Partido Liberal Democrático (PLD) perdeu a maioria nas eleições legislativas do país pela primeira vez desde 2009, segundo canal público NHK. Shigeru Ishiba, primeiro-ministro do Japão, em entrevista durante a divulgação dos resultados das eleições gerais do país
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A legenda que governa o Japão, o conservador Partido Liberal Democrático (PLD), perdeu no domingo a maioria nas eleições legislativas pela primeira vez desde 2009, segundo as projeções desta segunda-feira (28, data local) do canal público NHK, um duro revés para o novo primeiro-ministro Shigeru Ishiba.
As primeiras projeções do domingo, baseadas em pesquisas de boca de urna, davam ao PLD de Ishiba entre 153 e 219 cadeiras na Câmara dos Representantes.
A emissora pública NHK e outros veículos reportaram horas depois nesta segunda que o PLD, em seu pior resultado desde 2009, e seu sócio na coalizão, Komeito (centro-direita), não conseguiram obter os 233 assentos necessário para ter a maioria na Câmara, de um total de 465 cadeiras.
A NHK indicou que o PLD e o Komeito conseguiram 208 cadeiras. Embora ainda falte o resultado de outras 22 cadeiras, isso seria insuficiente para atingir a maioria necessária.
Imagens transmitidas da sede do PLD mostravam semblantes sombrios na medida em que surgiam projeções que indicavam que alguns ministros de Ishiba teriam perdido seus assentos.
Este resultado seria praticamente inédito na história do PLD, que conseguiu permanecer no poder durante quase todos os seus 69 anos de existência.
Discurso do LPD antes das eleições
Yuichi YAMAZAKI / AFP
Ishiba, ex-ministro da Defesa de 67 anos, assumiu o cargo e convocou eleições antecipadas no início do mês, depois de ser escolhido como novo líder do PLD.
Mas os eleitores da quarta maior economia do mundo estão insatisfeitos com a inflação e incomodados com o escândalo de financiamento do PLD, razões que contribuíram para derrubar a popularidade do ex-primeiro-ministro Fumio Kishida.
A taxa de participação às 18H00 (6H00 de Brasília), duas horas antes do fim da votação, era de 29%, levemente abaixo dos 31,6% registrados no mesmo horário nas eleições legislativas de 2021, segundo o Ministério do Interior.
‘Um novo Japão’
Durante a campanha, Ishiba prometeu construir um “novo Japão”, revitalizar as regiões rurais decadentes e solucionar a “emergência silenciosa” do declínio populacional do país com medidas voltadas às famílias, como promover o trabalho flexível.
Contudo, ele recuou em seu compromisso de permitir aos casais usar dois sobrenomes distintos e indicou apenas duas mulheres para seu gabinete.
Primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, durante evento em Tóquio em 12 de outubro de 2024.
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Ishiba prometeu não apoiar ativamente os candidatos envolvidos no escândalo, mas o jornal Asahi informou que o PLD pagou 20 milhões de ienes (131 mil dólares, 747 mil reais) às delegações locais lideradas por estes dirigentes, o que provocou indignação entre a oposição.
A imprensa local especulou que, em caso de derrota eleitoral, Ishiba poderia inclusive renunciar imediatamente, o que o transformaria no primeiro-ministro mais efêmero do Japão pós-guerra.
O recorde atual é de Naruhiko Higashikuni, que ficou 54 dias no cargo em 1945, pouco depois da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial.
Oposição dividida
O Partido Democrático Constitucional (PDC), principal força da oposição no Parlamento, aumentou consideravelmente sua presença no Parlamento, indicou nesta segunda-feira o canal NHK, ao conquistar 143 cadeiras.
Seu líder, o popular ex-primeiro-ministro Yoshihiko Noda, criticou no sábado “as políticas do PLD [que] consistem em implementar rapidamente medidas para aqueles que lhes dão muito dinheiro”.
“Mas aqueles que estão em posições vulneráveis, que não podem doar dinheiro, foram ignorados”, acrescentou o opositor.
Apesar das críticas, o cientista político Masato Kamikubo, da Universidade Ritsumeikan, assinala que a posição de Noda “é bastante similar à do PLD”. “É basicamente um conservador”, diz.
Por isso, “o PDC ou Noda podem ser uma alternativa ao PLD. Muitos eleitores pensam assim”, acrescentou.
Contudo, a chegada deste partido ao governo é igualmente “difícil, porque a oposição está muito dividida”, aponta o analista.
Os analistas projetam que, dependendo da magnitude, o revés eleitoral do PLD pode provocar pânico nos mercados financeiros, que não estão habituados com este tipo de cenário.