O Papa Leão XIV vai seguir os passos de Francisco? Quais as perspectivas para o seu pontificado

Papa Leão XIV foi eleito nesta quinta-feira (8) – Foto: Vatican News/ND
A eleição do Papa Leão XIV pode ter sido uma surpresa para muitos, afinal, ele não estava presente nas listas de favoritos para o pontificado. No entanto, a sua escolha indica os caminhos que a Igreja Católica pretende seguir nos próximos anos.
Para entender quais são os planos da Igreja e o que devemos esperar do mandato do novo Papa, o ND Mais ouviu especialistas que podem apontar como será o pontificado do primeiro Papa norte-americano da história.

Quem é Robert Francis Prevost, o Papa Leão XIV
Ligado à vertente agostiniana da Igreja Católica, Prevost ingressou em 1981 no noviciado da Ordem de Santo Agostinho. Sete anos depois, foi enviado à missão de Trujillo, no Peru, da qual foi diretor do projeto de formação comum dos aspirantes agostinianos dos vicariatos de Chulucanas, Iquitos e Apurímac. A missão durou 11 anos.
Anos depois, foi nomeado Prior Provincial da sua Província, “Mãe do Bom Conselho”, em Chicago. Depois, foi nomeado Prior Geral, tornando-se responsável pelos processos de planejamento e gestão da Ordem Agostiniana ao redor do mundo. Em 2014, foi ordenado bispo de Chiclayo, no Peru.
Em 2023, Prevost foi chamado por Francisco, que lhe concedeu o título de arcebispo. No período de doença do Papa argentino, foi o estadunidense quem presidiu o terço pela saúde do então pontífice, em março de 2025.
Prevost era um dos cardeais mais próximos ao Papa Francisco – Foto: Vatican News/ND
O que esperar do pontificado do Papa Leão XIV?
O que a Igreja espera com a escolha do papa
Segundo o teólogo Huanderson Silva Leite, a escolha do Papa Leão XIV foi uma surpresa, mas dentro do que se imaginava. “Quando a gente olhava para os nomes cotados, não víamos o dele. Mas, em uma perspectiva, foi aquilo que se esperava, de alguém que pudesse dar continuidade às reformas do Papa Francisco e, ao que tudo indica, ele vai seguir nessa linha”, analisa o especialista.
Para o Arcebispo da Arquidiocese de Florianópolis, Dom Wilson Tadeu Jönck, a influência dos Estados Unidos teve um peso na decisão da Igreja Católica. “O fato de ser americano também tem um significado. É uma parte do mundo de onde nunca surgiu um papa. É uma nação poderosa, onde a Igreja sempre foi muito próxima de Roma, inclusive, economicamente, muitas vezes era ela que socorria a própria Igreja em tantas obras”, entende o religioso.
Para Huanderson, embora o Papa Leão XIV tenha nascido nos Estados Unidos, a sua longa atuação no Peru pode ter sido determinante na escolha. “A gente já percebe que se trata de um cardeal que conhece a realidade latino-americana, uma linha adotada pelo Papa Francisco”, aponta.
O que o nome do Papa Leão XIV pode indicar
O teólogo sugere que o Papa Leão XIV trará um forte caráter social para o seu pontificado, seguindo a linha de Francisco. “Ele teve uma experiência missionária muito forte no Peru, inclusive atuando em zonas rurais. Nos discursos, ele segue muito a questão da justiça social e da pobreza. O nome Leão XIV indica, possivelmente, a linha do Leão XIII, que foi, na história da Igreja, aquele que promulgou as primeiras encíclicas sobre a doutrina social”, avalia.
O pontificado de Leão XIII (1878-1903) foi marcado pela publicação de diversas cartas com temas sociais, com destaque para a Rerum Novarum (“Do novo mundo”). Nela, o pontífice aborda a condição dos trabalhadores, enfatizando a necessidade de salários justos.
Dom Wilson também enfatiza o legado de Leão XIII. “Ele lançou a primeira encíclica de caráter social. Depois, vieram sucessivas encíclicas nessa linha de ver a questão do trabalho, do sindicato, da dignidade humana. Questões que, como documento da Igreja, foi a primeira vez [que foram abordadas]. Acho que se falará bastante de Leão XIII durante esse pontificado”, relembra.
Para os especialistas, o Papa Leão XIV seguirá os passos de Leão XIII – Foto: Vatican News/ND
O que esperar da governança do Papa Leão XIV
O arcebispo catarinense espera por um longo mandato, em que muitas políticas implementadas terão efeito ainda com o novo Papa no trono. “Ele é relativamente novo, tem 69 anos e parece ter boa saúde. Então será um pontificado longo. Ele vai deixar um legado, vai fazer acontecer algumas coisas com princípio, meio e, muitas, com fim também”, prevê.
Em termos de administração, Huanderson aponta para uma continuidade com a linha do papa anterior. “Tudo indica que vão continuar tendo reformas na Igreja na sua governança. Ele defende a transparência na escolha dos bispos. Ele busca perfis mais pastorais, e não meramente administrativos”, considera.
“Ele deve continuar, também, a prioridade a pastores próximos do povo, incluindo uma maior diversidade geográfica. Poderemos ver mais bispos na África, na Ásia e na própria América Latina”, acrescenta o teólogo, destacando uma política adotada por Francisco, de tornar a Igreja menos europeia ao privilegiar a indicação de clérigos de todos os continentes.
Linha de moral e doutrina
Huanderson considera que o Papa Leão XIV não deve seguir a linha de moral e doutrina do Francisco. “Em alguns discursos antigos dele, sempre se porta como um defensor da família tradicional e crítico da homossexualidade no clero. Ao que tudo indica, ele segue um pouco mais a linha tradicional também no que diz respeito ao aborto e à eutanásia”, pondera.
Para Dom Wilson, a ordem religiosa do novo papa, os agostinianos, deve influenciar no seu pontificado. A Ordem de Santo Agostinho defende o ideal de vida em comunidade, espelhando o modelo das primeiras comunidades cristãs. “Santo Agostinho é dos pensadores cristãos mais lidos, não só na Igreja Católica, mas na história. Ele é anterior à Reforma [Protestante] e deixou muitos escritos sobre qual é a orientação da Igreja”, explica o arcebispo.
Apesar das diferenças, Huanderson entende que a defesa por reformas internas na Igreja Católica deve estabelecer um caráter de continuidade com o pontificado de Francisco. “Ele deve seguir a linha da Igreja que dialoga mais, que é sinodal e mais descentralizada. A questão do diálogo inter-religioso também deve ter uma linha de continuidade, incluindo com a aproximação a outras denominações cristãs e a outras religiões”, examina o teólogo.
Dom Wilson também acredita que o novo pontífice dará continuidade a muitas obras do Papa argentino. “Algumas coisas que Francisco incentivou e colocou serão retomados pelo Papa Leão XIV, sem dúvida alguma. Às vezes a gente acha que é o Papa que cria, mas ele faz análise da realidade da Igreja e vê quais outras realidades devem ser implementadas. De alguma forma, ele segue a cartilha [de Francisco]. Ele vai, depois, dar a marca dele em como abordar determinadas áreas”, conclui o arcebispo.

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