No último episódio da série do Fantástico, o doutor Dráuzio Varella mostra como a medicina avançou no tratamento de pacientes com tumores no cérebro. Trilhas da Mente: os avanços da medicina na guerra contra tumores no cérebro
Uma jovem acorda com uma dor de cabeça que não para de piorar. Um adolescente sente um cheiro estranho e logo depois perde a consciência. O que está por trás dessas histórias? Tumores que cresceram silenciosamente dentro da cabeça.
No último episódio de “Trilhas da Mente”, o Dr. Drauzio Varella acompanha cirurgias de retirada de tumor, que são maioria no Instituto do Cérebro, no Rio de Janeiro.
Para quem descobre um tumor no cérebro, saber que existe futuro é o mais importante. Lucca Andrade Chalita, de 16 anos, fez uma lista de coisas para fazer: pular de paraquedas, subir o Pico da Bandeira e nadar com tubarões.
Monalisa da Silva Martiniano, de 28 anos, doméstica, estava se programando para viajar com a família para Porto de Galinhas. Ela teve um sonho em que via a mão de um deus muito grande colocando algo em seu cérebro. Deus falava que ia pará-la.
Monalisa acordou no fim do ano passado e foi trabalhar. Durante o expediente, uma dor de cabeça muito forte ficou insuportável. Ela é cozinheira em Três Rios, no interior do estado do Rio. Foi até a UPA da cidade e voltou para casa com uma medicação para enxaqueca.
“Foi quando eu… meu rosto paralisou. Eu não conseguia sentir o lado esquerdo”, disse Monalisa.
De volta à UPA, mais algumas tentativas de medicamento e nada da dor passar. Foi então encaminhada para o hospital da cidade, onde uma tomografia revelou um tumor de quase seis centímetros.
O neurocirurgião Paulo José da Mata Pereira explica que o tumor estava obstruindo a passagem do líquor, líquido cerebral que protege o cérebro, leva nutrientes e remove resíduos. A obstrução aumentava a pressão intracraniana, causando dor de cabeça e pressionando o nervo óptico. Monalisa corria risco de ficar cega e até de entrar em coma. Os médicos tinham pressa em operar.
Entre as idas e vindas na UPA de Três Rios e a chegada ao Instituto do Cérebro foram 15 dias. A profundidade do tumor fazia a cirurgia ser muito delicada. A equipe médica removeu um fragmento de osso do crânio e afastou um dos hemisférios para acessar o local. A região é responsável pelos comandos de movimento e pela sensibilidade, existindo risco de sequelas.
Uma semana depois da cirurgia, Monalisa recebeu a visita do Dr. Paulo Niemeyer Filho. Ela estava curiosa sobre o tempo da cirurgia, que durou três horas. O tumor era benigno, e ela estava curada. O resultado da biópsia saiu do laboratório de neuropatologia do próprio instituto.
No futuro, esse laboratório e as salas de cirurgia podem não ser mais necessárias para o tratamento de cânceres cerebrais. O Dr. Paulo Niemeyer Filho acredita que a cirurgia chegou a um ponto limite e que novos tratamentos, como imunoterapia e manipulações genéticas, vão substituir a necessidade de operações.
“Eu acho que a cirurgia, de maneira geral, chegou a um ponto quase que limite. A cirurgia é baseada na visão, você pode ver. E tudo que você pode ver, você já pode fazer. A dificuldade hoje é como evitar que volte. E isso está sendo resolvido com a imunoterapia, com a genética. Na hora em que isso estiver mais desenvolvido, a cirurgia vai murchar”, comenta o médico.
Lucca Chalita, de 16 anos, começou a sentir um cheiro semelhante à borracha queimada aos dez anos, na escola. A família procurou médicos em Campos (RJ), no norte do estado do Rio, mas demorou até desconfiarem que o cheiro era um sinal de que o cérebro estava doente.
O diagnóstico era epilepsia, causada por uma desorganização dos neurônios que produzem descargas elétricas demais.
“Os sintomas são confusão mental, no caso dele no olfato, perda de consciência e movimentos musculares involuntários, que são chamados de convulsão”, comenta Isabella D’andrea Meira, neurologista e neurofisiologista, coordenadora do Centro de Epilepsia do Instituto Estadual do Cérebro.
A cirurgia era necessária. Há um ano e meio, o caso de Lucca vem sendo estudado no Instituto do Cérebro. Em maio do ano passado, ele passou cinco dias em observação, sem medicamentos, em uma sala monitorada 24 horas. Os dados foram coletados e analisados para ajudar os médicos a formular o roteiro da cirurgia.
Era preciso dissecar o tumor que ficava na ponta do lobo temporal, uma região do cérebro onde esse tipo de intervenção costuma ter bons resultados para epilepsia. Também era indicado retirar estruturas já atingidas, em uma área muito sensível. A cirurgia era muito arriscada, mas a equipe clínica e cirúrgica repassou cada detalhe.
Uma semana depois, Lucca voltou para retirar os pontos. A chance de ficar sem crise era de mais de 95%, provavelmente sem medicação também. Antes da cirurgia, ele passou por testes neuropsicológicos que mostravam que o cérebro já tinha começado a se reorganizar. A equipe do instituto está otimista que Lucca não vai ficar com sequela.
Em Três Rios, dois meses depois da cirurgia, Monalisa voltou a cozinhar, ainda devagarinho e com alguém ao lado. Ela não está com a memória totalmente recuperada e ainda sente formigamentos e dores de cabeça. A recuperação do susto não é só dela, mas de toda a família, especialmente da irmã Michele, que acompanhou tudo de perto.
Passado o susto, Monalisa vai precisar de acompanhamento com exames pelos próximos anos. Mas é assim mesmo: para quem tem a vida toda pela frente.
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No último episódio de “Trilhas da Mente”, o Dr. Drauzio Varella acompanha cirurgias de retirada de tumor, que são maioria no Instituto do Cérebro, no Rio de Janeiro.
Para quem descobre um tumor no cérebro, saber que existe futuro é o mais importante. Lucca Andrade Chalita, de 16 anos, fez uma lista de coisas para fazer: pular de paraquedas, subir o Pico da Bandeira e nadar com tubarões.
Monalisa da Silva Martiniano, de 28 anos, doméstica, estava se programando para viajar com a família para Porto de Galinhas. Ela teve um sonho em que via a mão de um deus muito grande colocando algo em seu cérebro. Deus falava que ia pará-la.
Monalisa acordou no fim do ano passado e foi trabalhar. Durante o expediente, uma dor de cabeça muito forte ficou insuportável. Ela é cozinheira em Três Rios, no interior do estado do Rio. Foi até a UPA da cidade e voltou para casa com uma medicação para enxaqueca.
“Foi quando eu… meu rosto paralisou. Eu não conseguia sentir o lado esquerdo”, disse Monalisa.
De volta à UPA, mais algumas tentativas de medicamento e nada da dor passar. Foi então encaminhada para o hospital da cidade, onde uma tomografia revelou um tumor de quase seis centímetros.
O neurocirurgião Paulo José da Mata Pereira explica que o tumor estava obstruindo a passagem do líquor, líquido cerebral que protege o cérebro, leva nutrientes e remove resíduos. A obstrução aumentava a pressão intracraniana, causando dor de cabeça e pressionando o nervo óptico. Monalisa corria risco de ficar cega e até de entrar em coma. Os médicos tinham pressa em operar.
Entre as idas e vindas na UPA de Três Rios e a chegada ao Instituto do Cérebro foram 15 dias. A profundidade do tumor fazia a cirurgia ser muito delicada. A equipe médica removeu um fragmento de osso do crânio e afastou um dos hemisférios para acessar o local. A região é responsável pelos comandos de movimento e pela sensibilidade, existindo risco de sequelas.
Uma semana depois da cirurgia, Monalisa recebeu a visita do Dr. Paulo Niemeyer Filho. Ela estava curiosa sobre o tempo da cirurgia, que durou três horas. O tumor era benigno, e ela estava curada. O resultado da biópsia saiu do laboratório de neuropatologia do próprio instituto.
No futuro, esse laboratório e as salas de cirurgia podem não ser mais necessárias para o tratamento de cânceres cerebrais. O Dr. Paulo Niemeyer Filho acredita que a cirurgia chegou a um ponto limite e que novos tratamentos, como imunoterapia e manipulações genéticas, vão substituir a necessidade de operações.
“Eu acho que a cirurgia, de maneira geral, chegou a um ponto quase que limite. A cirurgia é baseada na visão, você pode ver. E tudo que você pode ver, você já pode fazer. A dificuldade hoje é como evitar que volte. E isso está sendo resolvido com a imunoterapia, com a genética. Na hora em que isso estiver mais desenvolvido, a cirurgia vai murchar”, comenta o médico.
Lucca Chalita, de 16 anos, começou a sentir um cheiro semelhante à borracha queimada aos dez anos, na escola. A família procurou médicos em Campos (RJ), no norte do estado do Rio, mas demorou até desconfiarem que o cheiro era um sinal de que o cérebro estava doente.
O diagnóstico era epilepsia, causada por uma desorganização dos neurônios que produzem descargas elétricas demais.
“Os sintomas são confusão mental, no caso dele no olfato, perda de consciência e movimentos musculares involuntários, que são chamados de convulsão”, comenta Isabella D’andrea Meira, neurologista e neurofisiologista, coordenadora do Centro de Epilepsia do Instituto Estadual do Cérebro.
A cirurgia era necessária. Há um ano e meio, o caso de Lucca vem sendo estudado no Instituto do Cérebro. Em maio do ano passado, ele passou cinco dias em observação, sem medicamentos, em uma sala monitorada 24 horas. Os dados foram coletados e analisados para ajudar os médicos a formular o roteiro da cirurgia.
Era preciso dissecar o tumor que ficava na ponta do lobo temporal, uma região do cérebro onde esse tipo de intervenção costuma ter bons resultados para epilepsia. Também era indicado retirar estruturas já atingidas, em uma área muito sensível. A cirurgia era muito arriscada, mas a equipe clínica e cirúrgica repassou cada detalhe.
Uma semana depois, Lucca voltou para retirar os pontos. A chance de ficar sem crise era de mais de 95%, provavelmente sem medicação também. Antes da cirurgia, ele passou por testes neuropsicológicos que mostravam que o cérebro já tinha começado a se reorganizar. A equipe do instituto está otimista que Lucca não vai ficar com sequela.
Em Três Rios, dois meses depois da cirurgia, Monalisa voltou a cozinhar, ainda devagarinho e com alguém ao lado. Ela não está com a memória totalmente recuperada e ainda sente formigamentos e dores de cabeça. A recuperação do susto não é só dela, mas de toda a família, especialmente da irmã Michele, que acompanhou tudo de perto.
Passado o susto, Monalisa vai precisar de acompanhamento com exames pelos próximos anos. Mas é assim mesmo: para quem tem a vida toda pela frente.
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