
A divulgação de vídeos e fotos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ) durante sua internação na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital DF Star, em Brasília, gerou divisões entre lideranças de sua base política.
O episódio, apelidado de “cercadinho da UTI”, passou a ser criticado por setores considerados moderados do bolsonarismo, que avaliam a exposição como um obstáculo à construção de uma candidatura viável para as eleições de 2026.
Internado desde 11 de abril, Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia de 12 horas no dia 13 para corrigir complicações intestinais decorrentes do atentado de 2018. Embora seu quadro seja considerado estável, ele permanece sem previsão de alta, e os médicos recomendam restrição de visitas.
Apesar disso, vídeos publicados nas redes sociais mostram o ex-presidente acamado, com acesso venoso e monitores hospitalares, além de interações com assessores e aliados.
Pessoas próximas aos governadores aliados, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ratinho Jr. (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG), expressaram, de forma reservada, desconforto com a frequência das publicações.
Os grupos desses líderes defendem que o apoio de Bolsonaro é relevante, mas apontam a necessidade de independência para a consolidação de um nome competitivo à sucessão presidencial.
Eles avaliam que a permanência de Bolsonaro como figura central inviabiliza essa estratégia e fortalece a hipótese de que o ex-presidente pretende manter sua família como protagonista político, por meio de Michelle Bolsonaro (PL-DF) ou um dos filhos.
O desconforto também alcança o Centrão, onde parlamentares demonstraram preocupação com o impacto institucional da divulgação de imagens da intimação judicial entregue a Bolsonaro na UTI, na última quarta (23).
A medida, realizada por um oficial de Justiça a mando do Supremo Tribunal Federal, gerou reações nas redes, com o ex-presidente comparando a ação a perseguições políticas.
Deputados relatam que a exposição cria impasses: se o defendem publicamente, enfrentam tensão com o STF; se optam pelo silêncio, sofrem críticas de apoiadores bolsonaristas mais ativos.
Radicais defendem exposição Bolsonaro
Na direção oposta, a ala mais radical do bolsonarismo defende a continuidade da estratégia. Influenciadores e lideranças digitais consideram essencial manter Bolsonaro visível como forma de mobilizar sua base e estabelecer um marcador para distinguir os apoiadores fiéis daqueles que desejam se beneficiar eleitoralmente de sua imagem sem adotar suas pautas.
Aliados mais próximos indicam que os pedidos para limitar a exposição durante o período de internação foram ignorados.
A tendência é de que o “cercadinho da UTI” continue sendo utilizado como ferramenta de comunicação direta com a base, ampliando as divergências internas sobre os rumos do bolsonarismo nos próximos anos.
Processo

O episódio ocorre em paralelo ao processo judicial que tramita no STF. Em 26 de março, a Primeira Turma da Corte aceitou a denúncia da Procuradoria-Geral da República que acusa Bolsonaro de liderar uma tentativa de golpe de Estado.
A investigação aponta a existência de uma organização que atuava desde 2021 para deslegitimar as urnas eletrônicas e planejar a reversão do resultado das eleições de 2022.
O processo envolve outros sete réus, entre eles os ex-ministros Braga Netto, Augusto Heleno e Anderson Torres. As acusações incluem tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa, com penas que podem ultrapassar 40 anos.
A defesa de Bolsonaro contesta as provas e afirma que ele não teve envolvimento direto nos atos investigados.