Ovinocultura: um pilar sustentável e inclusivo na economia rural catarinense

Desenvolvimento rural, tradição e inovação transformam a ovinocultura catarinense em motor econômico e social – Foto: Divulgação
A ovinocultura é uma atividade em crescimento no estado. A produção de ovelhas gera, além da carne, o leite, o queijo e muitas delícias que vão para a mesa do consumidor. Inclusive, da ovelha também vem a lã do vestuário e, em Florianópolis, há um projeto que tem os animais como protagonistas.
O pequeno rebanho da  Universidade Federal de Santa Catarina oferece possibilidade de estudo para os acadêmicos da instituição e muitos projetos sociais. A lã dos animais, por exemplo, é 100% orgânica e, segundo Patrizia Bricarello, veterinária e professora do Centro de Ciências Agrárias da UFSC, explica que o documento tem uma legislação muito estudada e desenvolvida no Brasil.
A certificação promove o uso de produtos naturais, porém segue as mesmas legislações sanitárias brasileiras. Os animais que devem ser criados soltos também devem comer alimentos frescos, ter a capacidade de expressar todos os comportamentos naturais para a espécie, como é a vida de um ruminante.
A lã extraída das ovelhas é destinada a um projeto de pesquisa da Universidade chamado ovelhas azuis. São lãs que têm mais valor de mercado – as peças criadas a partir delas podem ficar em contato com a pele sem coçar ou gerar alergia.
Como ela é muito branca, pode receber pigmentos de diversas cores. Inclusive, o projeto tem o nome de Ovelhas Azuis porque o trabalho que envolve a coloração da lã vem de um pigmento extraído de uma planta, chamado índigo blue.
A planta indigofera suffruticosa está sendo estudada pelo núcleo de pesquisa e é graças a ela que os estudantes conseguem fazer uma fermentação e extrair a cor azul, uma das cores mais antigas do mundo.
Beleza nas cores, na forma diferenciada de criar os animais e na relação entre pesquisadores e comunidade. Toda lã que vem da tosquia das ovelhas é lavada de forma manual pela equipe do projeto. Depois ela é colocada ao sol para secar e é aberta para que ocorra uma etapa muito importante, o cardar.
O Instituto Compassos atende pessoas com deficiência e mulheres em situação de vulnerabilidade social e, é por meio dele, que a lã do Ovelhas Azuis é cardada.
O processo consiste em escovar de pouco em pouco a lã para esticar as fibras e, a partir da filtragem, fazer com que elas se entrelacem e a lã vá tomando forma, originando peças únicas, artesanais e cheias de história. O que começa com ovelhas felizes no campo resulta na alegria de quem passa pelo Instituto é capacitação, autonomia e valorização das pessoas.
Oportunidade a partir dos derivados
A criação de ovelhas movimenta a economia em vários sentidos: na cidade gera oportunidades de negócios com a venda de produtos derivados do leite e, no campo, representa novas alternativas de renda com a produção de queijos premiados.
Sabia que além de queijos também existem licores feitos à base de doce de leite de ovelha? E não só isso: também tem creme de doce de leite tradicional e de doce de ovelha com pistache.
Desenvolvimento rural, tradição e inovação transformam a ovinocultura catarinense em motor econômico e social – Foto: Divulgação
E por falar em queijos de ovelha, Michelle Carvalho, pesquisadora formada em Ciência e Tecnologia de Laticínios, responsável pela criação de uma lei estadual que regulamenta a produção de queijo de leite cru em Santa Catarina, conta que o iniciar o trabalho junto com os produtores de queijo artesanal, a maior reclamação era de que as legislações existentes não contemplavam sua realidade, pois eram usadas normas industriais em pequenos estabelecimentos.
As exigências muitas vezes eram impossíveis de serem cumpridas. Para entender melhor a situação, foi necessário ir a campo, conversar com os produtores e perguntar por que não havia inspeção dos produtos. Após ouvir os relatos, o estudo foi publicado em uma revista científica. Mais tarde, surgiu a oportunidade de colaborar com os próprios produtores na redação da Lei do Queijo Artesanal.
