A arte dos abridores de letras do Pará é tema de debate na Semana Criativa de Tiradentes, em Minas Gerais, e posiciona a cultura ribeirinha na vitrine nacional do design.
Arte gráfica popular da Amazônia é tema de evento em Minas Gerais
Letras Q Flutuam
A cultura popular da Amazônia é destaque na programação da Semana Criativa de Tiradentes, que acontece até dia 20 em Minas Gerais, e reúne diversos artistas, especialistas em decoração e designers de todo o país. O mestre José Raimundo “Biduia” é convidado da programação e vai falar sobre a arte dos abridores de letras, saber tradicional que colore os rios da Amazônia e demonstra a autenticidade das letras decorativas ribeirinhas.
Há 30 anos, José Raimundo “Biduia” cria letras multicoloridas e paisagens que ocupam a proa das embarcações e murais das regiões ribeirinhas. Um ofício que aprendeu ainda garoto, aos 13 anos, em Igarapé-Miri, nordeste do Pará.
O abridor de letras José Raimundo “Biduia”, de Igarapé-Miri, nordeste do Pará.
Sâmia Batista/ILQF
No bate-papo “Letras de barco e arte mural: como o cotidiano amazônico inspira o uso da cor”, “Biduia” vai falar sobre seu trabalho como abridor de letras em um encontro ao lado de Érica Saraiva, arquiteta e artista visual especializada em grandes murais. Em comum, eles têm o Pará, as cores e a arte.
“É a primeira vez que saio do Pará e a minha expectativa é a melhor possível. Vou mostrar a nossa arte em Tiradentes. É muito importante porque é uma forma de apresentar o nosso trabalho, a nossa cultura, a nossa arte ribeirinha. A gente precisa de mais visibilidade no mundo das artes. E o Instituto nos ajuda a mostrar para o Pará, para o Brasil e até mesmo para o mundo essa arte que é tão valiosa e tão diversa. São oportunidades para gente expor nossa obra e estamos muito felizes porque tem uma importância gigantesca em nossa profissão”, celebra o mestre.
A Semana Criativa de Tiradentes é um projeto cultural e social, que acontece em Tiradentes, MG, com o objetivo de divulgar e valorizar saberes de tradição, evitando que se percam e levem consigo a nossa história. O projeto é realizado pela jornalista Simone Quintas e pelo produtor cultural Júnior Guimarães.
Uma das curadoras da programação, a jornalista paraense Trisha Guimarães fala da importância de posicionar a arte popular ribeirinha na vitrine nacional do designer e da cultura. “É importantíssimo ter um mestre da nossa cultura no debate, trazendo esse contexto, porque o público é majoritariamente de outras regiões do país. Então será uma rica experiência para falar sobre as realidades da Amazônia”, diz.
Fernanda Martins pesquisa a arte gráfica dos abridores de letras há 15 anos
ILQF/Divulgação
“Biduia” é convidado da Casa Pará, espaço que integra a Semana Criativa de Tiradentes. Fernanda Martins, criadora e presidente do Instituto Letras que Flutuam também participa da programação, e ministra palestra no Centro Yves Alves, onde serão exibidos dois documentários sobre os abridores de letras da Amazônia paraense.
O Instituto é resultado de 15 anos de pesquisa, documentação, divulgação e geração de renda, junto aos abridores de letras no Pará. Fernanda Martins, idealizadora e diretora do Instituto, destaca que a cultura visual, e dentro dela a representação gráfica, tem tanta importância para a Amazônia quanto a música, a dança, a comida, pois reflete saberes que são exclusivamente locais. É a linguagem comum aos ribeirinhos, comunidades amazônicas que traduzem nos seus modos de fazer a verdade do povo amazônico.
“O homem amazônico que vive na beira, vive um mundo que a natureza impõe o verde, marrom e azul, e para se sobrepor a este regime, ao fazer cultura ele traz o colorido, o caqueado, seja nas suas casas, que têm paredes multicoloridas, seja nas roupas e nos barcos”, diz Fernanda, pesquisadora nas áreas de Tipografia e História do Design, em especial na Amazônia, com formação acadêmica na Universidade do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Pará, Universidade de São Paulo e Escola de Design de Basel, na Suíça.
Serviço: Confira aqui a programação da Semana Criativa de Tirantes e da Casa Pará. Clique aqui para conferir informações a respeito do Instituto Letras que Flutuam e dos abridores de letras do Pará.
Arte ribeirinha da Amazônia é destaque em programação nacional de design e cultura
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