Onda de furtos preocupa comerciantes de Florianópolis – Foto: Germano Rorato/ND
A manezinha Denise Sardá da Luz, 50 anos, tem um comércio na avenida Rio Branco, no Centro, há 23 anos. Em julho, porém, vai entregar o ponto, depois de sucessivos prejuízos a onda de furtos. Em média, uma ocorrência por mês.
Estoquista numa loja de produtos naturais, Lidiane Caetano, 25 anos, conta que o amigo teve a bicicleta furtada, mesmo cadeada, em frente ao comércio, mês passado, na rua Bocaiúva, também no Centro.
Onda de furtos no Centro causa sensação de insegurança
Estes são apenas dois casos de comerciantes sofrendo com a onda de furtos na capital. Diante do problema, a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Florianópolis está doando câmeras com reconhecimento facial para o município.
As forças de segurança intensificaram rondas e detenções, porém, os criminosos saem rapidamente e repetem os furtos. “Roubaram ar-condicionado, cortina, não dá para ter TV, o alarme eu tirei, porque pagava uma grana e não resolvia. Eu desisti”, relata Denise.
Na visão dela, falta policiamento e, quando acionado, demora a chegar. O mais recente arrombamento na loja foi nas primeiras horas de segunda-feira (19). Os criminosos quebraram a telha, o forro e invadiram a empresa.
“Era 00h10, nem é tão tarde assim. Não devo ser a única comerciante revoltada a ponto de desistir. No Centro, não quero nem de graça, é questão de saúde, estou cansada”, desabafa sobre a onda de furtos.
Denise desistiu do Centro após inúmeros furtos ao seu comércio – Foto: Germano Rorato/ND
A estoquista Lidiane trabalha há um ano na Bocaiúva e não tem a sensação generalizada de insegurança, mas o amigo teve a bicicleta furtada mês passado. “Foi do nada. Quem roubou não levantou suspeitas, agiu em dois minutos para estourar o cadeado e não chamou atenção. Foi a primeira vez que aconteceu algo assim, plena luz do dia, por volta das 12h”, conta.
Entendendo o drama dos comerciantes e focando na requalificação do Centro, a CDL de Florianópolis vai doar 24 câmeras de segurança com reconhecimento facial e novos diciclos (equipamentos de mobilidade) para a prefeitura.
Diretor de aperfeiçoamento empresarial da entidade, Lurran de Souza explica que o intuito é devolver o protagonismo do Centro. “São câmeras com inteligência artificial e com várias funções, como contagem de fluxo, reconhecimento facial e podem ser programadas para identificar comportamentos suspeitos e, de imediato, as forças de segurança são informadas”.
Forças de segurança
Comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar, que atua na região central, o coronel Vidal explica que o batalhão está dando atenção especial aos crimes contra o patrimônio.
“Observamos, em 2025, uma leve redução, em torno de 20%, porém, para certos ambientes e materiais, há uma tendência de elevação, como os comércios e crimes contra o sistema de fornecimento de energia elétrica. Esses casos têm um aumento de incidência”, diz.
Apesar da onda de furtos, forças de segurança alegam redução no percentual de delitos em Florianópolis – Foto: Germano Rorato/ND
Ainda segundo o comandante, pessoas em situação de rua respondem por 80% dos crimes dessa natureza no Centro.
“A vulnerabilidade social existe, porém, há uma parcela de indivíduos com propensão a crimes e comprovamos nos registros policiais. Diversos deles têm vários registros policiais e ações penais tramitando”, ressalta Vidal.
Ele reitera, porém, que houve redução de 20% dos furtos em ambiente comercial, em maio, no comparativo com abril e que, nos últimos 15 dias, ocorreram três prisões de indivíduos furtando fios. “As prisões são contínuas. Semanalmente, capturamos indivíduos cometendo crimes contra o patrimônio”.
Vice-prefeita e secretária de Segurança de Florianópolis, Maryanne Mattos reitera que a maioria dos arrombamentos são cometidos por pessoas em situação de rua e que são conduzidos à delegacia mais de uma vez pelo mesmo crime.
“A legislação federal considera pequeno delito e eles retornam no mesmo dia para a rua. Quando uma porta de comércio é arrombada, o prejuízo é de R$ 10 mil a R$ 20 mil. Teve gente com R$ 50 mil de prejuízo, não é pouco”, lamenta a secretária.
Maryanne frisa que as forças de segurança fazem a sua parte. “Estamos conduzindo todo dia para a delegacia e fechando o cerco contra os furtos de fios, indo aos receptadores e vamos continuar prendendo quem está furtando comércios”, destaca a secretária.
Para ela, a maior dificuldade é que os criminosos têm muita proteção legal. “Estamos intensificando as rondas e planejando o videomonitoramento mais inteligente. Também vamos melhorar pontos de iluminação na cidade”, diz a secretária.
Operação Fio desencapado
Na última quinta-feira (22), uma nova etapa da Operação Fio Desencapado foi realizada no Sul da Ilha. Um estabelecimento comercial foi fechado e um suspeito conduzido à delegacia, investigado por receptar fios de cobre furtados.
Os materiais somam cerca de 80 quilos, foram reconhecidos como parte da rede elétrica pública. Num dos locais vistoriados foram encontrados materiais públicos furtados, como placas de sinalização.
“Cada metro de fio furtado representa um prejuízo direto à população. Semáforos que param de funcionar, ruas às escuras, serviços interrompidos. A receptação alimenta essa cadeia criminosa, por isso, estamos atuando com firmeza. Quem compra material furtado está contribuindo para o caos e será responsabilizado”, afirma Maryanne Mattos.