Servidor da Funai é internado para retirar bala, após tiroteio entre invasores e PRF dentro de Terra Indígena no Pará

Vítima estava com equipe da PRF retornando da operação de retirada de não indígenas na TI Apyterewa. Os agentes precisaram ficar escondidos na mata esperando resgate, após três emboscadas seguidas na floresta. Servidor da Funai é resgatado após ser baleado em emboscada promovida por exploradores ilegais de Terra Indígena, no Pará
Ismael Silva / MPI
O servidor da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), baleado em emboscadas no Pará, tem quadro de saúde estável. A equipe do hospital que ele foi levado informou que o paciente passa por exame raio-x para localizar a bala e fazer a cirurgia de retirada. A Força Nacional dá apoio à segurança dele.
De acordo com o superintendente regional da Polícia Federal no Pará, José Roberto Peres, o ataque às viaturas da operação que faz retirada de invasores da Terra Indígena Apyterewa, a mais desmatada do país nos últimos quatro anos, foi promovido por exploradores ilegais da região – garimpeiros, madeireiros e criadores de gado.
“Os agentes da operação federal foram surpreendidos por três emboscadas seguidas, em pontos e momentos diferentes, que deixaram as viaturas com várias marcas de tiros e, infelizmente, um dos servidores foi baleado sendo conduzido ao hospital”.
Após os ataques a tiros, a equipe precisou ficar escondida na área de mata. Houve tiroteio dentro da floresta. Duas viaturas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que fazia escolta dos servidores, foram atingidas com diversos tiros. Um inquérito foi aberto para investigar o caso. Ninguém havia sido preso.
Viatura da PRF com marcas de tiros.
Divulgação
Os agentes retornavam de uma atividade entre 19h e 20h pelo no ramal Vitória, quando foram surpreendidos pelos disparos de arma de fogo em três pontos diferentes. Os agentes revidaram.
O servidor da Funai foi atingido no tornozelo e precisou ser encaminhado para avaliação médica em um hospital.
A ação de desintrusão é para que mais de mil colonos não-indígenas deixem as terras destinadas ao povo Parakanã, na TI Apyterewa, no sul do Pará. “No começo da desintrusão, estima-se que havia 60 mil cabeças de gado em pastos ilegais dentro da área de preservação”, afirma o superintendente Peres.
Violência recorrente
Em nota, o Governo Federal disse que o ataque “não foi um caso isolado, já que as equipes de segurança têm enfrentado emboscadas e sabotagens recorrentes por parte dos invasores”.
Segundo o governo, em novembro, uma equipe da Funai e Ministério do Trabalho já tinham sido vítimas de disparos, sem feridos.
“Na noite do dia 31 de Outubro, véspera do prazo final para desocupação voluntária, a placa recém-instalada que identificava a TI Apyterewa foi alvejada por tiros e posteriormente removida em uma clara tentativa de intimidação do processo de desintrusão”, afirma.
O Governo também informou que “invasores têm empregado técnicas de sabotagem, incluindo destruição de mais de vinte pontes no interior e proximidade das Terras Indígenas, derrubada de árvores nas estradas e utilização de pregos para danificar viaturas, intensificando o risco de acidentes”.
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Ministra fala sobre operação
Em Dubai, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, falou em entrevista à TV Liberal, filiada da Globo no Pará, sobre a operação de desintrusão na Terra Indígena Apyterewa, em São Félix do Xingu, sul do estado.
“Nossa equipe segue lá. O que estamos fazendo é combatendo uma atividade ilegal, precisamos retirar os invasores ilegais, porque os territórios indígenas são usufruto exclusivo dos indígenas conforme a constituição federal”, disse a ministra – assista abaixo:
Ministra dos Povos Indígenas fala após ataque a servidor da Funai no Pará
“Estamos aqui [na COP], na Apterewa, Yanomami, acompanhando as operações para desintrusar todos os invasores, seja de garimpo ilegal, de madeira, grilagem de terra, acompanhando também a votação no Congresso, do Marco Temporal, e articulando com os parlamentares para que mantenham os vetos do presidente Lula”, complementou Sonia Guajajara.
Impasses
A operação federal, além de causar reações de pessoas ligadas à exploração ilegal da TI, também passou por decisões contraditórias no Supremo Tribunal Federal (STF).
Na última semana, a operação de desintrusão chegou a ser suspensa e logo em seguida retomada. No dia 28 de novembro, o ministro Nunes Marques, do STF, suspendeu a operação de retirada de invasores na TI Apyterewa, atendendo ao pedido feito pela Associação dos Pequenos Produtores Rurais do Projeto Paredão (APARPP) e pela Associação dos Agricultores do Vale do Cedro.
Na decisão, o ministro determinou “a imediata paralisação de todos os atos dele decorrentes, especialmente as providências coercitivas de reintegração adotadas por forças policiais, assegurando aos colonos, assim, o livre trânsito, na área objeto de impugnação, com seus pertences e semoventes”.
Esta determinação ocorreu às vésperas de uma audiência com senadores em São Félix do Xingu, da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que investiga liberação de recursos para organizações não governamentais.
No dia seguinte, o Ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve a operação de retirada de invasores das Terras Indígenas (TIs) Trincheira Bacajá e Apyterewa, no Pará.
TI teve maior desmatamento do país
A TI Apyterewa teve o maior desmatamento do país por 4 anos consecutivos e perdeu área maior do que Fortaleza. Imagens de satélite mostram a devastação entre 2020 e 2022 e foram expostas em estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
A área de preservação indígena foi homologada por decreto em 2007, reservando 773 mil hectares ao povo Parakanã. O território fica dentro do município de São Félix do Xingu, no sudeste do Pará.
Histórico
O governo informou que a “presença de estranhos no território indígena ameaça a integridade dos indígenas e causa outros danos como a destruição das florestas”. A TI Apyterewa está no topo da lista de desmatamento entre as áreas reservada a indígenas no Brasil.
As apurações de órgãos como o Ministério Público Federal (MPF) apontam que algumas dessas famílias estão envolvidas em atividades ilegais, como criação de gado e garimpo, além de destruição da vegetação nativa.
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