
Pontífice tinha 88 anos e morreu em casa, na Cidade do Vaticano. Francisco foi o primeiro papa latino-americano e deixa legado de tolerância e diálogo. Encontro de Kopenawa com papa aconteceu no vaticano
Vatican Media/Divulgação
“Foi um papa que ficou do lado dos Yanomami, ficou do lado da Amazônia”, disse o xamã Davi Kopenawa, principal liderança indígena do povo Yanomami ao relembrar visita ao papa Francisco no Vaticano em abril de 2024. O líder máximo da Igreja Católica morreu na madrugada desta segunda-feira (21).
Davi Kopenawa visitou o Francisco a convite do próprio papa, ocasião em que pediu apoio aos esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em salvar o povo Yanomami. A Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial e enfrenta uma crise sem precedentes devido ao avanço do garimpo ilegal, com casos graves de indígenas com malária e desnutrição severa.
“Ele me chamou, e eu aceitei o convite para encontrar no lugar onde ele morava. Para mim, e para todo o povo indígena, ele foi um homem único. Único porque foi o papa Francisco quem lutou e defendeu com firmeza a natureza, a alma da Amazônia, junto com a gente”.
Ele defendeu a água, os igarapés, as montanhas, os morros e tudo que temos direito.
Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, morreu aos 88 anos às 2h35 pelo horário de Brasília, 7h35 pelo horário local, desta segunda-feira (21). As informações foram confirmadas pelo Vaticano. O pontífice ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos.
Os Yanomami, cuja população é estimada em cerca de 31 mil pessoas, vivem na maior Terra Indígena do Brasil, nos Estados de Roraima e Amazonas. Davi é a liderança e principal porta-voz.
“Ele sabia, ele entendia [as necessidades dos povos indígenas]. Isso foi bom para mim, foi bom para todo o povo indígena, e também para a sociedade não indígena. Não era só pelos indígenas, era por todos. O Papa Francisco lutou por todos”.
Davi relata que quando Francisco ficou doente, os Yanomami pediram a melhora em rituais mas, de acordo com ele, “o Grande Espírito o chamou, para ele não sofrer mais aqui na Terra”.
O xamã relembra a conversa que teve com Francisco.
“Ele me disse uma coisa muito importante. Ele falou: ‘Olha, Davi, eu, Papa Francisco, apoio todos os seres humanos da Terra. Seres humanos negros, brancos, indígenas. E também a grande alma da Amazônia’. Eu disse: ‘Acredito em você. Mas não quero promessas. Já chega de promessas. Quero apenas uma palavra de homem: que você continue olhando pelo povo indígena, pela floresta amazônica, pela educação e pela saúde'”.
Agora, Davi pede que o próximo papa tenha o mesmo cuidado e sabedoria com os povos da Amazônica e com a natureza.
“Quero deixar uma mensagem para o próximo Papa. Que ele seja como o Papa Francisco. Que não seja diferente. Que siga o mesmo caminho, com o mesmo pensamento. Que a Igreja continue com essa grande ideia: de olhar para todos nós. Não pode ser indiferente. Não pode olhar só para as cidades grandes, os estados grandes. Tem que olhar também para as comunidades pequenas”, finaliza o xamã.
A Terra Yanomami está em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal começou a criar ações para atender os indígenas, como o envio de profissionais de saúde e cestas básicas. Além de enviar forças de segurança a região para frear a atuação de garimpeiros.
Morte do papa Francisco
Morre Francisco, o papa de hábitos simples que lutou para mudar a Igreja
O pontífice, que ocupou o cargo máximo da Igreja Católica por 12 anos, se recuperava de uma pneumonia nos dois pulmões após ter ficado 38 dias internado. Ele morreu em seu apartamento, na residência de Santa Marta, na Cidade do Vaticano, onde vivia desde sua eleição em 2013.
“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, diz comunicado oficial.
Francisco será enterrado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, e não na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A última vez que isso aconteceu foi em 1903, com o enterro do papa Leão XIII.
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