Censo do IBGE: ‘Entrar na estatística é ser reconhecida por um país que fomos protagonistas na criação’, diz líder quilombola no PA

Primeira titulação de terra quilombola no Brasil ocorreu Pará, em 20 de novembro de 1995. O estado também tem a maior quantidade de territórios quilombolas oficialmente delimitados. População quilombola entrevistada para o Censo do IBGE.
Lícia Rubinstein/IBGE
Os dados do Censo 2022 do IBGE divulgados nesta quinta-feira (27) revelaram que o Pará tem a quarta maior população quilombola do país, com 135.033 pessoas. Para Valéria Carneiro, da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), é um momento de importância e reconhecimento.
“Entrar na estatística do IBGE é ser, minimamente, reconhecida por um país que nós fomos protagonistas na sua criação”, afirma.
Segundo Valéria, os povos quilombolas já sofreram muitas negações de direitos por não saberem estatisticamente quanto eram.
“É um momento que a gente consegue se enxergar dentro da estatística do país, como comunidades e territórios quilombolas, como uma população gigantesca do país”, diz.
Os dados são inéditos, pois é a primeira vez que o IBGE incluiu em seus questionários perguntas para identificar pessoas que se autodenominam quilombolas.
Das 135.033 pessoas, 44.533 vivem em territórios quilombolas e 90.500 vivem fora desses territórios.
O Pará é o estado com maior quantidade de Territórios Quilombolas oficialmente delimitados: são 87. Estes territórios reúnem uma população de 44.533 quilombolas. Para o IBGE, territórios oficialmente delimitados são áreas que já têm algum reconhecimento por parte do poder público, porém estão na primeira fase do processo de titulação.
A primeira titulação de terra quilombola no Brasil ocorreu Pará, em 20 de novembro de 1995, na Terra Quilombola Boa Vista, de Oriximiná.
A coordenadora da Conaq diz que os dados divulgados vão ajudar na efetivação das políticas públicas voltadas para a população quilombola no Pará.
“Antes eu me sentia inviabilizada. Me lembro do Censo de 2010. Quando fui entrevistada na minha casa não tinha a categoria quilombola. Eu não me enxergava”, relembra.
Valéria Carneiro também é coordenadora de igualdade de gênero da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu).
Valéria Carneiro, representante da Conaq.
Marcus Passos/g1 Pará
De acordo com ela, fazer com que a população quilombola entrasse no Censo 2022 foi uma luta constante.
“Tentamos encontrar uma maneira de como se inserir dentro desse levantamento. De fato ter um reconhecimento. Foi uma luta constante. Sou mulher preta, sou mãe. Tenho essa necessidade de me enxergar nas políticas pensadas para a minha população”, destaca.
Censo 2022
O estado também tem a quarta maior população quilombola do país, com 135.033 pessoas, atrás de Minas Gerais, com 135.310; Maranhão, com 269.074 e Bahia, com 397.059.
Proporcionalmente, o Pará também está na quarta posição, com 1,66% da população declarada quilombola, ficando atrás do Amapá, com 1,71%; Bahia, com 2,81%, e Maranhão, com 3,97%.
Território Alto Itacuruçá, Baixo Itacuruçá, Bom Remédio, em Abaetetuba, no Pará, tem a segunda maior população quilombolas no Brasil.
Reprodução / IBGE
Em Belém são 1.361 quilombolas, representando 0,1% da população do município.
O Pará tem ainda o segundo território com maior quantitativo de população quilombola do país. Em Abaetetuba, o Território Alto Itacuruçá, Baixo Itacuruçá, Bom Remédio, são 5.638 pessoas quilombolas.
O município de Abaetetuba também abriga a maior população de quilombolas no estado, seguido de Baião e Cametá. A nível nacional, Abaetetuba é o quinto município com maior população; e Baião fica na sétima posição.
Quem são os quilombolas?
Historicamente, os quilombos eram espaços de liberdade e resistência onde viviam comunidades de pessoas escravizadas fugitivas entre os séculos XVI e XIX.
Uma pessoa que se autodetermina quilombola tem, portanto, laços históricos e ancestrais de resistência com a comunidade e com a terra em que vive.
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