
Para retirar os órgãos, é necessário ter a autorização de um parente de primeiro grau ou o desejo do doador, que não precisa estar registrado em um documento. O novo relatório anual de transplantes mostra que famílias brasileiras têm se recusado mais a fazer a doação de órgãos.
Existem muitas famílias como a do mecânico Marley de Paula Silva. Na hora da perda, ainda pensam em como aliviar a dor de outras pessoas. A mãe de Marley, Rose, morreu de aneurisma. O fígado e os rins dela foram doados.
“Ela já tinha comentado comigo e eu respeitei a vontade dela, entendeu? E também para salvar outras vidas também. Porque através dos órgãos dela, acredito eu, que salvou muitas vidas ”, diz Marley.
Para retirar os órgãos, é necessário ter a autorização de um parente de primeiro grau ou o desejo do doador, que não precisa estar registrado em um documento. Mas o número de famílias que não estão dispostas a autorizar vem crescendo, segundo o relatório anual da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, divulgado nesta quinta-feira (10). Em 2024, 46% das famílias que tinham parentes mortos ou com morte cerebral diagnosticada se recusaram a fazer a doação – 4% a mais do que em 2023.
“As pessoas justificam que não vão doar porque, nesse momento de tristeza, de abatimento, não se tem essa percepção. Uma série de outros valores são usados para justificar e depois se arrependem”, diz Valter Garcia, membro do Conselho Consultivo da ABTO..
Entre uma família que doa e uma que se nega a doar os órgãos, vai se formando uma fila de pessoas que dependem dessa autorização para viver. Elas estão sempre à espera de receber uma ligação da central de transplantes, a qualquer hora do dia ou da noite, trazendo uma boa notícia. Essa espera poderia ser mais rápida, mas não é o que acontece.
Tem sete meses que o Anderson Goulart de Araújo aguarda a doação de um rim para substituir o único que ele tem e que funciona mal.
“É bem triste que ainda tenha muita gente que não faz a doação e isso, às vezes, não é nem culpa da pessoa. É uma ignorância mesmo de saber como funciona. E aí você está tirando a oportunidade de uma outra família poder ter uma vida normal com o seu ente”, diz Anderson, que é professor de matemática.
“Hoje, no Brasil, tem 150 mil pessoas em diálise. Tem pouco mais de 30 mil pessoas listadas para transplante renal e ano passado foram realizados 6 mil transplantes. É uma conta que não fecha”, afirma Laila Viana, coordenadora do programa de transplantes de rim da Rede D’Or/SP.
Ronaldo Roberto da Silva, que é motorista de ambulância na central de transplantes, viveu os dois lados. Ele era irmão da Rose, mãe do Marley. Depois de transportar muitos órgãos e ajudar a salvar tanta gente, aprendeu o que dizer na hora mais difícil.
“Que essa família pense muito em ajudar outras pessoas, porque dentro do leito, na fila de espera existem muitas pessoas e depende muito que essa família, que tem alguém doente na família, no estado que possa fazer essa doação, porque é muito importante, vai ajudar muitas vidas”, afirma Ronaldo.
Brasileiros estão se recusando mais a doar órgãos
Reprodução/TV Globo
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