Símbolo de resistência no Cerrado, o marolo perdeu espaço com a ascensão do café no Brasil, porém voltou a ter destaque nos anos 1980. Conhecido por suas propriedades anti-inflamatórias, o fruto faz parte da identidade de Paraguaçu, município do sul de Minas.Com um aroma inconfundível e características próprias, o marolo (Annona crassiflora) possui um nome de origem guarani que significa “fruta mole”. Ele também é conhecido como araticum, bruto, cascudo ou pinha-do-cerrado. Além disso, pertence à família das anonáceas, a mesma da graviola e da pinha, e é encontrado especialmente no Cerrado brasileiro.Assim, vale destacar que a polpa do marolo é amarelo-clara, espessa, macia e tem um sabor que lembra o doce de frutas tropicais com um toque terroso.Nesse sentido, ele produz um aroma forte, que pode causar estranhamento em um primeiro momento, sobretudo para quem nunca provou, mas o cheiro marcante faz parte da identidade deste fruto.Os frutos são cobertos por pequenos pelos marrons-avermelhados que desaparecem à medida que amadurecem. As flores são grandes, com pétalas carnosas que se abrem à noite.Em relação à planta deste produto, ela é adaptada aos solos ácidos e pobres em nutrientes e cresce naturalmente nos cerrados do Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, incluindo Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Maranhão, Tocantins, Pará, Bahia e Piauí.Outro ponto importante no desenvolvimento desta árvore (maroleiro), é que a planta se desenvolve bem em regiões de clima tropical, com solo profundo e bem drenado.A árvore pode atingir de 4 a 8 metros de altura e começa a frutificar entre o quarto e o quinto ano após o plantio. Possui sistema radicular do tipo axial que atinge grandes profundidades no solo, para absorver água e nutrientes. Para seu cultivo, é necessário escolher a fase chuvosa, regar diariamente nas duas primeiras semanas e, depois disso, duas vezes por semana. A frutificação inicia-se em novembro e a maturação entre fevereiro e abril, em Minas Gerais, popularmente associado ao período da Quaresma.Para este bioma, o Araticum, como espécie frutífera, desempenha importante papel na conservação dos ambientes nativos, e também pode ser explorado comercialmente, apresentando potencial agronômico.Sem incentivo à plantação em grande escala e com o desmatamento, a colheita deste fruto ainda é feita de forma extrativista e informal e corre riscos constantes. No entanto, de acordo com a Universidade Federal de Lavras, o marolo tem muito potencial para movimentar mercados locais, desde que haja pesquisa, incentivo e políticas públicas.Com suas características versáteis, o marolo pode ser consumido in natura ou usado em receitas como licores, doces, tortas, geleias, sucos, sorvetes e iogurtes.Desse modo, o marolo oferece benefícios nutricionais importantes. A fruta contém vitaminas A, C, E e do complexo B, além de ferro, fósforo, cálcio, fibras e lipídios.Os subprodutos deste fruto, como as cascas, sementes e folhas têm apresentado uma ampla gama de compostos bioativos. Entre eles, compostos fenólicos, alcalóides, carotenóides, fitoesteróis, fibras alimentares, vitaminas e minerais.Estudos demonstraram que os extratos de diferentes partes do araticum (marolo) eram potentes antioxidantes, principalmente a polpa e a casca da fruta.O araticum (marolo) é amplamente utilizado pela população nativa para o tratamento de algumas doenças e é uma das frutas locais mais consumidas. Ele possui propriedades terapêuticas e anti-inflamatórias, assim como contribui com a saúde cardíaca.Ele também ajuda a prevenir o envelhecimento precoce por conter quercetina, vitamina A e betacaroteno, nutrientes e compostos bioativos que protegem a pele contra os danos causados pelos radicais livres, evitando as rugas e a flacidez.Na medicina popular, suas folhas e sementes são usadas em infusões para tratar reumatismo e diarreia, além de combater patologias no couro cabeludo. Porém, o uso deve ser feito com cuidado por causa dos efeitos tóxicos em algumas partes da planta.Em Paraguaçu (MG), o fruto é símbolo de identidade. Isso porque a partir dos anos de 1980, a planta voltou a ter destaque, com o surgimento da tradicional Festa do Marolo. Por lá, se tornou até livro, lançado em 2017 pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural do município.Embora a araticum possua valor nutricional relevante, cor e aroma atrativos, seu consumo, resume-se, sobretudo, nas regiões nativas próximas a seu cultivo. Este cenário é resultado da escassa informação sobre seus usos potenciais e qualidade dos alimentos processados obtidos a partir dele. Por isso, esse produto necessita ser melhor explorado pela indústria.