Graças ao trabalho da pesquisadora, hoje os queijos de leite cru puderam ser regularizados e vendidos ao mercado – bom para quem produz e para quem pode experimentar produtos de qualidade única, como o queijo artesanal de ovelha.
Em Petrolândia, no Alto Vale do Itajaí, também tem se destacado por conta dos queijos de ovelha. A rotina no campo começa cedo, e às 7h30 o queijo já está quase pronto, fruto do trabalho conjunto de Rosângela Erahardt e seu filho, Cauê. Neste dia, eles estão focados na produção do queijo colonial, uma receita exclusiva desenvolvida por Rosângela, proprietária da queijaria. Além disso, a propriedade também é conhecida pelo queijo perimbó, uma variação do queijo azul.
O sucesso do empreendimento tem sido construído com o apoio de parceiros essenciais, como a Epagri, que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do negócio de Rosângela.
” – Os novos rurais, que não são filhos de agricultores tradicionais, acabam procurando a Epagri para obter apoio técnico e acesso ao crédito. Eles nos procuraram e a gente sabia dessa linha do Governo do Estado que financia, na época era R$ 40 mil e, através desse financiamento, a gente conseguiu fazer a construção da agroindústria para que eles pudessem produzir de maneira legal, correta e segura” – explica Tomás Pereira, engenheiro agrônomo da Epagri.
Desde 2017 fazendo queijos, os resultados têm aparecido cada vez mais. A Rouwstik foi a primeira queijaria do país a receber o Selo Artesanal do Brasil para queijos feitos de leite cru de ovelha e coleciona ao todo oito medalhas no Prêmio Queijo Brasil – sendo o queijo perimbó o mais vendido.
Melhoramento genético e Turismo Rural
O rebanho de ovinos de Santa Catarina ocupa a 11ª colocação no cenário nacional, com cerca de 348 mil cabeças. O investimento nessa atividade tem diversificado as atividades no campo, principalmente entre a agricultura familiar, gerando impacto desde o melhoramento genético até o Turismo Rural.
E nem só de pecuária leiteira para a produção de queijos vive a ovinocultura catarinense. Tem produtor buscando diferenciais competitivos para atender o mercado, como o melhoramento genético – foco de uma propriedade em Rancho Queimado.
O trabalho, que começou em 2021, deve alcançar em cinco anos a linhagem de animais puros de origem. A criação do rebanho começou em 2008 e, com o passar do tempo, o produtor Guilherme Raduenz começou a fazer a seleção de ovelhas.
Atualmente, a criação está na segunda geração de animais puros, obtidos por cruzamento. A expectativa é que, em quatro ou cinco anos, esses animais atinjam a pureza de origem desejada. Com isso, planeja-se comercializar ovelhas com genética certificada, atendendo a um mercado que valoriza fêmeas e reprodutores de alta qualidade e maior valor. Tudo isso é feito com atenção especial aos cuidados necessários para o bem-estar dos animais.
Outra atividade realizada por Guilherme é a produção de pelegos – uma forma de garantir renda extra e a continuidade de um saber artesanal, que tem diminuído com os anos.
O rebanho de ovinos de Santa Catarina ocupa a 11ª colocação no cenário nacional, com cerca de 348 mil cabeças – Foto: Divulgação
A visão de complementar a renda e explorar novas atividades também é uma realidade na propriedade do técnico agrícola Rubens Schmitz. É ele quem trata as ovelhas que produzem o leite usado em queijos, além de ser o responsável por receber os turistas que desejam ter uma experiência rural no lugar.
A ideia de diversificar a área de atuação tem sido a aposta de muitas famílias do campo e foi justamente isso que impulsionou os negócios de muitas. O que começou com um café colonial foi aos poucos ganhando mais atrativos.
A família Käufer começou a oferecer aos visitantes a possibilidade de colher morango diretamente do pé e a produzir o próprio queijo de ovelha. Os animais se tornaram um diferencial para quem visita o café, oferecendo derivados do seu leite – do queijo ao doce.
Para saber mais sobre a produção de ovelhas no estado, aproveite e assista na íntegra ao episódio do programa Agro, Saúde e Cooperação. O projeto, desenvolvido pelo Grupo ND, tem parceria com a Ocesc, Aurora, SindArroz Santa Catarina, Sicoob e Fecoagro.

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