
Na política desde 1979, o ex-presidente Fernando Collor de Mello pertence a uma família com mais de 70 anos de tradição na vida pública nacional e em Alagoas.
Apesar da perda de influência ao longo dos anos e dos escândalos de corrupção que levaram à sua prisão na última sexta-feira (25), parentes do ex-chefe do Executivo e ex-senador ainda mantêm vínculos com o cenário político.
O sobrinho de Collor, Fernando Affonso Collor de Mello, disputou o cargo de vereador em Maceió nas eleições de 2024. Na urna, utilizou o nome Fernando Collor, o mesmo do tio, e sua campanha destacou a imagem do ex-presidente.
Em 2012, Fernando Affonso já havia tentado ingressar na política como candidato a vice-prefeito de Atalaia (AL), utilizando o nome Fernando Lyra, mas não obteve sucesso. Ele é filho de Pedro Collor de Mello, irmão do ex-presidente, que teve papel central nas denúncias que culminaram no impeachment do então presidente em 1992.
Na época, Thereza Collor, então casada com Pedro, também se destacou ao denunciar esquemas de corrupção e ficou conhecida como a ”musa do impeachment”. Mais de 30 anos depois, em uma reviravolta política, Collor e sua ex-cunhada se uniram para apoiar a candidatura de Fernando, que acabou não se elegendo para o cargo de vereador.
Thereza também tem ligação com a política. Nas eleições de 2014, esteve entre os possíveis nomes para a disputa por uma vaga no Senado Federal, pelo estado de Alagoas. Ela disputaria o cargo com Collor, mas decidiu não entrar no páreo.
Quatro anos mais tarde, em março de 2018, Thereza anunciou sua pré-candidatura à Câmara dos Deputados pelo estado de São Paulo. Ela disputou as eleições pelo PSDB, obtendo 9064 votos, ficando como suplente. Hoje, ela não ocupa cargo político.
Ascendência política
Fernando Collor é filho de Arnon Afonso de Farias Melo, que teve uma carreira política também marcada por escândalos. Arnon foi eleito deputado federal em 1945, governador de Alagoas em 1950 e, posteriormente, senador em três mandatos consecutivos.
Em 1963, protagonizou um dos episódios mais dramáticos do Senado Federal, ao matar acidentalmente o senador José Kairala durante uma briga com seu rival político, Silvestre Péricles. Apesar do homicídio, Arnon de Mello foi absolvido e seguiu na vida pública até sua morte, em 1983.
A tradição política de Collor também vem do lado materno. Seu avô, Lindolfo Collor, foi deputado federal pelo Rio Grande do Sul em 1923 e 1927, e desempenhou papel central na Revolução de 1930, sendo nomeado o primeiro ministro do Trabalho, Indústria e Comércio por Getúlio Vargas.
Lindolfo, no entanto, rompeu com Vargas em 1932 e participou da Revolução Constitucionalista. Outros parentes de Collor também ocuparam posições de destaque: o ex-presidente é primo do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, indicado por ele ao cargo em 1990; e de Zélia Cardoso de Mello, que foi ministra da Fazenda.

Influência em Alagoas
A influência da família Collor em Alagoas atravessa gerações. Desde Arnon de Mello, que governou o estado e ocupou uma cadeira no Senado por décadas, o clã construiu um legado político de peso.
Mesmo após a perda de prestígio nacional com o impeachment, Collor manteve relevância em Alagoas, sendo eleito senador em 2006 e reafirmando sua força local por meio de alianças e do controle de parte da máquina política.
Mas não foi só por meio de mandatos eletivos que a família Collor consolidou sua influência política em Alagoas. O clã também controla um dos maiores conglomerados de mídia da região, a Organização Arnon de Mello (OAM). Fundada por Arnon de Mello, a OAM inclui veículos como a Gazeta de Alagoas, TV Gazeta (afiliada da Globo) e rádios locais.
A concentração de mídia nas mãos da família Collor também desempenhou um papel nas disputas políticas locais, especialmente contra os grupos liderados por Renan Calheiros e Arthur Lira. Enquanto os Calheiros e os Lira expandiram sua influência por meio de alianças políticas, os Collor utilizaram seus veículos de comunicação para promover suas agendas e criticar adversários.
Atualmente, depois dos escândalos envolvendo o ex-presidente Collor, a família perdeu influência política. Com isso, Renan Calheiros e Arthur Lira consolidaram seus grupos e polarizaram o cenário político de Alagoas, colocando Collor em um papel secundário.
A prisão de Collor, em decorrência de uma condenação por corrupção e lavagem de dinheiro, descobertas no âmbito da Operação Lava Jato, reforçou o enfraquecimento do sobrenome no meio político. Mesmo assim, o controle sobre a mídia local por parte da família do ex-presidente continua sendo um instrumento relevante, já que a OAM permanece ativa.