Vice-presidente, Geraldo Alckmin, participou da assinatura de convênio entre o Sebrae e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), no Palácio do Planalto. – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/ND
Discreto, de família tradicional, forte atuação nos bastidores e com uma falta de carisma que lhe rendeu o apelido de “Picolé de Chuchu”, Geraldo Alckmin (PSB) tem cinco décadas de vida pública e, sem muitos holofotes, construiu o caminho que o levou ao governo de São Paulo e a vice-presidência do Brasil.
Em sua biografia constam momentos importantes da história do Brasil, como a atuação de deputado constituinte, a fundação do PSDB, e a vitória, ao lado do ex-adversário político Lula (PT), nas Eleições de 2022.
Apesar da atuais atribuições como vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o político é mais lembrado como governador de São Paulo. Gerlado Alckmin comandou o estado por quatro mandatos, somando mais de 12 anos e se tornando a pessoa que mais tempo passou no cargo desde a redemocratização.
Não é a única marca que chama a atenção. Entre 1973 e 2006, portanto, 33 anos, Gerlado Alckmin estava ininterruptamente em mandato eletivo, emendando os cargos de vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, vice-governador e governador.
Uma história que começou em sua cidade natal, Pindamonhangaba, no Vale da Ribeira, a cerca de 160km de São Paulo.
Família de Geraldo Alckmin
Geraldo José Rodrigues Alckmin Filho nasceu em 7 de novembro de 1952, filho de Míriam Penteado (que morreu quando ele tinha 10 anos) e Geraldo José Rodrigues Alckmin. Da família, entre outras coisas, herdou a religiosidade. Seu pai foi ex-seminarista, ministro da Ordem Terceira de São Francisco e entusiasta da Opus Dei.
A pedido do pai, que foi seu chefe de gabinete quando prefeito — algo impensável e proibido atualmente, Alckmin nomeou uma rua de Pindamonhangaba como Monsenhor José Maria Escrivá de Balaguer y Albás, fundador da polêmica instituição católica.
Essa proximidade foi explorada por adversários em diversas campanhas eleitorais, mas o político sempre desmentiu fazer parte da Opus Dei.
Geraldo Alckmin foi o único político relevante da família que começou no MDB, partido opositor da Ditadura. Seu pai nunca teve mandato, mas foi filiado a UDN (União Democrática Nacional), partido conservador surgido em oposição a Getúlio Vargas e que apoiou o golpe de 1964.
Seu tio, José Geraldo Rodrigues de Alckmin foi ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e seu primo, José Maria Alkmin, vice-presidente no governo Castelo Branco (1964-1967).
Registro do casamento de Geraldo Alckmin e Lu Alckmin nos anos 1970 – Foto: Arquivo Pessoal
Geraldo Alckmin é casado desde 1979 com Maria Lúcia Guimarães Ribeiro Alckmin, a Lu Alckmin. Junto, eles tiveram três filhos: Sophia, Geraldo e Thomaz. O casal tem sete netos.
Tragédia familiar
Geraldo e Lu viveram o maior drama da família em 2 de abril de 2015. O filho mais novo do casal, Thomaz, morreu após o helicóptero em que estava cair sobre uma casa em Carapicuíba, na Grande São Paulo. O acidente deixou outras quatro vítimas.
Thomaz era piloto profissional — mas não comandava a aeronave acidentada, e estava com a tripulação que fazia o primeiro voo do helicóptero após manutenção. Na época, o pai estava em seu quarto mandato como governador de São Paulo.
O discreto político Geraldo Alckmin
Alckmin era estudante da Faculdade de Medicina de Taubaté envolvido com o movimento estudantil católico quando foi convidado a ingressas no MDB. Aceitou e, com sua popularidade junto aos estudantes, e a força do nome da família, foi eleito vereador, em 1972, com quase 10% dos votos.
Quatro anos depois, derrotou seu padrinho político, Paulo de Andrade, por apenas 67 votos e se tornou o prefeito mais jovem da história da cidade. Ainda cursava a faculdade. Aproveitou o “milagre econômico” para mudar a economia de Pindamonhangaba, de rural para industrial, e investir em pavimentação de ruas.
A atuação que seria de quatro anos, virou seis, beneficiado por uma lei que esticou os mandatos até as Eleições de 1980. Emendou o mandato de prefeito com o de deputado estadual e depois deputado federal. Tinha como trunfo o conhecimento do estado e boa circulação no interior de São Paulo. Passou pelo Congresso com discrição, mesmo durante a Constituinte de 1987-1988.
