Importado de Portugal, elemento é um símbolo da identidade do Círio que tem diferentes usos e significados. Fitinhas usadas no Círio de Nazaré têm de vários tamanhos e cores e, sobretudo, significados.
Marcus Passos/ g1 Pará
Confeccionadas de diferentes cores e tamanho, as fitinhas do Círio de Nazaré simbolizam fé, devoção, esperança e oportunidade de negócio para milhares de pessoas, em Belém. Importado de Portugal, esse elemento característico do Círio traz muitos significados.
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Para a maranhense Maria dos Santos, de 48 anos, as fitas representam fé. Pela segunda vez participando do Círio, ela afirma que após amarrar as fitinhas o nó não deve ser desfeito do braço até que a fita arrebente ou o pedido se realize.
“É uma questão de fé mesmo e amarro também no carro por questão de proteção. Geralmente quando eu vou à igreja, eu sempre procuro adquirir para levar, além de uma lembrança, é um ato de fé”, diz.
Segundo o historiador e cientista da religião Márcio Neco, a ideia de amarrar as fitinhas no braço, fazer três pedidos e dar três nós é uma prática de piedade popular – ou seja, é uma expressão de devoção religiosa criada espontaneamente pela população.
“Os nós simbolizam uma forma de firmar esse grande propósito, que quase sempre é guardado em segredo pelo devoto. Existe também o costume de preservar a fitinha no braço até que a graça seja alcançada, como uma espécie de espera pelo cumprimento e perseverança na fé”, explica Márcio.
Círio 2022: fiéis amarram fitinhas do Círio em frente à Basílica de Nazaré
Nicksson Melo/ g1 Pará
Já para o vendedor Jorge Coelho, de 60 anos, as fitinhas representam rentabilidade. Ele afirma que apesar de conseguir vender o produto durante todo o ano, é no mês de outubro que as vendas aumentam.
“O pessoal vem aqui para comprar suas fitinhas, para poder decorar sua casa, seus cartazes, veículo, bicicleta, etc. Então, o produto que nós vendemos mais nessa época do Círio são as fitinhas. É o carro-chefe da nossa venda”, garante.
Márcio Neco diz que as fitinhas são atualmente um elemento que passou por um processo de sacralização popular e mercantilização, pois são usadas em dezenas de decorações como símbolo da identidade do Círio.
“A industrialização nos trouxe uma infinidade de cores, que por sinal dão uma identidade às procissões. Algumas pessoas criam toda uma legenda de significado de cores associadas aos mais diversos pedidos ou realidades”, explica.
Produção
Jorge Coelho é carioca, mas mora em Belém há 18 anos. O vendedor conta que começou a vender fitinhas há mais de 13 anos, após chegar à capital do Pará.
“Comecei a vender justamente aqui em Belém, porque eu me aposentei cedo, com 46 anos. Então pra não ficar parado, sem fazer nada, no ostracismo, comecei a vender”.
Vendedor Jorge Coelho trabalho com as fitinhas há mais de 10 anos.
Marcus Passos / g1 Pará
Ele diz que a ideia de vender as famosas fitinhas do Círio à frente da Basílica Santuário de Nazaré surgiu após apoio dos amigos.
“Comecei a confeccionar terços pros meus amigos. Aí o pessoal gostou e me deu a ideia de fabricar pra vender. Comecei a fazer, o pessoal gostou, fui fazendo até que o dia eu consegui me cadastrar aqui na igreja e estou aqui já há 13 anos, na porta da igreja”, lembra.
O vendedor afirma que todo o processo de fabricação e produção é feito em Belém. Ele diz que primeiro compra um rolo de fita de cetim, virgem e depois manda pintar com os dizeres do Círio de Nazaré. A etapa final é o corte das fitas.
Herança de Portugal
O historiador conta que as fitinhas usadas no Círio são uma tradição que vem de Portugal. Porém, nos primeiros Círios as fitas ficavam atreladas à imagem da Santa, que por sua vez vinha carregada no colo de uma autoridade da igreja.
“Essa autoridade ia sentada em uma liteira (espécie de cadeira, usada como meio de transporte, sustentada e erguida por outras pessoas) e não em uma berlinda. As fitas longas e grossas eram amarradas, fazendo com que o povo as levasse na mão”, detalha.
O tempo passou e hoje as fitinhas além de serem menores podem ser usadas de diferentes formas, como amarradas no braço ou em outras partes do corpo ou até amarradas em locais vistos como sagrados, como no portão da Basílica de Nazaré ou nas grades que cercam a praça.
Fitas da Basílica são retiradas para dar lugar a novos pedidos
“Existe hoje em dia inclusive uma paraliturgia feita pela igreja para retirar e incinerar essas fitinhas. As fitinhas são hoje um instrumento de fé, arte e comercialização”, destaca o historiador.
As fitas amarradas em frente ao portão são retiradas todos os anos para que a sejam incineradas. Em 2024, por exemplo, o momento da retirada contou com o auxílio dos integrantes da Guarda de Nazaré e teve a recitação do Santo Rosário.
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