
O Ministério Público de São Paulo abriu uma investigação para apurar possíveis irregularidades na compra milionária de uniformes escolares destinados exclusivamente às escolas cívico-militares da rede estadual.
O inquérito foi instaurado pela Promotoria do Patrimônio Público e Social da capital e tem como foco um pregão eletrônico de R$ 57,6 milhões lançado pela Secretaria Estadual de Educação.
A apuração teve início após uma denúncia apresentada pelo deputado estadual Paulo Fiorilo (PT), que acusa o governo paulista de beneficiar apenas uma pequena parcela dos alunos e professores da rede com o fornecimento gratuito de uniformes.
Segundo ele, a medida desrespeita o princípio da isonomia, já que o restante das mais de 5 mil escolas estaduais não recebe o mesmo benefício.
Hoje, o programa cívico-militar alcança cerca de 130 escolas — menos de 5% do total da rede. Nas demais unidades, o uso de uniforme não é obrigatório, e quando existe, a compra fica a cargo das famílias.
Fiorilo também pede a suspensão imediata do pregão e cobra mudanças no edital para incluir toda a rede estadual.
Além do tratamento desigual, o deputado questiona a falta de transparência no edital. Ele aponta a ausência de informações sobre de onde virá o dinheiro para bancar a compra dos uniformes.
Um dos pontos levantados é que grande parte dos recursos previstos no edital teria origem em verbas destinadas à educação básica, o que levantaria dúvidas sobre o uso correto do dinheiro público.
Notificações
O promotor Paulo Destro determinou o envio de notificações ao gabinete e à assessoria jurídica da Secretaria de Educação, além da Controladoria-Geral do Estado. Os órgãos terão entre 10 e 30 dias para explicar os critérios da licitação e detalhar a origem dos recursos.
O inquérito vai analisar se houve desvio de finalidade ou quebra de regras da administração pública. A investigação também busca entender se o governo do estado pode ou não usar verbas educacionais para esse tipo de compra.
A licitação foi aberta para fornecer uniformes apenas às escolas que integram o Programa Escolar Cívico-Militar, criado em 2024.
O modelo, no entanto, ainda representa uma fração pequena da rede. O Ministério Público quer entender por que esse grupo foi priorizado e se houve algum tipo de favorecimento.
Após a análise das respostas dos órgãos notificados, o Ministério Público decidirá se vai entrar com ação na Justiça ou arquivar o inquérito.
Procurada pelo Portal iG, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo não se manifestou até a publicação desta reportagem. Caso se manifeste, a matéria será atualizada.