Neste Dia das Mães, Alda celebra uma nova gestação aos 57 anos – Foto: Diorgenes Pandini/ND
Alda Lúcia Marinho, aos 57 anos, vive uma nova gestação após ter enfrentado o luto pela perda de um filho. Sua trajetória é marcada por resiliência e esperança.
Já a Casa Múltiplas oferece um espaço acolhedor para mães que buscam equilibrar carreira e maternidade, promovendo o desenvolvimento pessoal e comunitário.
Narrativas que inspiram e reforçam a importância do apoio e da conexão na jornada materna.
“Eu vivi todas as faces da maternidade”
Aos 57 anos, a servidora pública Alda Lúcia Marinho está no sétimo mês de gestação do Théo, vivendo uma fase que transcende expectativas, estatísticas e julgamentos.
A gestação do quarto filho chegou quando achou que não poderia ser mãe novamente e após uma perda devastadora do filho caçula, além de décadas de dedicação à família e à vida profissional.
A nova fase simboliza para ela o reencontro consigo mesma, com sua história e com o amor que nunca deixou de pulsar.
Alda conta que já viveu quase todas as nuances da maternidade: a descoberta de ser mãe, a lida incansável de conciliar a vida profissional com a chegada dos três filhos, a dor devastadora do luto de um filho, a força da reinvenção e, agora, a emoção de recomeçar.
“Eu vi todas as faces da maternidade. O auge do amor que é ter o filho, ter todas as alegrias, e o auge da tristeza, que, ao meu ver, é a dor mais forte que existe, uma mãe ter que sepultar o seu filho.”
Sua história com a maternidade começou aos 20 anos, quando se casou e teve três filhos na sequência: Gabriel, João e Vitor.
“Com 26 anos, já tinha três crianças numa época que não tinha tanto auxílio de internet, que eu pudesse tratar de trabalho. Era aquela maternidade característica, aquela correria de levar para a escola, de início de carreira, mas sempre tive uma rede de apoio muito boa.”
No entanto, em 2008, no dia de Natal, Alda perdeu o caçula, Vitor, de 13 anos, vítima de uma doença autoimune. “A maternidade sempre me testou muito com toda a sua força”, desabafa. “Depois veio o pior, o luto materno. Isso te transforma, te muda.”
Foi a partir desse luto que Alda compreendeu, em profundidade, o que é ser mãe. “Hoje eu sei que a maternidade vai muito além de tocar no filho, de beijar. Eu tive que me adaptar a uma maternidade que não existe o físico. Aprendi a beijá-lo sem ele estar presente, a conversar com ele sem ele estar aqui. Foi um aprendizado muito difícil, mas talvez o mais valioso.”
Alda comentou com emoção sobre o amor materno que transcende. “Pode até ser difícil de algumas pessoas compreenderem, mas quando me perguntarem qual é a maior importância da maternidade, digo que é amar um filho sem tê-lo presente. Aí, sim, transcende, e ali está o verdadeiro amor da maternidade.”
O tempo passou, os filhos cresceram e Alda se reconstruiu como mulher, mãe e profissional, mas já não se via mais como gestante em potencial. “Quando ganhei o Vitor, fiz ligadura de trompas. Então, eu não poderia mais ser mãe e nem pensava nisso.”
Dia das Mães à espera de Theo
Ela só não esperava que, em 2022, começaria um novo relacionamento. O desejo dele de ser pai e a vontade de Alda, após anos sem pensar nisso, de ser mãe novamente os levaram a uma clínica de fertilização. Foi quando Alda encontrou na medicina a chance de tentar mais uma vez.
Alda está no sétimo mês de gestação do Theo – Foto: Diorgenes Pandini/ND
Após o procedimento, que precisou de muitas fases de preparação, ela esperou 12 dias para o teste de gravidez. Deu positivo. Repetiu cinco dias depois: positivo novamente. Apesar de ter sonhado com uma menina, Alda se emocionou ao saber que era o Theo que estava a caminho. “De primeiro momento me tocou a ligação com o Vitor. Mas me preparei para não ter esse olhar. O Vitor continua presente. Eu não vou substituir alguém que está aqui. Sou mãe de quatro filhos.”
