Os ‘Leões’ da Igreja: o que o histórico do nome pode revelar sobre a conduta de Papa Leão XIV

Relembre os 13 ‘Leões’ anteriores ao Papa Leão XIV – Foto: Vatican News/ND
O estadunidense Robert Francis Prevost, de 69 anos, escolheu o nome de Papa Leão XIV para marcar o seu mandato à frente da Igreja Católica. O nome é um dos mais escolhidos pelos pontífices eleitos e foi usado por 13 papas anteriores.
A última vez que alguém escolheu esse nome foi em 1878, quando o Papa Leão XIII foi eleito, enquanto o primeiro foi Leão I, em 440.

Os ‘Leões’ da Igreja: relembre os antecessores de Papa Leão XIV
De santos a antipapas, os outros papas que adotaram o nome “Leão” têm currículos diferentes, mas indicam que o pontificado do Papa Leão XIV seja marcado por reorganizações internas na Igreja Católica, bem como um foco na diplomacia.
Leão XIII: defensor dos trabalhadores
O pontificado de Leão XIII (1878-1903) foi marcado por um forte foco na diplomacia com os governos civis – contrastando com a postura mais rígida do seu antecessor, Pio IX, que era contra a unificação da Itália e a separação do Estado e da Igreja. Ainda, ele publicou diversas cartas com temas sociais, com detaque para a Rerum Novarum (“do novo mundo”).
Uma das questões mais amplamente abordadas pelo último “Leão” foi a condição dos trabalhadores. Ele sempre enfatizou a necessidade de um salário justo para os empregados, mas também defendia o direito à propriedade privada, buscando conciliar os direitos dos patrões e funcionários.
Leão XII: nomeador de padroeiro do Brasil
O Papa Leão XII (1823-1829) se concentrou na disciplina e na reorganização interna da Igreja – incluindo a reestruturação dos dicastérios romanos -, além de lidar com questões políticas e sociais da época, especialmente devido à crescente influência do liberalismo e o desenvolvimento do nacionalismo em diversos países na época.
Ele foi o responsável por fazer a Igreja reconhecer, em 1826, o Brasil como um império independente, bem como pela nomeação de São Pedro de Alcântara como padroeiro do novo país – posto que o santo ocupa até hoje em conjunto com Nossa Senhora de Aparecida.
Leão XI: mandato curto
Dono de um dos pontificados mais curtos da história, o Papa Leão XI não teve muito tempo para implementar suas políticas, já que reinou por apenas 27 dias no ano de 1605. Seu nome é associado ao período em que a Igreja se posicionou fortemente contra a Reforma Protestante – posição defendida pelo pontífice anterior, Clemente VIII, e pelo próximo, Paulo V.
Leão X: mecenas das artes
Se hoje Roma é um dos centros culturais e artísticos do mundo, muito se deve ao Papa Leão X (1513-1521). Ele atuou como um mecenas das artes, patrocinando artistas e escritores – como Rafael, que ajudou a construir a Basílica de São Pedro.
No entanto, seu pontificado também é marcado por uma forte crise financeira da Igreja, muito por conta do seu mecenato. Ele promoveu a venda de indulgências para arrecadar fundos, o que foi ponto de crítica de Martinho Lutero. Leão X excomungou Lutero em 1521 – que havia iniciado a Reforma Protestante a partir da sua insatisfação com a instituição.
Leão IX: santo prisioneiro
Considerado um santo pela Igreja, Leão IX (1049-1054) empenhou uma série de reformas e esforços para fortalecer a Igreja, especialmente contra problemas da época, como a simonia – compra e venda de cargos eclesiásticos – e o casamento clerical. Ele tentou evitar o Grande Cisma do Oriente (que acabou ocorrendo após sua morte).
Ele também investiu esforços na defesa do território italiano contra as invasões dos normandos, mas foi derrotado e feito prisioneiro. Leão IX morreu pouco após retornar a Roma e foi canonizado em 1087, tendo seu dia celebrado em 19 de abril.
Leão VIII: ‘antipapa’
O mandato do Papa Leão VIII (964-965) foi marcado pela falta de reconhecimento da própria Igreja Católica, o que faz ele ser considerado um “antipapa” – pontífices ilegítimos. Devido à breve duração (11 meses) e à controvérsia em torno da sua eleição, o seu pontificado teve pouco impacto na história da instituição.
Leão VII: ‘antibruxo’
O Papa Leão VII (936-939) teve seu mandato marcado pela não autorização do batismo forçado de judeus. Em contrapartida, ele permitiu que fossem expulsos das cidades que se recusassem a abraçar o cristianismo. Ainda, ele fortaleceu a luta contra a prática de bruxaria e adivinhação.
Leão VI: eleito e morto pela mesma mulher
Reinando durante o “período das trevas” do papado no século X, o pontificado de Leão VI (928-929) durou apenas sete meses. Sua eleição foi fortemente influenciada por Marózia, uma nobre toscana cujas ações intervinham na Igreja. Durante seu breve pontificado, ele não conseguiu implementar nenhuma política relevante, sendo foi feito prisioneiro e morto a mando de Marózia.
Leão V: morto na prisão por causas desconhecidas
Com um mandato de apenas dois meses, a vida do Papa Leão V (903) ainda é cercada de mistérios. Não há registros sobre se ele era de origem humilde ou se tinha família abastada e não se sabe a qual ordem cardinalícia ele pertencia.
Uma das facções da Igreja, não satisfeita com a sua escolha para o papado, organizou uma insurgência prendeu Leão V, com ele morrendo misteriosamente atrás das celas.
Leão IV: o santo que sobreviveu a invasões, incêndios e terremotos
Outro “Leão” canonizado pela Igreja (cujo dia é 17 de junho), o Papa Leão IV, (847-855) se ocupou em defender a Igreja contra ameaças externas e internas, incluindo invasões sarracenas, incêndios e terremotos. Ele se destacou pela fortificação de Roma e a pela construção de uma muralha no entorno do Vaticano, cirando um sistema defensivo contra os sarracenos.
Leão III: coroador dos romanos
O mandato do Papa Leão III (795-816) foi marcado pela coroação de Carlos Magno como Imperador dos romanos e a defesa da veneração de imagens sagradas, contra o iconoclasmo. Ele também lidou com disputas teológicas como o adocionismo, crença de que Jesus nasceu humano e foi adotado por Deus como filho, o que foi condenado pela Igreja. Ele foi canonizado e seu dia é 12 de junho.
Leão II: defensor das tradições
O Papa Leão II (682-683) teve um mandato de apenas nove meses, mas foi significativo para a Igreja Católica. Ele é lembrado por consolidar a influência da Sé de Roma e pela sua atenção especial aos santos mártires São Sebastião e São Jorge. Além disso, ele promoveu a restauração da Igreja de Santa Bibiana. Ele é considerado santo e seu dia é 3 de julho.
Leão I: consolidador do poder papal
Primeiro a levar este nome, o Papa Leão I, chamado de Leão Magno (440-461) é apontado como o homem que conseguiu dissuadir Átila, o Huno, de invadir a península itálica, sendo também responsável por proteger Roma de uma invasão dos Vândalos.
Leão Magno estabeleceu as bases para o reconhecimento da primazia de Roma sobre as demais igrejas, afirmando que o bispo de Roma detinha uma autoridade universal derivada de São Pedro e consolidando o poder papal.

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