Irã é ”ameaça existencial”, diz militar de Israel ao iG

A cidade de Haifa, em Israel, após um ataque do IrãUnited Hatzalah

Quatro dias de um conflito para o qual Israel estava preparado há tempos. Parte do mundo se surpreendeu na última quinta-feira (12) quando o país liderado por Benjamin Netanyahu anunciou um ‘’ataque preventivo’’ ao Irã.  

As tensões envolvendo os países, no entanto, remontam ao final dos anos 70, quando os aiatolás tomaram o poder e instauraram um regime islâmico no Irã, rompendo as relações com Israel.

Desde então, o discurso de Teerã em relação aos israelenses se tornou cada vez mais beligerante. No ano passado, por exemplo, o aiatolá Ali Khamenei, líder-supremo do Irã, disse frases como ’’Israel não vai durar muito’’ e ‘’Os golpes tornar-se-ão mais fortes e dolorosos no corpo gasto e apodrecido do regime sionista’’

As ameaças do regime de Khamenei, portanto, não são uma novidade.

Então, o que levou à ação de Israel no Irã? 

Quem explica é o porta-voz do Exército de Israel, major Rafael Rozenszajn, que concedeu, neste domingo (15), entrevista ao Portal iG.

’O Irã teria a possibilidade de, em poucos dias, conseguir realizar o grande desejo de ter em suas mãos quinze bombas atômicas’’, relata. 

Rafael Rozenszajn, porta-voz das IDF em portuguêsArquivo pessoal

  A Agência Internacional de Energia Atômica, que pertence à ONU, havia aprovado, na mesma quinta-feira, uma resolução que acusava o Irã de não cumprir com as obrigações nucleares.

Foi a primeira vez que a agência aprovou um documento neste sentido em quase 20 anos. O governo iraniano costuma alegar que o enriquecimento de urânio no país é para fins energéticos. 

A ameaça representada pelo programa nuclear iraniano é apenas um dos motivos que fizeram Israel agir. 

’’O objetivo principal dessa guerra é desmantelar a ameaça imediata do Irã ao futuro existencial do Estado de Israel’’, diz o porta-voz. 

’O Irã tomou a decisão de triplicar a quantidade de mísseis balísticos […] em seu território. Mísseis balísticos são mísseis com alta precisão, alta velocidade e carregam uma quantidade enorme de explosivos. São mísseis que podem causar uma destruição enorme e a sua periculosidade pode até ser comparada a uma bomba nuclear’’, explica Rozenszajn.  

O papel do Irã em relação a grupos terroristas que atuam no Oriente Médio também motivou a ação israelense.

’O Irã financia, arma, dá informações e treina todos os grupos terroristas aqui: Hamas na Faixa de Gaza, Jihad Islâmica na Cisjordânia, o Hezbollah no Líbano e os houthis no Iêmen. Todos esses grupos terroristas são direcionados pelo pai do terrorismo no mundo, que é o Irã.’’ 

O programa nuclear, os mísseis e o apoio a grupos terroristas eram, portanto, as razões de Israel, que tinha pressa. 

”Esses três componentes fazem com que a ameaça do Irã seja uma ameaça existencial para Israel, uma ameaça imediata. Se Israel não agisse nesse momento, a consequência seria irreversível. A junção entre o desejo descontrolado de eliminar Israel do mapa, por um lado, e, por outro, a capacidade. Isso é a destruição de Israel. Então, nós não podíamos permitir que uma situação como essa acontecesse, e nenhum país do mundo que dá valor para sua população atuaria de uma forma diferente.’’ 

População acostumada e preparada 

Os mais de 9 milhões de habitantes de Israel estão acostumados a tomarem medidas para se proteger.

Assim que recebem alertas do governo, largam tudo e se dirigirem aos bunkers, abrigos desenhados especialmente para resistirem às mais variadas formas de ameaça.

O país conta com mais de 1,5 milhão dessas estruturas. Desde 1951, todos os imóveis de Israel são obrigados a ter algum tipo de abrigo, que pode assumir diferentes formas, seja um bunker ou um quarto seguro. 

Essa conduta da população é especialmente indicada em momentos como o atual, quando o país está sob ataque – e, principalmente, quando os civis são alvo das ofensivas. 

”Diferente de Israel, que é um Estado Democrático de Direito e atua de acordo com as normas internacionais e ataca somente alvos militares, o Irã visa alvos civis. São áreas residenciais em que esses mísseis explodiram. Inclusive, um desses mísseis caiu em uma mesquita, matando três árabes-israelenses’’, aponta o porta-voz. 

Desde quinta até este domingo, data da publicação desta reportagem, o Irã lançou mais de 300 mísseis contra o território israelense. Desses, segundo Rafael Rozenszajn, a maioria foi interceptada pelo sistema de defesa do país. 

”Nós conseguimos interceptar cerca de 90% dos mísseis que são lançados diretamente no nosso território e praticamente 100% dos aviões não tripulados que foram lançados.’’ 

Nos momentos finais da entrevista ao iG, o porta-voz avisou que havia acabado de receber um alerta de que um míssil foi lançado em direção a Israel e, para se proteger, teve que ir às pressas para um quarto antibomba.  