Agora, Alda vive uma maternidade em uma fase mais madura. “Todo mundo dizia: ‘Tu é louca.’ Mas era no sentido de: ‘Meu Deus, uma criança dá tanto trabalho, tu tá com os filhos criados’”, ri. “Mas hoje eu vejo que louca era eu com 26 anos, três filhos pequenos, início de carreira, sem internet, sem conseguir ir nas festinhas do colégio. Isso, sim, era loucura. Hoje temos equilíbrio. Eu e meu marido estamos bem, temos estrutura, condições financeiras, rede de apoio e estamos muito felizes esperando pelo Theo.”
Por fim, Alda revelou que ser mãe aos 57 anos é também sobre aceitação, amor e verdade. “A maternidade é um sonho familiar, é um sonho teu com tua companheira ou teu companheiro, mas, além de tudo, tem que estar bem resolvido em ti. Eu e o Theo estamos muito bem resolvidos. Foi tudo com muita naturalidade.”
Casa Múltiplas oferece acolhimento e estrutura para quem concilia maternidade e carreira
Conciliar trabalho, maternidade e vida pessoal é um dos maiores desafios enfrentados pelas mulheres. Em meio a jornadas duplas, ainda faltam espaços estruturados e acolhedores para mães que desejam seguir atuando profissionalmente sem abrir mão da convivência com os filhos. Foi para mudar esse cenário que surgiu a Casa Múltiplas, no Centro de Florianópolis.
Casa Múltiplas, no Centro de Florianópolis – Foto: NDTV/Reprodução
Idealizada pela empreendedora Camila Soares, a casa foi fundada com a proposta de reunir mulheres em sua multiplicidade de papéis. Localizada na rua Osmar Cunha, conta com dois andares voltados para atividades culturais, educacionais e sociais. O primeiro abriga o Local Market por Múltiplas, o Café Escondido, além de um espaço de brincar. No segundo acontecem workshops, rodas de conversa e eventos voltados ao autodesenvolvimento e autocuidado.
O projeto nasceu da experiência pessoal de Camila com a maternidade durante a pandemia.
“O espaço surgiu de uma vontade de reunir mulheres na sua multiplicidade. Fazemos muitas coisas e isso é maravilhoso. Mas existe a necessidade de troca, tanto na área do trabalho como na vida pessoal. Quando meu filho nasceu, cresceu em mim esse desejo de me comunicar, de crescer e de evoluir junto com outras mulheres”, afirma.
Para a advogada Tatiana Coelho, o espaço vai além da praticidade. “Aqui acaba se transformando numa segunda casa para muitas mulheres. É um espaço de muitas conexões, de muitos eventos, de muito acolhimento, não só para os nossos pequenos, mas para nós, uma rede de apoio mesmo”, destaca.
Além da estrutura física, a proposta é que as mães se sintam pertencentes, vistas e acolhidas.
“Acho que nenhuma mulher tem obrigação de ser mãe. Esse direito de escolha é muito importante. Mas, para mim, a maternidade foi a minha maior realização. Sou muito feliz sendo mãe. Posso dizer que sou uma nova Camila e estou na minha melhor versão. Gosto muito de quem me tornei”, completa a fundadora do espaço.
Para a especialista em orientação familiar Talita Tonin, que concedeu uma entrevista ao SC No Ar, esse tipo de iniciativa é urgente. “Na maioria das vezes, os espaços ainda não estão preparados para acolher a presença ativa da mãe em sua pluralidade. Mães também estudam, trabalham, cuidam da saúde e se encontram com amigas. Muitos ambientes ainda tratam a maternidade como um empecilho, e não como parte da vida real”, analisa.
Talita reforça que apoiar mães é investir no bem-estar coletivo. “Quando uma mãe está bem, toda a família está melhor. A sociedade precisa entender que a mãe não trabalha menos, ela trabalha com mais dedicação. Quando volta ao mercado, não volta sozinha, volta com coragem, resiliência e um motivo maior para fazer dar certo. Mães não são menos produtivas. Elas são organizadas, adaptáveis e resilientes. Só precisam de suporte.”