Marina diz que não é momento de ‘atitudes erráticas’ e cobra fim de emissões por combustíveis fósseis

Governo e ambientalistas travam disputa por tentativa de explorar petróleo na foz do Amazonas. Autoridades estão em Belém para cúpula sobre o bioma, que começa nesta terça. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou nesta segunda-feira (7) que o momento não é de “atitudes erráticas” em relação à Amazônia – e cobrou que as decisões sobre o bioma sejam baseadas em evidências.
“Qualquer atitude que não considere o que a ciência está dizendo pode cometer erros que são irreversíveis e com grande prejuízo”, afirmou Marina ao lado do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
Os ministros falaram à imprensa antes de uma reunião com seus homólogos (ministros das mesmas áreas) dos outros oito países amazônicos.
“Mesmo que consigamos reduzir desmatamento em 100%, se o mundo não parar com emissões por combustível fóssil, nós vamos prejudicar a Amazônia de igual forma”, disse Marina.
“Não se trabalha com imposição de pensamento, se trabalha com consenso progressivo”, disse.
Petróleo na foz do Amazonas
As declarações de Marina acontecem em meio à pressão, encampada por setores do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para que o Ibama autorize a Petrobras a pesquisar a viabilidade de explorar petróleo na região da foz do Rio Amazonas.
Em maio, o Ibama negou licença para a Petrobras perfurar poço de petróleo na região, no Amapá. O instituto apontou falhas sobre segurança ambiental na solicitação da estatal.
Dias depois, a Petrobras apresentou um novo pedido, que está sob análise. Ambientalistas criticam a exploração diante da possibilidade de impactos ambientais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em entrevista, na semana passada, que a Petrobras vai ter “todo o cuidado”, mas pode “continuar sonhando” com essa exploração.
Na entrevista desta segunda, Marina Silva voltou a afirmar que não há meios para prescindir do uso do petróleo – o que não impede a busca por energias mais limpas.
“Mas não devemos ficar acomodados com essa equação. A China hoje já é o maior exportador de tecnologia para transição ecológica”, afirmou. “No caso de países como o nosso, que temos geração de energia limpa, é investir nessa matriz energética limpa e segura.”
Reunião em Belém
Marina Silva afirmou que os 14 anos de ausência de reuniões de presidentes da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) agravaram a situação na região. O último encontro de chefes de estado foi em 2009, em Manaus.
Ela reforçou que os países devem se comprometer a não atingir o ponto de não retorno da Amazônia.
Lula e os presidentes dos demais países amazônicos participam da Cúpula da Amazônia a partir desta terça (8), em Belém. Após o encontro, os chefes de estado assinarão a Declaração de Belém, uma carta com compromissos que devem ser assumidos pelos países.
Chanceler brasileiro, Mauro Vieira falou que a declaração foi negociada em pouco mais de um mês, “tempo recorde”.
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Embate sobre petróleo
Durante o evento Diálogos Amazônicos, que precedeu a cúpula, a ministra do meio ambiente da Colômbia, Susana Muhamad, reforçou o posicionamento do presidente Gustavo Petro ao pedir o fim do uso “amplo e progressivo” de petróleo na região da floresta.
Ela afirmou ser paradoxal a aprovação de mais exploração de petróleo na região em meio à crise climática. Entretanto, disse não acreditar em um acordo definitivo no momento diante da falta de entendimento entre os países – o que inclui o Brasil.
A ministra Marina Silva afirmou que um possível acordo demanda convencimento e que nenhum presidente vai querer impor posições sobre os outros.
‘Podem continuar sonhando’, diz Lula sobre exploração de petróleo na foz do Amazonas

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