Dia das Mães: advogada consegue ouvir filho pela primeira vez 10 anos após o nascimento com ajuda do implante coclear


À esquerda, o momento em que Rian veio ao mundo. À direita, o dia em que a mãe fez o implante coclear para voltar a ouvir.
Arquivo Pessoal
O primeiro choro de uma criança pode ser um dos momentos mais marcantes da maternidade. Mas no caso da advogada Roberta Rodolfi, que convive com a perda auditiva desde bem jovem, ela só pôde ouvir bem o filho, Rian Rodolfi, pela primeira vez quando ele já tinha dez anos de idade, após ter feito o implante coclear, popularmente conhecido como “ouvido biônico”. O equipamento ajuda a escutar ao ser colocado dentro da cabeça.
Neste Dia das Mães, o g1 Pará conta a história de uma mãe que, com a ajuda da medicina, recuperou a autoestima e fortaleceu a comunicação com a família.
A criação de Rian foi com dificuldades. Roberta relembra que não ouvia o menino chorar, não conseguia entender o que ele queria, e isso dificultou muito que os dois se entendessem. Mas a relação entre eles teve a ajuda da avó, Viviane Rodolfi, e das tias.
“A minha mãe é a única pessoa que consigo entender sem fazer a leitura labial, ela pode estar de costas para mim que eu consigo entendê-la perfeitamente, então ela sempre estava junto de mim, em consultas com o meu filho, nas reuniões de escola. E assim, conforme ele foi crescendo, até se tornar adolescente, se tornou natural ele sempre avisar as pessoas que eu não escuto bem, que é preciso falar olhando para mim. Então, eu tenho o apoio dele também”.
A advogada Roberta com a mãe e as irmães, base de apoio na criação do filho durante o período em que não podia ouvir.
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Antes do nascimento do filho, Roberta relembra que na época da faculdade de direito já enfrentava muitas dificuldades. “Aprendi desde cedo a fazer a leitura labial enquanto fiquei sem usar aparelho até os 22 anos de idade. Ouvia muitos zumbidos, barulhos, e os médicos sempre falavam a mesma coisa: que eu não precisava de aparelho. Até que, por volta de 2005, eu já não ouvia mais nada, era um zumbido muito alto, e certo dia no estágio eu não respondia nada e meu chefe me liberou para ir para casa”.
A partir daí, a então estudante de direito começou a busca por médicos que pudesse ajudá-la a voltar a ouvir.
“Acho que conheço todos os otorrinos de Belém. Tinha muito o discurso de que podia ser perigoso, podia dar choque, que eu ia ter uma vida limitada a uma bateria. Cada vez mais eu estava me isolando das pessoas, tive dificuldades para me formar na faculdade, passar na prova da Ordem dos Advogados (OAB). Era o professor virar para o quadro ou para algum colega, que eu já não entendia mais ele. Era insegura, só respondia ‘sim’ a tudo que me perguntavam, e a minha comunicação com o meu filho era só estresse”.
A virada de chave
Roberta no dia em que fez a ativação do implante coclear: ‘estava muito feliz nesse dia’.
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O começo da mudança de vida proporcionada pelo implante foi em uma consulta com o otorrinolaringologista Rafael Carvalho, que a levou até a fonoaudióloga Izi Pardal. Ela já usava aparelho auditivo. Os dois médicos trabalharam na cirurgia e ativação do implante em março de 2017.
“Quando eles ligaram o implante, foi uma beleza, foi a melhor coisa, se eu soubesse teria feito antes. Na hora que ligou estavam alguns familiares, e todos falaram comigo de costas, ou colocando um papel na frente da boca, e eu consegui finalmente entender o que eles estavam falando”.
A restauração da função da audição pelo implante coclear ainda tem muita resistência entre pais e jovens.
O implante é mais eficiente que os aparelhos auditivos, que nem sempre funcionam, por um motivo: ele consiste na implantação de um tipo de dispositivo que funciona como um “ouvido biônico”, colocado por baixo da pele da cabeça na região atrás da orelha. Um fio com um eletrodo entra no ouvido e dá a volta na cóclea, funcionando como se fosse um substituto do ouvido.
Roberta explica que o som do implante é nítido, limpo e foca na voz das pessoas em vez dos barulhos externos.
“É indescritível, muito parecido de quando eu ouvia sem aparelho. E então tudo mudou com o meu filho, a gente conseguiu conversar, ouvir música no carro, e fazer coisas juntos que antes não conseguíamos. Ele sempre pedia que eu amarrasse os cabelos, para mostrar que agora eu era uma ‘mãe ciborgue’ legal. Ele adorava e isso me dava muita confiança”.
‘Com o implante eu recuperei minha confiança, voltei a advogar e hoje posso cantar músicas com meu filho no carro’, diz a advogada Roberta.
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Com a audição e autoestima renovadas, Roberta retomou a carreira de advogada, passou a ter confiança para exercer a profissão, sem travar em audiências jurídicas, e recuperou a capacidade de poder criar memórias afetivas com a família por meio da conversa.
“Hoje eu tenho confiança de dizer, ‘olha eu não entendi, mas uso implante, você pode repetir?’. Isso fez com que a minha vida melhorasse muito. Agora além de não ficar nervosa no trânsito, agora eu consigo cantar músicas com meu filho no carro”.
A confiança já pôde ajudar outras mulheres a procurar ajuda da medicina para voltar a ouvir, ela conta. “Teve mãe de colega de escola do meu filho que, há uns anos, me procurou dizendo que tem perda auditiva, e como era para mim, então indiquei para ela. Na internet ainda há muita desinformação sobre o implante, então é importante falar que não é preciso se isolar, que há solução, e ela pode nos dar mais qualidade de vida”.
Por causa da perda auditiva, a relação de Roberta com o filho Rian foi bastante complicada durante a infância e começo da adolescência. O implante os reconectou, quando ela começou a finalmente ouví-lo.
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