Anistia Internacional denuncia um ‘genocídio ao vivo’ em Gaza

Um jovem palestino em meio aos escombros após ataques israelenses ao campo de refugiados de Nuseirat, na Faixa de Gaza, em 29 de abril de 2025Eyad BABA

Eyad BABA

A ONG Anistia Internacional denunciou, nesta terça-feira (29), “um genocídio ao vivo” cometido por Israel na Faixa de Gaza, onde a guerra e o bloqueio da ajuda humanitária levam a população a uma situação desesperadora.

Israel respondeu imediatamente, condenando as “mentiras infundadas” de uma “organização radical anti-israelense”.

Enquanto isso, a agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) disse que a recusa de Israel em permitir a entrada de ajuda humanitária em território palestino “mata em silêncio”, especialmente crianças e doentes.

Em 2 de março, poucos dias antes do fim da trégua, Israel interrompeu completamente o fluxo de ajuda internacional vital para os 2,4 milhões de habitantes afetados por uma crise humanitária sem precedentes.

A guerra eclodiu em 7 de outubro de 2023, após um ataque do Hamas em território israelense que deixou 1.218 mortos, a maioria civis, de acordo com uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.

Naquele dia, 251 pessoas foram sequestradas, das quais 58 permanecem detidas em Gaza e 34 morreram, segundo o Exército israelense.

Desde então, as operações militares de Israel em represália deixaram 52.365 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

“O mundo testemunhou um genocídio ao vivo em suas telas”, denunciou a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, no prefácio do relatório anual de direitos humanos da organização, publicado nesta terça-feira.

“Os Estados assistiram, como se fossem impotentes, Israel matar milhares de palestinas e palestinos, massacrar famílias inteiras de várias gerações e destruir residências, meios de subsistência, hospitais e estabelecimentos escolares”, apontou.

Na seção do relatório sobre o Oriente Médio, a Anistia reitera suas acusações de “genocídio”, já formuladas em 2024, mas que as autoridades israelenses rejeitam categoricamente.

– “Fome” e “desespero” –

O relatório cita “homicídios”, “danos graves à integridade física ou mental de civis”, “deslocamentos forçados e desaparecimentos” e “a imposição deliberada de condições de vida destinadas a provocar a destruição física dessas pessoas”.

“O bloqueio de Gaza mata em silêncio”, disse a porta-voz da UNRWA, Juliette Touma, em uma sessão informativa.

“As crianças de Gaza vão dormir com fome. Os doentes e feridos não podem receber atendimento médico devido à escassez (…) nos hospitais”, afirmou.

“A fome e o desespero estão se espalhando, enquanto alimentos e suprimentos de ajuda humanitária são usados como armas. Gaza se tornou uma terra de desespero”, acrescentou.

Além disso, cerca de 1,9 milhão de palestinos (90% da população da Faixa de Gaza) tiveram que abandonar seus lares em consequência do conflito, lembra a Anistia, que acusa Israel de provocar “deliberadamente uma catástrofe humanitária sem precedentes”.

“Gaza põe à prova a justiça internacional e a nossa humanidade”, disse Heba Morayef, diretora da Anistia para o Oriente Médio e o Norte da África, em uma coletiva de imprensa.

Nesta terça-feira, a Defesa Civil palestina relatou outras sete mortes em ataques israelenses.

Além disso, o Crescente Vermelho palestino anunciou, também nesta terça-feira, a libertação de um socorrista palestino detido desde um confronto entre soldados e socorristas em março, no sul da Faixa de Gaza.

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