Luta por sobrevivência 

A trajetória do povo judeu é marcada pela tentativa de sobrevivência. Em outros momentos da história, a ameaça representada por programas nucleares de países vizinhos já teve que ser enfrentada, segundo relembra Rozenszajn: 

”Israel é o único país do mundo que teve a necessidade de atacar outros países para impedir que [eles alcançassem] armamentos nucleares. Essa foi a terceira vez que Israel teve que atacar outro país para [que não tivesse] bomba atômica. Em 1981 no Iraque, 2007 na Síria e agora no Irã, porque, infelizmente, o ódio a Israel é tão grande e maior do que amor que esses países têm ao seu próprio povo.’’ 

As Forças de Defesa de Israel foram formalizadas em 1948, logo após a criação do Estado israelense. Para o porta-voz, a importância das IDF (sigla em inglês) também é explicada pela história do povo judeu. 

’’Nós temos um Exército para defender o nosso povo, o que nós não tínhamos durante toda a história do povo judeu, quando fomos perseguidos, massacrados, quase exterminados. Nós fomos massacrados, principalmente, porque não tínhamos um Exército para nos defender. Nesse momento, nós temos um Exército para não permitir que regimes totalitários, regimes terroristas, que tenham ódio descontrolado contra o povo judeu e o Estado de Israel, possam colocar em prática esse ódio e concretizar o desejo de apagar Israel do mapa’’, explica. 

O que esperar para os próximos dias 

Na quinta-feira (12), momentos após o início da ofensiva de Israel no Irã, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu informou ao mundo que a operação duraria o tempo que fosse necessário.

Perguntado se haveria uma previsão de duração do conflito, o porta-voz reiterou o discurso do premiê. 

’’Nós vamos continuar as nossas operações até alcançar o objetivo dessa guerra. O Irã é um regime totalitário, um regime cruel. Nós acreditamos que o Irã vai continuar lançando seus mísseis em direção a zonas urbanas e residenciais aqui de Israel.’’ 

Sem previsão para o fim dos ataques e da rotina de procurar um abrigo ao menor sinal de perigo, a população israelense, de acordo com Rozenszajn, está ”bem resiliente, determinada e com paciência para que o Exército continue fazendo suas operações […] para que nós possamos continuar vivendo aqui no nosso país, no nosso Estado, de uma forma livre e garantir o futuro existencial de nosso país.’’ 

Guerra em Gaza 

Israel, neste momento, não tem apenas uma frente de batalha. Enquanto as atenções se voltam para o Irã, 53 das 251 pessoas que foram feitas reféns em 7 de outubro de 2023, quando o país sofreu o pior ataque de sua história, seguem em Gaza – entre eles, acredita-se que pelo menos 30 estão mortos.  

O ataque do grupo terrorista Hamas vitimou 1.195 pessoas – entre elas, três membros da emblemática Família Bibas: Shiri, Ariel e Kfir, que simbolizaram o luto do país. 

Há 617 dias, o governo se mobilizou para enfrentar o grupo terrorista e recuperar os reféns – mobilização essa, que, segundo o porta-voz Rafael Rozenszajn, não será prejudicada com a nova frente de batalha.

’Nós vamos continuar atuando em Gaza como se não existisse a guerra no Irã e vamos continuar atuando no Irã como se não existisse a guerra em Gaza. Cada frente tem um objetivo diferente e vamos continuar atuando para alcançar os objetivos no Irã e em Gaza, que são trazer de volta nossos reféns, desmantelar a capacidade militar e terrorista do Hamas, e a capacidade do Hamas de continuar governando a Faixa de Gaza.’’ 

Porta-voz no Brasil 

Desde 2023, as decisões tomadas por Israel para se defender foram alvo de críticas de parte da comunidade internacional, inclusive do Brasil. Na sexta-feira (13), um dia após o início da operação de Israel no Irã, o governo brasileiro, por meio do Itamaraty expressou ‘’firme condenação’’ a ‘’ofensiva aérea israelense lançada contra o Irã […] em clara violação à soberania desse país’’.

O Governo Federal estaria, inclusive, estudando formas de romper as relações diplomáticas com Israel, segundo a Agência Brasil.    Apesar das críticas, o Brasil não é um país avesso a Israel, segundo uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center e citada pelo porta-voz do Exército. 

”O Brasil é o país no qual a rejeição a Israel é a menor do mundo: somente 14% do povo brasileiro tem uma rejeição absoluta a Israel. 72% da população brasileira são pessoas que estão ou um pouco favoráveis a Israel ou um pouco desfavoráveis, ou seja, estão com a mente aberta, dispostas a escutar e a entender o que realmente acontece aqui no Oriente Médio. Por isso, é a primeira vez na história do Estado de Israel que o Exército tem um porta-voz que fala português.”

‘’A desinformação no Brasil é tão grande, as narrativas enganosas são imensas. Infelizmente, as informações chegam de uma forma totalmente deturpada. Então, o povo brasileiro tem a oportunidade de receber as informações oficiais do Exército de Israel, através de um porta-voz que fala português de forma direta’’, conclui. 

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