do AVC dependem da rapidez do diagnóstico e o do tratamento, assim como da área afetada. Quanto mais rápido for o diagnóstico e o tratamento, maiores serão as chances de recuperação.
A condição pode paralisar um lado do corpo, prejudicar a fala ou afetar a visão. Esses efeitos serão temporários ou permanentes dependendo da recuperação, ou seja, quanto mais rápido a isquemia for eliminada, maior a chance de não ter sequela.
Por que o AVC pode ser mais grave em jovens?
Com o tempo, as artérias desenvolvem um fluxo sanguíneo colateral, ou seja, outros caminhos para transportar o sangue são criados. Quanto mais jovem, menos caminhos existem, como explicou Pontes Neto. Por outro lado, o cérebro jovem tem uma capacidade maior de recuperação.
Como é feito o tratamento para um AVC isquêmico:
O tratamento é feito com remédios que dissolvem o coágulo ou diminuem a obstrução. Porém, os medicamentos devem ser ingeridos, principalmente, nas primeiras três horas após o aparecimento do problema.
Por isso, quando há suspeitas de que uma pessoa está sofrendo um AVC, a recomendação é levá-la imediatamente para o hospital.
Como é feito o tratamento para um AVC hemorrágico:
O tratamento para um AVC hemorrágico é complexo e depende da gravidade do caso. Ele deve ser iniciado o mais rápido possível para minimizar danos ao cérebro e melhorar as chances de recuperação. O tratamento inclui principalmente:
Controle da pressão arterial: Medicamentos anti-hipertensivos são usados para manter a pressão arterial sob controle e evitar a piora do sangramento
Medicação: analgésicos, sedativos e anticonvulsivantes podem ser administrados para controlar a dor, sedar o paciente e prevenir convulsões
Cirurgia: em casos graves, pode ser necessária uma cirurgia para remover o hematoma causado pelo sangramento e reparar os vasos sanguíneos
Terapia hemostática: utilização de vitamina K, plasma fresco congelado e transfusão de plaquetas para corrigir anormalidades na coagulação do sangue
Cuidados intensivos: monitoramento constante dos sinais vitais e suporte respiratório podem ser necessários, especialmente em unidades de terapia intensiva
Prevenção:
Manter uma rotina de exercícios
Evitar álcool
Evitar cigarro
Cuidar da pressão arterial
Controlar o estresse
Quem era Karen Silva
Karen Silva, de Volta Redonda, brilhou com uma apresentação ao som de IZA no ‘The Voice Kids
Artur Meninea/Gshow
A prima de Karen, Thais da Silva, contou ao g1 que a jovem era uma menina incrível. “Engraçada, carismática, espontânea, onde ela chegava, ela conquistava todo mundo”, afirmou.
Karen ficou conhecida nacionalmente após participar da edição de 2020 do programa da Rede Globo The Voice Kids. Na época, ela fez parte do time do Carlinhos Brown. Ao longo da carreira, Karen chegou a fazer participações na programação da TV Rio Sul. Uma das últimas foi em 2023, no quadro Diversão e Arte, no RJ1. Apesar ter ficado nacionalmente conhecida aos 12 anos, Karen ingressou no mundo da música um pouco mais cedo, aos 8 anos.
A assessoria da Karen publicou uma nota de pesar nas redes sociais. Leia na íntegra:
“Karen encantou o Brasil com sua voz potente e presença marcante ainda na infância, quando participou do The Voice Kids em 2020. Desde então, seguiu trilhando uma trajetória luminosa, unindo talento, carisma e representatividade em cada passo.
Mais do que uma artista promissora, Karen foi um símbolo de empoderamento, especialmente para meninas negras que encontraram nela inspiração e força para sonhar. Sua música, sua mensagem e sua alegria deixam marcas profundas em todos que a conheceram e acompanharam sua jornada.
Neste momento de imensa dor, nos solidarizamos com seus pais, Manoella e Fernando, com amigos, familiares e fãs. Que a lembrança de sua luz continue a nos guiar.”
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