
A fuga de Carla Zambelli para não cumprir pena de prisão no Brasil deixou opositores e autoridades em alerta sobre o precedente aberto pela deputada licenciada do PL.
A maior preocupação, claro, é que o líder da turma, Jair Bolsonaro, tome rumo parecido e se mande do país para escapar de uma possível prisão.
O ex-presidente é réu no inquérito da trama golpista e pode em breve ser condenado. E, mais ou menos como fez a pupila, já anunciou que esta seria também uma sentença de morte. Física e política.
Zambelli citou problemas de saúde. Bolsonaro, a idade (ele tem 70 anos).
Os sinais são muitos.
No Carnaval de 2024, durante um delírio persecutório ao perder ter o passaporte apreendido pela PF, ele se autoasilou temporariamente na embaixada da Hungria em Brasília.
E, antes dos ataques do 8 de janeiro – insuflados por ele antes e depois das eleições de 2022 – o então presidente se escafedeu para os Estados Unidos.
As andanças dão alguma pista para as autoridades se questionem para onde iria Bolsonaro se resolvesse fugir do país para não ser preso.
Enquanto os processos não transitarem em julgado, e não houver indícios de que ele atrapalhou as investigações ou corra risco de fugir, ele seguirá livre. E, a não ser que dê alguma razão, não haveria nenhuma medida cautelar contra ele, como a apreensão de passaportes ou uso de tornozeleira eletrônica.
Um pedido do tipo, hoje, não faria sentido, já que ele tem endereço fixo, não ameaçou nenhuma testemunha (não que se saiba) e tem comparecido para as audiências determinadas pela Justiça.
Mas entre o julgamento e a análise de eventuais embargos, tudo pode acontecer.
Em janeiro de 2023, o deputado italiano Angelo Bonelli pediu, durante sessão na Câmara local, para que o governo do país não concedesse cidadania ao ex-presidente brasileiro.
Era uma resposta, segundo ele, aos rumores da imprensa brasileira de que o Jair Bolsonaro – que na época estava na Flórida – havia solicitado o documento.
“Você sabia que os filhos de Bolsonaro também solicitaram cidadania? Isso seria um grande problema para a república italiana porque diante dos acontecimentos não pode haver incerteza de não dar a cidadania italiana à família Bolsonaro, sobre quem tramitam processos judiciais na Justiça brasileira”, disse, na época, o parlamentar.
Bonelli é o mesmo deputado que, nesta semana, pediu a extradição de Carla Zambelli – que tem cidadania italiana – antes mesmo de ela chegar ao país.
Tanto num caso como no outro, a benevolência poderia ser definida a partir das vontades do governo local, hoje nas mãos da ultradireitista Giorgia Meloni, simpatizante dos Bolsonaro.
Assim como ela, Donald Trump, nos Estados Unidos, e Viktor Orbán, na Hungria, poderiam estender tapete vermelho a Bolsonaro caso ele decidisse deixar o Brasil.
Outro destino provável seria a Argentina de Javier Milei, para onde se mandaram muitos dos acusados de envolvimento nos ataques de 8 de janeiro quando entraram na mira da Justiça.
O fato é que, com Zambelli à solta (e sabe-se-lá onde ou até quando), o Judiciário deve redobrar o alerta sobre os acusados que um dia tramaram contra as instituições do país.
A turma costuma estufar o peito e simular coragem quando late.
Mas corre feito cão hidrófobo quando precisar arcar com as consequências dos próprios atos.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG