Um Papa para a eternidade

Papa FranciscoReprodução/Vatican Media

Os papas exercem múltiplos papéis. Como líderes dos católicos, e de algumas outras religiões cristãs, conformando um imenso contingente de pessoas, suas manifestações impactam de forma direta a vida desses seres, influenciando comportamentos e até mesmo valores morais.

Mas não para por aí. O papa interage também com os não-católicos e os não-cristãos, inclusive com os não-crentes, ateus e agnósticos de todo o gênero. E o Papa Francisco, que acaba de partir, deixou marcas fortes em toda a sociedade, de modo abrangente.

Jorge Mario Bergoglio nasceu em 1936 em Buenos Aires, Argentina. E faleceu hoje, 21 de abril de 2025. Desde sempre se dedicou aos mais pobres e necessitados, uma marca por ele carregada por toda a sua existência e que fez questão de aplicar em seu papado como um selo de suas ações.

Em seu papado, Francisco se dedicou a variadas questões mundiais. Conseguiu restaurar, mesmo que de modo temporário, as relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba; apoiou a causa dos refugiados durante as crises migratórias da Europa e da América Central; se opôs ao renascimento do neo-nacionalismo; ofereceu-se como mediador da paz tanto em Gaza quanto na Ucrânia.

Foi porém em âmbito interno que a atuação de Francisco mais se fez sentir e logo no início de seu pontificado: atuou com mão firme no combate aos abusos sexuais por membros do clero católico, tornando obrigatórias as denúncias e responsabilizando quem as omite e, em outro segmento, atuou com grande rigor junto ao chamado Banco do Vaticano, envolto em irregularidades e desvios de recursos da Igreja. Enfrentou inclusive o poderoso cardeal e carmelengo (espécie de secretário geral e substituto imediato do Papa), Tarcísio Bertone, afastando-o de quaisquer funções diretivas.

Outra marca forte do Papa Francisco foi o diálogo com outras religiões. Visitando os Emirados Árabes Unidos, em 2019, o Papa encontrou-se com Ahmed Al-Tayeb, Grande Imã de Al-Azhar, em Abu Dhabi. Ambos firmaram um documento sobre a “Fraternidade Humana”, e, no final do mesmo ano, reuniram-se novamente no Vaticano para discutir os meios necessários para tornar o disposto no documento em algo efetivo, concreto. De tal impacto foi a iniciativa que a ONU, posteriormente, declarou o dia 4 de fevereiro como “Dia Internacional da Fraternidade Humana”.

Francisco talvez tenha sido o mais humano, mais empático e mais afetuoso de todos os Papas, abraçando as pessoas nas ruas, conversando, afagando, beijando crianças, jovens, idosos. E em sua última manifestação pública, na homilia da missa de Páscoa, fez uma breve e certeira observação, bastante alinhada com a sua própria história de vida, destacando a “beleza da vida nos pequenos gestos de amor”.

Foram 12 anos de pontificado. Quem substituirá Francisco não sabemos. Ninguém o sabe. Mas sua lembrança pode jogar luzes sobre o processo de escolha, para, quem sabe, inspirar o novo Papa a seguir os passos de seu antecessor.

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