Seu perfil de homem de família, vindo do interior e católico fervoroso, sempre fez com que fosse visto como alguém de centro ou de direita. Porém, esteve na dissidência à esquerda do MDB que deu origem ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
O núcleo paulista da sigla tinha nomes como Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
No novo partido, Geraldo Alckmin foi reeleito deputado federal e assumiu a presidência estadual na sigla. Conseguiu com que o PSDB crescesse rapidamente no interior paulista. Sua atuação rendeu um convite para ser candidato a vice-governador ao lado de Mário Covas.
A dupla venceu o pleito e o político de Pindamonhangaba chegou ao Palácio dos Bandeirantes. O vice-governador assumiu a presidência do Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização (PED), responsável pelas primeiras privatizações de rodovias, ferrovias e empresas públicas no estado.
Em 1998, Covas e Alckmin foram reeleitos para mais um mandato. Meses depois, Mário Covas descobriu um câncer na bexiga. Foram três anos de luta contra a doença, até que o político morreu em março de 2001. No ano anterior, Geraldo disputou a prefeitura de São Paulo, mas ficou fora do segundo turno. Um ano depois se tornava governador.
Governador Geraldo Alckmin
Foi ganhar destaque na mídia em seu quinto mês como governador. O apresentador e fundador do SBT, Silvio Santos, foi sequestrado em sua mansão no Morumbi. Os sequestradores exigiram a presença de Gerlado Alckmin, que deu garantia que a dupla sairia com vida.
A forma como as negociações foram realizadas rendeu críticas de especialistas, mas pegou bem entre a população. No ano seguinte, disputou as Eleições com Cláudio Lembo (PFL) de vice e foi eleito para o mandato 2003-2006.
Deixou o governo do estado em 2006 para disputar a Presidência da República, quando foi derrotado por Lula, que conquistou a reeleição.
Rivalizou com José Serra, dentro do PSDB, saindo candidato contra Gilberto Kassab pela prefeitura de São Paulo em 2008, mas novamente, não chegou ao segundo turno. Gerlado Alckmin passou um tempo afastado da política até ser candidato ao governo do estado em 2010 e vencer.
Foram mais dois mandatos como governador de São Paulo, com boa aprovação entre o eleitorado e redução dos índices de criminalidade. Em 2018, Geraldo Alckmin superou os 12 anos no cargo mais importante do estado e renunciou em abril para concorrer novamente a Presidência.
Com um PSDB já desidratado, ficou apenas com o quarto lugar, pior colocação do partido em Eleições, no pleito vencido por Jair Messias Bolsonaro (então no PSL).
Geraldo Alckmin, quando governador de São Paulo, investiu em pavimentações e privatizações de rodovias – Foto: Divulgação/Diogo Moreira/Governo SP
Desafios e polêmicas de Geraldo Alckmin
Se o perfil perante o público é de político discreto e sério, seus opositores, principalmente do PT, se queixavam da força de sua articulação política em se blindar perante a Assembleia Legislativa e a imprensa.
Com habilidade, manteve a fama de íntegro em meio a escândalos, como a acusação de participação de um cartel em contratos na área de transporte público para compras de trens. Três diretores da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM) chegaram a ser condenados, mas suas condenações foram anuladas pela Justiça de São Paulo.
Um ex-secretário de Geraldo Alckmin, Laurence Casagrande, foi denunciado pela Justiça, acusado de participar de desvios de recursos públicos nas obras do Rodoanel, megaprojeto na região metropolitana que se iniciou nos anos 1990 e ainda não foi totalmente concluído.
Entre os desafios enfrentados como governador, esteve o crescimento da facção Primeiro Comando da Capital. O PCC chegou a promover uma onda de ataques em diversas cidades do estado, principalmente na região metropolitana, em maio de 2006, menos de dois meses após a saída de Geraldo Alckmin para disputar a presidência.
Um anúncio de aumento das tarifas de transporte público em 2013 levou milhares de estudantes às ruas. A crise política e econômica vivida pelo país, uma forte polarização, o crescimento da oposição do governo Dilma Rousseff (PT) e a violenta repressão da PM de São Paulo, comandada por Geraldo Alckmin, ajudaram a transformar os atos em grandes manifestações pelo país.
No ano em que disputou pela última vez as Eleições a governador de São Paulo, em 2014, seu governo enfrentou uma das piores crises hídricas da história. Uma longa estiagem secou os reservatórios de água, obrigando municípios paulistas a tomar medidas como adoção do racionamento.
A crise se estendeu até 2015, quando o nível dos reservatórios normalizou. Geraldo Alckmin foi acusado, durante a campanha eleitoral, de minimizar a gravidade do problema. Apesar disso, foi reeleito em primeiro turno.
Se os ataques ao PT foram discretos quando se candidatou a presidência em 2006, 12 anos depois Alckmin foi mais agressivo. Em um de suas discursos, ainda em dezembro de 2017, disparou: “depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder, ou seja, ele quer voltar à cena do crime”.
