Equipe faz viagem de motorhome por estados decisivos para a eleição presidencial de 5 de novembro. Reportagens vão investigar o que seria, hoje, o sonho americano. O Sonho Americano: série especial do JN investiga o que motiva os eleitores nos EUA
Uma viagem para descobrir o que seria hoje o famoso “sonho americano”. Quais são os ideais que tocam os corações dos cidadãos nos Estados Unidos – e que vão ser decisivos na escolha que eles vão fazer nas urnas?
A expressão “sonho americano” é muito comum nos Estados Unidos. A gente ouve filmes, livros, na TV o tempo todo. É basicamente para definir uma terra de oportunidades, que se você trabalhar, você faz a sua vida. Mas o que se tem notado nos últimos anos, é que os americanos estão questionando muito esse conceito. Eles se perguntam: o sonho americano ainda existe?
Por isso, o Jornal Nacional escolheu fazer essa viagem de investigação a uma semana das eleições americanas, porque eles vão tomar uma decisão política importante para eles e para o mundo.
O motorhome do JN vai passar por seis estados do chamado Cinturão da Ferrugem. Esses estados são chamados assim porque lá, antigamente, havia muitas fábricas. Só que, com o passar do tempo, elas fecharam ou se mudaram para outros lugares. E aí, o pessoal dessa região está vivendo uma espécie de crise de esperança.
Você se lembra do frio na barriga que sentia ao descer de um escorregador? Para os alunos de uma escola, o recreio é um momento de muitas emoções. Mas não para todo mundo. O chão é feito de serragem. Algumas crianças não conseguem nem chegar perto de onde a ação acontece, quanto mais brincar. Sempre foi assim. Alguns ficam de fora. Parecia normal. Até que o Rhys olhou para a cena com outros olhos.
“Eles simplesmente ficavam sentados ali do lado. Era triste”, diz Rhys.
Betsy, a professora da turma da quinta série, acompanhou o momento.
“Meus alunos tiveram um momento eureka. Eles disseram: ‘Isso não está certo’”, conta.
Muitas das crianças em cadeiras de rodas têm dificuldades até para expressar o que sentem. O Felix se comunica através de um tablet em que digita as palavras. Mas ele é tímido com estranhos, e a mãe dele ajudou.
“É muito triste vê-lo separado dos outros. Ele já é separado de tantas formas”, lamenta a mãe.
“A gente decidiu fazer alguma coisa”, conta Rhys.
Só que eles não sabiam que seria tão difícil.
“A gente começou a pesquisar e viu que só um balanço custava US$ 150 mil”, lembra Betsy.
A escola não tinha dinheiro para isso.
“Eles fizeram uma lista de pessoas para ligar para pedir dinheiro. Lá tinha, por exemplo, ligar para o presidente. Eu mantive a boca fechada e disse: ‘Tentem’. Eles ouviram muito não”, conta Betsy.
Mas continuaram. Saíram de porta em porta batendo na vizinhança de Hopkins, no estado de Minnesota. E é nessa cidade que o Jornal Nacional começou nesta segunda-feira (28) uma viagem pelos Estados Unidos. Vamos percorrer estados-chave para as eleições americanas em 2024. O objetivo é chegar na terça-feira (5), dia da eleição, chegar até a capital, Washington.
Vamos conhecer os americanos de verdade, no momento em que escolhem quem será o próximo presidente. E, assim, entender do que é formado esse país hoje. Donald Trump ou Kamala Harris: qual deles representa mais hoje o sonho americano – se é que ele existe?
A primeira vez em que esse termo apareceu por escrito foi em 1931. O escritor James Adams definiu o sonho americano como:
“O sonho de uma terra em que a vida poderia ser melhor e mais rica para qualquer pessoa, com oportunidades para todos”.
Mas o que é esse sonho hoje? Essa investigação começou na feira estadual de Minnesota. Um dos melhores lugares para tomar um banho de gente. Uma demonstração de tudo o que há de melhor no coração dos Estados Unidos.
“Eu estou vivendo o sonho americano, que para mim é encontrar sua paixão e poder fazer isso todo dia”, afirma uma moradora.
Minnesota é um dos maiores produtores de laticínios do país.
“Para mim, é o sonho americano: você poder escolher se quer fazer manteiga, ou ser um piloto, ou esculpir manteiga”, diz um americano.
