Com público de centenas de pessoas, espetáculo de balé ocupa calçada na periferia de Belém e viraliza na internet

Com ajuda da família e de vizinhos, professora de balé promoveu espetáculo após superar fratura na perna e luto da mãe, sua maior incentivadora. Professora de Ballet faz espetáculo na calçada de casa e cerca de 200 pessoas prestigiam o evento no Pará
Arquivo Pessoal
A professora de balé Sandy Amaral, 27 anos, produziu um espetáculo com as alunas na calçada da própria casa – onde também funciona o estúdio de dança. O evento, que pretendia reunir 60 convidados, atraiu um público de mais de 200 pessoas que prestigiaram o espetáculo, realizado em dezembro, no Conjunto Satélite, bairro do Coqueiro, periferia de Belém.
A atitude de produzir uma apresentação das pequenas bailarinas para a comunidade ganhou repercussão. Mas, antes de falar sobre o espetáculo em si, vamos contar a história que levou até ele, e ela começa com a mãe da bailarina, Silvana Amaral.
Um sonho interrompido pela Poliomielite
A história do estúdio Petit Jeté começa com o sonho de Silvana que não pôde ser realizado. Ela queria ser bailarina, mas teve poliomielite na infância e andava com dificuldades. Quando ela deu à luz a filha, projetou o sonho nela e oportunizou as vivências com a dança que não teve.
Sandy com pai e mãe em apresentação de uma prova de prática cênica na Universidade Federal do Pará
Arquivo Pessoal
Sandy fez a modalidade em estúdios e escolas no mesmo bairro onde mora, no Coqueiro, mas decidiu ir além. Incentivada pela mãe e pelo pai, ela entra no Instituto de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará e cursa o técnico em balé clássico.
Fratura e luto
Em 2019, faltando um semestre para conclusão, Sandy sofreu um acidente e fraturou o pé.
“O chão estava escorregadio e eu estava usando sapatilha de ponta, quando fui fazer uma pirueta escorreguei e fraturei a fíbula”, detalha Sandy.
A turma com a qual tinha iniciado se formou e a estudante de balé clássico estava ficando para trás. Então, veio a pandemia e o curso parou. Em 2021, Silvana, a mãe de Sandy, veio a falecer.
“Ainda faltava eu concluir o último semestre do curso técnico e com isso eu pensei em desistir, não via mais sentido em concluir, porém meu pai me incentivou dizendo que era o sonho dela e que minha mãe ficaria feliz com essa vitória. Eu fiquei sem chão, sem rumo, foi muito difícil conseguir voltar à rotina sem ela aqui”, conta.
O pai de Sandy, Valdir Amaral, deu força à filha para concluir o curso e realizar o sonho da mãe.
“O sonho dela era também que Sandy não ficasse como professora de outros estúdios, mas que ela mesma tivesse a própria escola. Então, transformamos uma parte da nossa casa em um estúdio de dança. Com muita luta, com muito sofrimento, mas com muitas bênçãos dos céus, e estamos conseguindo levar esse sonho à frente”, diz o pai da professora de dança.
No mês de aniversário da mãe, a realização
Algumas bailarinas do estúdio de dança de Sandy
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O Petit Jeté foi inaugurado no dia 4 de setembro deste ano, no mês de aniversário da mãe de Sandy.
“O Studio foi feito grande parte pelo meu pai e meus irmãos. Tivemos algumas ajudas de dois amigos e um tio para fazer alguns detalhes da obra”, detalha a bailarina.
Atualmente a escola atende 15 crianças e com a chegada do mês de dezembro, veio a ideia de fazer a apresentação de final de ano das bailarinas, e junto da ideia, veio a questão: onde fazer?
O palco é onde o público está
“Não temos condições de levar para um teatro, é muito caro. Então decidimos ir para a rua, porque a rua é o melhor palco”, diz o pai.
Professora de Ballet faz espetáculo na calçada de casa no Pará
A equipe técnica composta por Sandy, seu namorado, o pai, Valdir, os dois irmãos e a cunhada da professora, fez o planejamento de como seria o palco, a estrutura, como comportaria a plateia e os trajes das bailarinas.
Cenário foi inspirado no espetáculo “O Quebra Nozes”
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Uma costureira fez um dos trajes os demais, utilizados no espetáculo, foram emprestados e algumas mães de bailarinas ajudaram na produção ou adaptação.
Alguns trajes foram feitos por costureira, outros por mães de bailarinas, e outros foram emprestados
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“O grande dia chegou e esperávamos 60 pessoas, mas surpreendentemente aproximadamente 200 pessoas estiveram presentes. Para as cadeiras colocadas na rua, tivemos autorização dos moradores, que apoiaram a ideia e compareceram para prestigiar o evento. Esse dia foi muito emocionante, pois o sonho de uma mãe, projetado na filha, se tornou realidade, e essa filha, com muita luta, está dando exemplo a crianças para também não abandonarem seus sonhos”, diz o pai de Sandy.
Professora de Ballet faz espetáculo na calçada de casa, no PA
“Todos receberam muito bem o espetáculo, ficaram ansiosos pela iniciativa e muito surpresos com o resultado. Superamos as expectativas de todos, pois não sabiam que ficaria tão parecido a um teatro”, diz a professora.
O espetáculo teve como base o “Quebra Nozes”, que tem um cenário grandioso, mas a estrutura do evento realizado no Conjunto Satélite teve o custo total de R$1.200.
Pequenos saltos, grande sonho
O nome do estúdio é Pequeno Salto e o slogan é “Pequeno salto para um grande sonho”.
“Esse grande sonho está se realizando e tendo visibilidade que a mãe tanto desejava para sua filha”, completa Valdir.
Além da visibilidade, da apresentação das bailarinas, o espetáculo contribuiu para o aumento da procura pela modalidade para crianças e também para as mães das alunas.
“Vou abrir um horário para oferecer aulas para adultos”, comenta Sandy.
E se pretende realizar um novo recital?
“Com certeza! Pretendemos fazer dois recitais por ano para que todos tenham a oportunidade de assistir a uma apresentação de balé”, finaliza Sandy, que está cursando Fisioterapia e ainda pretende aliar o balé à técnica do pilates.
Espetáculo deve voltar à calçada da casa da professora em 2024
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