O discurso foi recuperado por adversários políticos durante a campanha eleitoral de 2022, quando Geraldo Alckmin foi eleito vice-presidente de Lula.
Geraldo Alckmin é médico
Formado em medicina na faculdade que hoje é ligada à Universidade de Taubaté (Unitau), Geraldo Alckmin se especializou em anestesiologia, em 1979, no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.
Exerceu a profissão enquanto já seguia carreira política, mas não por muito tempo. Seus mandatos eletivos se tornaram prioridade e passaram a ocupar sua atenção.
Fora do governo do estado e após perder as Eleições para prefeito em São Paulo, em 2008, Geraldo Alckmin voltou à medicina. Atendeu pacientes encaminhados pelo SUS ao setor de acupuntura do ambulatório de ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na Vila Mariana, zona sul da capital.
Segundo a instituição respondeu à imprensa na época, a atuação do ex-governador era voluntária. Parou novamente de atuar como médico quando se elegeu para o terceiro mandato a frente de São Paulo, em 2010.
Voltou a focar em sua profissão de origem no pós-2018, quando se afastou novamente da política, atendendo como acupunturista no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Estreou na televisão em 2019, no quadro quinzenal Saúde e Qualidade de Vida, do programa Todo Seu, da TV Gazeta, apresentado pelo empresário, cantor e apresentador Ronnie Von.
“Doutor Geraldo” depois mudou para a TV Band. Na nova emissora, conduziu uma série sobre acupuntura no programa Aqui na Band, apresentado por Silvia Poppovic e Luís Ernesto Lacombe.
Geraldo Alckmin concluiu sua especialização em acupuntura no Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Universidade de São Paulo (IOT-USP) em 2021. Depois começou a fazer doutorado em acupuntura pela Universidade Nove de Julho (Uninove), mas parou em 2022 para se dedicar a campanha eleitoral.
Vice-presidente do Brasil
Em 2021, meses após a anulação pelo STF das condenações de Lula durante a Lava-Jato, surgiram os primeiros boatos de que Geraldo Alckmin era visto como possível vice do petista para as Eleições.
Presidente Lula desfila no Rolls-Royce acompanhado da primeira-dama Janja, do vice-presidente Geraldo Alkmin e Lu Alkmin – Foto: Fotógrafo/Agência Brasil/ND
Afastado da política, sem espaço no próprio partido e se sentindo traído por João Dória, Geraldo Alckmin deu força a esses boatos ao se desfiliar do PSDB em 15 de dezembro, após 33 anos no partido em que foi um dos fundadores.
Recebeu convite de siglas como PSD, de Gilberto Kassab, e União Brasil, formado com a fusão de DEM e PSL, mas aceitou se filiar ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), de Márcio França, seu vice no último mandato como governador de São Paulo.
Nesta altura, já estava certa a chapa Lula-Alckmin para enfrentar Bolsonaro nas Eleições. O ex-governador de São Paulo tinha como função acalmar o mercado e a classe média de que um novo governo Lula — após três anos inelegíveis e 580 dias presos — não seria radical e caminharia para o centro.
A estratégia deu certo, Lula e Gerlado Alckmin venceram a acirrada disputa com menos de 2% de diferença dos votos válidos. No entanto, o caminho até a rampa do Palácio do Planalto não foi tranquila.
Manifestações paralisaram rodovias pelo país em protesto contra os resultados das Eleições. Brasília viveu dia de violência em 12 de dezembro, quando a dupla foi diplomada no STF.
Houve receios, não concretizados, de que pudesse ter episódios violentos durante a posse em 1º de janeiro. Mas no dia 8, as sedes dos Três Poderes foram atacadas. De acordo com denúncia da Procuradoria-Geral da República, os ataques faziam parte de uma tentativa de golpe de estado, que incluía planos para matar Lula, Alckmin e o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes.
Dentro do governo, Geraldo Alckmin acumula a função de vice com a de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Essa posição, coloca o político na articulação com entidades empresarias e em setores econômicos que não possuem boa relação com Lula.
Em um desses exemplos, Geraldo Alckmin representou o governo federal na abertura da Agrishow 2024, em Ribeirão Preto (SP), forte reduto de Bolsonaro. No ano anterior, o evento cancelou a cerimônia de abertura após atritos com Brasília. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi desconvidado e o Planalto reagiu retirando o patrocínio do Banco do Brasil.
Com Lula prestes a completar 80 anos, paira uma dúvida sobre suas intenções em disputar a reeleição e sua capacidade em comandar o país até 2030, quando estará com 85 anos. Em um cenário sem Lula, Geraldo Alckmin, hoje com 72 anos, seria um dos nomes do governo para disputar a presidência.