Em ano eleitoral, nem o concurso de arte feita com sementes escapa da questão: Kamala ou Trump? Afinal, nos Estados Unidos, todo mundo tem a liberdade de votar em quem quiser.
Quem aparece muito por lá também é o candidato a vice democrata, Tim Walz, que é, por acaso, governador do estado de Minnesota. Por isso, ganhou até barraquinha própria na feira gigante. A placa diz: “Nunca Walz!”. Na roleta, críticas de todos os tipos ao governador.
“Ele não é da minha inclinação política. Eu acho que é muito importante o direito de você manifestar sua opinião sem ter medo de repressão”, afirma um morador.
“Democracia é deixarem a gente votar em quem quiser. Se você quiser votar na Kamala e no Tim Walz o problema é seu, mas você é burro”, diz uma moradora.
“Eu sou de uma era em que a gente respeita uma regra: se você perdeu, você perdeu. Se você ganhou, todos os louros”, afirma um outro morador.
A transição pacífica de poder é quase um milagre da democracia americana. Desde 1801, um presidente passava a faixa para o outro de boa. Em 2020, pela primeira vez, o candidato derrotado não reconheceu a derrota e pediu para que seus apoiadores não deixassem o vencedor assumir. Foi um dos pontos mais baixos da história da democracia americana. 81% dos americanos acreditam hoje que a democracia esteja ameaçada – um recorde. Mas na feira de Minnesota, todos a defendem.
“A democracia é um bom jeito de alcançarmos nossos objetivos e trabalharmos juntos”, afirma um morador.
“A gente vê ali o pessoal que é contra o Tim Walz, mas você não vê brigas e todos estão comendo da mesma comida”, diz uma moradora.
“Nosso sistema é um trabalho em andamento. Tem que melhorar, mas é um bom modelo”, afirma opina um morador.
O documento fundador dos Estados Unidos é de 1788 e começa dizendo: “We the people,” ou “Nós, o povo”. É a Constituição que deixa, logo de cara, claro que o poder vem do povo unido. No começo, esse “povo unido” eram só os homens brancos. Mas depois, cada vez mais gente foi entendendo que a democracia de verdade depende de considerar todas as vozes. E houve revoltas de todos os tipos para incluir mais gente na famosa frase “nós, o povo”.
A mais recente começou mesmo em Minnesota, quando George Floyd foi brutalmente assassinado por um policial. Depois disso, começou e se espalhou por todo o país um movimento que dizia que as vidas negras importam.
Esse fortalecimento da democracia vem da liderança de gente com sensibilidade, que entende que, trabalhando junto, o povo é mais forte. Não importa a idade.
“Foi tudo muito pessoal para mim, porque eu sabia que estava fazendo para crianças como meu irmão”, afirma Rhys.
Foi por isso que o Rhys começou a mobilizar a turma na escola em Minnesota. Foram de porta em porta, os “nãos”, aos poucos, se transformaram em “sins.” Eles venderam doces, organizaram eventos, chamaram atenção… E, um dia, o primeiro grande cheque chegou. Depois mais um e mais outro.
“Eu me lembro muito bem. Eles levantaram e começaram a dançar, a gritar. Mas eu acho que o que os inspirou a continuar foi que eles entenderam que a voz de cada um importa”, conta Betsy.
Com todas as vozes juntas, por um bem comum, o cofrinho explodiu. E juntaram, juntos, quase US$ 1 milhão. E o sonho de uma turma unida, sem barreiras, se materializou. No dia da abertura, o Felix foi correndo até uma lojinha de faz-de-conta e saiu pelas estradas que foram feitas só para ele. E aí ele até falou com a equipe do Jornal Nacional. Disse que essas estradas são a coisa que ele mais gostou. E todo mundo pôde brincar no balanço e girar juntos.
É difícil para a professora Betsy não se comover porque ela é mãe do Luke, que também não podia brincar.
“Isso tudo me ensinou que, de verdade, não importa seu gênero ou sua raça, etnia ou religião. Todas as pessoas têm uma voz que conta”, diz Betsy.
Foi também o primeiro dia que o Felix usou uma palavra grande que surpreendeu até seus pais:
“Meu parque é extraordinário”.
Em torno de um bem comum, esses jovens se organizaram para dar a chance para todo mundo ser o que quiser. Por isso, o capítulo um do sonho americano não é ficar rico. O capítulo um do sonho americano é a democracia.
