
Caso de devolução de criança adotada em Arapiraca expõe traumas e reforça responsabilidade no ato de adotar. Em entrevista ao g1, promotora explicou bastidores do processo e impactos emocionais causados na criança, hoje acolhida em nova unidade. Menino tinha 9 anos na época da adoção, hoje está com 12. Ele foi devolvido meses depois, decisão que causou traumas profundos
Getty Images/via BBC
O caso do menino que foi devolvido por um casal meses após a adoção, em Arapiraca, expôs a gravidade dos traumas que esse tipo de ruptura provoca em uma criança. Na época o menino tinha 9 anos, hoje está com 12. Ele foi devolvido meses depois, decisão que causou traumas profundos na criança e motivou o Ministério Público a ingressar com um pedido de indenização por danos morais, acolhido pela Justiça.
A promotora de Justiça Viviane Farias, que acompanha o caso, em entrevista ao g1, relatou detalhes da condução do processo e das consequências emocionais para o menino.
Segundo a promotora, situações como essa são extremamente raras e delicadas. “A lei prevê que a adoção é irrevogável. A pessoa não pode desistir depois que o processo é concluído. Mas esse foi um caso muito atípico. A família, de maneira insistente, disse que não queria ficar com a criança em hipótese alguma e já a levou diretamente para um abrigo. Entendemos que obrigar a criança a permanecer nesse ambiente seria ainda mais prejudicial para ela”, explicou.
A Justiça determinou uma indenização por danos morais à criança, a partir de um pedido do Ministério Público. “Entendemos que houve uma violação à dignidade daquela criança, pelas expectativas geradas e pela quebra emocional que isso provocou”, destacou Viviane. Sobre a possibilidade de o casal voltar a entrar na fila de adoção, a promotora afirma que, embora juridicamente possível, a postura que tiveram deverá pesar contra eles em qualquer eventual tentativa futura.
Criança fugiu e voltou à casa dos pais adotivos, mas foi devolvido novamente
O episódio deixou marcas profundas no menino, que precisou de acompanhamento psicológico e chegou a tentar fugir do abrigo onde estava para retornar à casa do casal.
“Ele foi sozinho, à noite, e o casal sequer acolheu a criança por uma noite. Imediatamente o devolveram ao abrigo. Os traumas foram enormes”, contou a promotora. Por conta das dificuldades de readaptação, a equipe técnica optou por transferi-lo para outra unidade de acolhimento. “Hoje ele se encontra em outro local, está evoluindo, mas ainda carrega muitas sequelas e traumas, que seguem sendo tratados com apoio psicológico.”
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Viviane Farias também reforçou a importância de que o ato de adotar seja conduzido com responsabilidade e consciência. “A adoção é um ato de amor, mas não pode ser feita de qualquer forma. As pessoas precisam entender as expectativas e o cuidado que devem ter com a vida que estão assumindo”.
“São crianças que já sofreram muito, foram separadas de suas famílias, e não podem ser tratadas como objetos que se devolve porque não corresponderam a alguma expectativa. Esse caso nos chama muito a atenção e reforça a responsabilidade que as pessoas devem ter ao decidir adotar uma criança”, afirmou.
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