Realizado com sucesso, o transplante fortalece vínculo entre a doadora e o receptor e serve como exemplo de solidariedade em família. Genro e sogra, após transplante.
Bruno Cecim / Ag.Pará
Aparecida Rodrigues, de 62 anos, doou um dos seus rins para o genro, Benício Brito, de 40 anos, no Hospital Ophir Loyola (HOL), em Belém. A ação foi divulgada no domingo (16) e foi um feito inédito na unidade.
Compartilhe esta notícia no WhatsApp
Compartilhe esta notícia no Telegram
Desde 1999, quando realizou o primeiro transplante com doador vivo, histórias emocionantes de transplantados do HOL não são uma raridade. Contudo, pela primeira vez, segundo o hospital, o centro transplantador realizou um procedimento em que os protagonistas são sogra e genro.
Agricultora aposentada, Aparecida veio da cidade de Novo Repartimento, no sudoeste do estado, para realizar a doação de um rim para o genro dela, o analista de Tecnologia da Informação Benicio. Ele perdeu a função renal devido à glomerulonefrite, doença que, de acordo com o HOL, provoca a inflamação de uma região do rim, conhecida como glomérulo.
Ato de amor
Benício e Aparecida no hospital, após sucesso no transplante.
Bruno Cecim / Ag. Pará
Aparecida viajou 600 km da Vila do Maracajá, localizada no município de origem, até a capital paraense para o ato solidário por Benício. E, com a doação do órgão no dia 28 de junho, ela contribui para a melhora da qualidade de vida dele.
Eles relataram que o vínculo entre ambos já era bom desde o casamento com Ana Rodrigues, de 37 anos, filha caçula de Aparecida.
“Ele é como um filho para mim, e qual a mãe que não quer ver o filho bem? Eu via o sofrimento dele, quando enfrentava toda semana aquela agonia por conta da diálise. Os meus netos reclamavam da ausência do pai, era uma angústia. Então decidi doar para vê-lo bem, se recuperar e cuidar da família. Fiquei muito feliz quando os exames atestaram que poderia doar. Agora um pedacinho de mim vive nele”, disse a aposentada.
Mas o que poderia causar certo estranhamento para alguns, não foi surpresa para Benício, que também vê em Aparecida uma segunda mãe. Não é à toa, que ela foi uma das primeiras pessoas a manifestar o desejo de ser testada, assim como alguns amigos dele. Contudo, ele priorizou alguém mais próximo.
“Todos ficaram muito sentidos com o meu diagnóstico. A princípio, a minha irmã se propôs a fazer a doação, mas não conseguiu por ser obesa e pré-hipertensa. Então, minha sogra se prontificou a fazer os testes, porque tinha o mesmo tipo sanguíneo que eu. Reconheço que é um ato de amor pleno, não conseguirei esquecer jamais. Sou eternamente grato por esse gesto que ela teve comigo. Tudo ocorreu bem e estamos nos recuperando”, disse Benício.
Diagnóstico
Casado há 17 anos, o técnico de tecnologia da informação é pai do Victor, Asaffe e Bernardo. Ativo, Benício sempre gostou de praticar esportes e jogar futebol todas às sextas-feiras durante o momento de lazer incentivado pela empresa onde trabalha.
“Notei que estava cansando rapidamente e resolvi fazer alguns exames que detectaram a hemoglobina baixa e fui encaminhado ao hematologista. Os novos exames atestaram alterações importantes na uréia e creatinina, a função renal estava comprometida”, contou.
Logo em seguida, deu início à diálise naquele ano de 2019. Ao longo de três anos e sete meses dependeu de uma máquina para remover as toxinas e excesso de líquidos do corpo, para se manter vivo. As sessões eram realizadas durante três vezes na semana, com duração de 4h cada. No começo, urinava normalmente, mas a situação começou a mudar.
“Depois de uns oito meses, fui perdendo toda a função renal. Precisei ajustar a alimentação, controlar a ingestão de água e meu horário de trabalho sofreu alterações por causa do tratamento. Quando saía da diálise, ficava um pouco debilitado e precisava de um tempo de recuperação, então ficava em casa descansando e depois ia trabalhar. Hoje, só penso em retomar as minhas atividades com mais qualidade de vida”, relatou Benício.
Doação
Benício e médica Silvia Cruz.
Bruno Cecim / Ag. Pará
A médica transplantadora Silvia Cruz esclarece que a legislação brasileira permite a doação entre familiares consanguíneos até o quarto grau (pai, mãe, irmão, tios, primos) e cônjuges, que são considerados afetivamente agregados.
“Aqueles que não se encaixam nesse perfil precisam de autorização judicial, passar por um comitê de ética para validar se estão doando os seus órgãos de forma espontânea”, explicou.
Silva detalhou que o doador vivo é avaliado para verificar se possui alguma doença que possa ser transmitida ao receptor e se está apto a doar um dos rins sem interferir na própria saúde. Também são realizados os testes de compatibilidade sanguínea.
“Tanto o doador como o receptor são submetidos a 40 tipos de exames, como sorologia, avaliação cardiológica, dentre outros”, explicou a médica.
VÍDEOS com as principais notícias do Pará
Confira outras notícias do estado no g1 Pará.
Sogra doa rim para genro em hospital público de Belém: ‘Ele é como um filho para mim’, diz doadora
Adicionar aos favoritos o Link permanente.