O SONHO AMERICANO
Crianças arrecadam US$ 1 milhão para construir parquinho e incluir alunos com deficiência em escola dos EUA: ‘Sonho americano’
‘Cheeseheads’: Como o queijo virou símbolo de Wisconsin e o que isso revela sobre a economia atual dos EUA
Uma viagem para descobrir o que seria hoje o famoso “sonho americano”. Quais são os ideais que tocam os corações dos cidadãos nos Estados Unidos – e que vão ser decisivos na escolha que eles vão fazer nas urnas?
A expressão “sonho americano” é muito comum nos Estados Unidos. A gente ouve filmes, livros, na TV o tempo todo. É basicamente para definir uma terra de oportunidades, que se você trabalhar, você faz a sua vida. Mas o que se tem notado nos últimos anos, é que os americanos estão questionando muito esse conceito. Eles se perguntam: o sonho americano ainda existe?
Por isso, o Jornal Nacional escolheu fazer essa viagem de investigação a uma semana das eleições americanas, porque eles vão tomar uma decisão política importante para eles e para o mundo.
O motorhome do JN vai passar por seis estados do chamado Cinturão da Ferrugem. Esses estados são chamados assim porque lá, antigamente, havia muitas fábricas. Só que, com o passar do tempo, elas fecharam ou se mudaram para outros lugares. E aí, o pessoal dessa região está vivendo uma espécie de crise de esperança.
Você se lembra do frio na barriga que sentia ao descer de um escorregador? Para os alunos de uma escola, o recreio é um momento de muitas emoções. Mas não para todo mundo. O chão é feito de serragem. Algumas crianças não conseguem nem chegar perto de onde a ação acontece, quanto mais brincar. Sempre foi assim. Alguns ficam de fora. Parecia normal. Até que o Rhys olhou para a cena com outros olhos.
“Eles simplesmente ficavam sentados ali do lado. Era triste”, diz Rhys.
Betsy, a professora da turma da quinta série, acompanhou o momento.
“Meus alunos tiveram um momento eureka. Eles disseram: ‘Isso não está certo’”, conta.
Muitas das crianças em cadeiras de rodas têm dificuldades até para expressar o que sentem. O Felix se comunica através de um tablet em que digita as palavras. Mas ele é tímido com estranhos, e a mãe dele ajudou.
“É muito triste vê-lo separado dos outros. Ele já é separado de tantas formas”, lamenta a mãe.
“A gente decidiu fazer alguma coisa”, conta Rhys.
Só que eles não sabiam que seria tão difícil.
“A gente começou a pesquisar e viu que só um balanço custava US$ 150 mil”, lembra Betsy.
A escola não tinha dinheiro para isso.
“Eles fizeram uma lista de pessoas para ligar para pedir dinheiro. Lá tinha, por exemplo, ligar para o presidente. Eu mantive a boca fechada e disse: ‘Tentem’. Eles ouviram muito não”, conta Betsy.
Mas continuaram. Saíram de porta em porta batendo na vizinhança de Hopkins, no estado de Minnesota. E é nessa cidade que o Jornal Nacional começou nesta segunda-feira (28) uma viagem pelos Estados Unidos. Vamos percorrer estados-chave para as eleições americanas em 2024. O objetivo é chegar na terça-feira (5), dia da eleição, chegar até a capital, Washington.
Vamos conhecer os americanos de verdade, no momento em que escolhem quem será o próximo presidente. E, assim, entender do que é formado esse país hoje. Donald Trump ou Kamala Harris: qual deles representa mais hoje o sonho americano – se é que ele existe?
A primeira vez em que esse termo apareceu por escrito foi em 1931. O escritor James Adams definiu o sonho americano como:
“O sonho de uma terra em que a vida poderia ser melhor e mais rica para qualquer pessoa, com oportunidades para todos”.
Mas o que é esse sonho hoje? Essa investigação começou na feira estadual de Minnesota. Um dos melhores lugares para tomar um banho de gente. Uma demonstração de tudo o que há de melhor no coração dos Estados Unidos.
“Eu estou vivendo o sonho americano, que para mim é encontrar sua paixão e poder fazer isso todo dia”, afirma uma moradora.
Minnesota é um dos maiores produtores de laticínios do país.
“Para mim, é o sonho americano: você poder escolher se quer fazer manteiga, ou ser um piloto, ou esculpir manteiga”, diz um americano.
Em ano eleitoral, nem o concurso de arte feita com sementes escapa da questão: Kamala ou Trump? Afinal, nos Estados Unidos, todo mundo tem a liberdade de votar em quem quiser.
