Moradores usam ruas alagadas como ‘balneário’ em cidade em emergência devido à cheia no AM


Vídeo que viralizou nas redes mostra moradores tomando banho, se divertindo com animais, dançando e navegando em botes. Anamã tem 70% do território alagado, segundo a Defesa Civil Municipal. Vídeo com moradores de Anamã se divertindo em ruas alagadas por cheia viralizou nas redes
Moradores de Anamã, no interior do Amazonas, transformaram as ruas alagadas pela cheia do Rio Solimões em um “balneário improvisado”. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra adultos e crianças tomando banho, interagindo com animais, dançando e navegando em botes. Assista ao vídeo acima.
Atualmente o município está em situação de emergência com 70% do território alagado, segundo a Defesa Civil Municipal.
De acordo com o monitoramento hidrológico da Defesa Civil do Amazonas, nesta quinta-feira (5), data da medição mais recente divulgada, o nível do Rio Solimões em Anamã registrou em 16,90 metros, ficando a 1,35 metros da marca histórica de 18,25 metros, atingida em 2015.
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A influenciadora Kezia Gabriela é moradora do município e autora do vídeo que viralizou nas redes sociais. Ela conversou com o g1 e explicou que a motivação para publicar os registros foi mostrar um outro ponto de vista sobre a cheia que atinge a cidade.
“Eu sempre vejo passar nos jornais que aqui em Anamã o povo sofre muito com a enchente que tem quase todo ano, então eu fiz esse vídeo pra mostrar pra quem me segue que não é bem assim,. Aqui o povo aproveita esse período pra se divertir, tomar banho de rio nas água correntes, pescar e fazer assado”, contou a influenciadora.
Historicamente, Anamã é um dos municípios mais afetados pelo período de cheia no Amazonas. Grande parte do cotidiano da população está ligada à navegação e à adaptação ao fenômeno, como a construção de casas mais altas para evitar alagamentos.
Segundo a prefeitura de Anamã, cerca de 800 famílias na sede do município já sofrem os impactos do alto nível do Rio Solimões. Na zona rural, 22 comunidades estão afetando 997 famílias.
Durante o período, moradores preferem navegar em canoas e lanchas ao invés de construir passarelas, o que fez o município ganhar o apelido de “Veneza da Amazônia”. Kezia conta que já está acostumada com essa realidade e diz que sente orgulho de como a cidade é conhecida.
“Nesse período guardamos nossas motos, pegamos as nossas canoas e tudo certo. As casas já são altas por esse motivo também, e tá tudo bem, é normal pra quem vive aqui”, completou a influenciadora.
Entretanto, a doutora em Ciências Ambientais e pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Geise Canalez, alerta que as pessoas que têm contato com a água que avança pelas ruas da cidade estão expostas a riscos de saúde, principalmente causados pela poluição.
“O impacto da alegação da cheia das áreas urbanas, para além dos problemas da alagação das moradias em si, é potencializada pela poluição. Existem problemas com gerenciamento dos resíduos e acúmulo de lixo. Isso gera potencial risco para saúde por contaminação das águas e pode ocasionar surtos de doenças gastrointestinais”, explicou a especialista.
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Cheia já atingiu 800 famílias da Zona Urbana de Anamã
Adauto Silva/Rede Amazônica
Situação de emergência
Segundo boletim divulgado pela Defesa Civil do Amazonas na sexta-feira (6), 36 municípios amazonenses estão em situação de emergência pela cheia e cerca de 371 mil pessoas são afetadas diariamente pelo fenômeno, enfrentando dificuldades de locomoção, perdas na produção rural e inundações em suas casas.
Confira a lista dos 36 municípios que estão em situação de emergência:
Amaturá
Anamã
Anori
Apuí
Atalaia do Norte
Benjamin Constant
Boa Vista do Ramos
Boca do Acre
Borba
Caapiranga
Carauari
Careiro
Careiro da Várzea
Coari
Eirunepé
Fonte Boa
Guajará
Humaitá
Ipixuna
Itacoatiara
Itamarati
Itapiranga
Japurá
Jutai
Juruá
Manaquiri
Manicoré
Maraã
Nova Olinda do Norte
Novo Aripuanã
Santa Izabel do Rio Negro
Santo Antônio do Içá
São Paulo de Olivença
Tonantins
Tefé
Urucurituba
Além dos municípios em emergência:
Um está em estado de atenção;
22 em alerta;
e três em normalidade.
🌧️ Segundo o meteorologista e pesquisador Leonardo Vergasta, dois fenômenos explicam o aumento no volume dos rios em comparação a 2024:
O Inverno Amazônico, que traz chuvas acima da média para a Região Norte e deve durar até o fim de maio.
O La Niña, que chegou ao fim em abril, mas deixou consequências.
“No início de 2025, tivemos a atuação do La Niña, que resfria as águas do Pacífico Equatorial. Isso aumenta a intensidade das chuvas na região. Como coincidiu com nosso período chuvoso, desde fevereiro, toda a bacia amazônica registrou volumes de chuva acima do normal”, explicou o pesquisador.
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