Quem aparece muito por lá também é o candidato a vice democrata, Tim Walz, que é, por acaso, governador do estado de Minnesota. Por isso, ganhou até barraquinha própria na feira gigante. A placa diz: “Nunca Walz!”. Na roleta, críticas de todos os tipos ao governador.
“Ele não é da minha inclinação política. Eu acho que é muito importante o direito de você manifestar sua opinião sem ter medo de repressão”, afirma um morador.
“Democracia é deixarem a gente votar em quem quiser. Se você quiser votar na Kamala e no Tim Walz o problema é seu, mas você é burro”, diz uma moradora.
“Eu sou de uma era em que a gente respeita uma regra: se você perdeu, você perdeu. Se você ganhou, todos os louros”, afirma um outro morador.
A transição pacífica de poder é quase um milagre da democracia americana. Desde 1801, um presidente passava a faixa para o outro de boa. Em 2020, pela primeira vez, o candidato derrotado não reconheceu a derrota e pediu para que seus apoiadores não deixassem o vencedor assumir. Foi um dos pontos mais baixos da história da democracia americana. 81% dos americanos acreditam hoje que a democracia esteja ameaçada – um recorde. Mas na feira de Minnesota, todos a defendem.
“A democracia é um bom jeito de alcançarmos nossos objetivos e trabalharmos juntos”, afirma um morador.
“A gente vê ali o pessoal que é contra o Tim Walz, mas você não vê brigas e todos estão comendo da mesma comida”, diz uma moradora.
“Nosso sistema é um trabalho em andamento. Tem que melhorar, mas é um bom modelo”, afirma opina um morador.
O documento fundador dos Estados Unidos é de 1788 e começa dizendo: “We the people,” ou “Nós, o povo”. É a Constituição que deixa, logo de cara, claro que o poder vem do povo unido. No começo, esse “povo unido” eram só os homens brancos. Mas depois, cada vez mais gente foi entendendo que a democracia de verdade depende de considerar todas as vozes. E houve revoltas de todos os tipos para incluir mais gente na famosa frase “nós, o povo”.
A mais recente começou mesmo em Minnesota, quando George Floyd foi brutalmente assassinado por um policial. Depois disso, começou e se espalhou por todo o país um movimento que dizia que as vidas negras importam.
Esse fortalecimento da democracia vem da liderança de gente com sensibilidade, que entende que, trabalhando junto, o povo é mais forte. Não importa a idade.
“Foi tudo muito pessoal para mim, porque eu sabia que estava fazendo para crianças como meu irmão”, afirma Rhys.
Foi por isso que o Rhys começou a mobilizar a turma na escola em Minnesota. Foram de porta em porta, os “nãos”, aos poucos, se transformaram em “sins.” Eles venderam doces, organizaram eventos, chamaram atenção… E, um dia, o primeiro grande cheque chegou. Depois mais um e mais outro.
“Eu me lembro muito bem. Eles levantaram e começaram a dançar, a gritar. Mas eu acho que o que os inspirou a continuar foi que eles entenderam que a voz de cada um importa”, conta Betsy.
Com todas as vozes juntas, por um bem comum, o cofrinho explodiu. E juntaram, juntos, quase US$ 1 milhão. E o sonho de uma turma unida, sem barreiras, se materializou. No dia da abertura, o Felix foi correndo até uma lojinha de faz-de-conta e saiu pelas estradas que foram feitas só para ele. E aí ele até falou com a equipe do Jornal Nacional. Disse que essas estradas são a coisa que ele mais gostou. E todo mundo pôde brincar no balanço e girar juntos.
É difícil para a professora Betsy não se comover porque ela é mãe do Luke, que também não podia brincar.
“Isso tudo me ensinou que, de verdade, não importa seu gênero ou sua raça, etnia ou religião. Todas as pessoas têm uma voz que conta”, diz Betsy.
Foi também o primeiro dia que o Felix usou uma palavra grande que surpreendeu até seus pais:
“Meu parque é extraordinário”.
Em torno de um bem comum, esses jovens se organizaram para dar a chance para todo mundo ser o que quiser. Por isso, o capítulo um do sonho americano não é ficar rico. O capítulo um do sonho americano é a democracia.
O SONHO AMERICANO
Crianças arrecadam US$ 1 milhão para construir parquinho e incluir alunos com deficiência em escola dos EUA: ‘Sonho americano’
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