De herança familiar a patrimônio: como o x-salada virou símbolo cultural de Criciúma

Xis-salada é considerado prato típico dos criciumenses – Foto: Daniel Lanches/@daniellanchescriciuma/Instagram
O x-salada, lanche preferido de gerações de criciumenses, está sendo oficialmente documentado. A pesquisa reúne entrevistas com os proprietários de lanchonetes mais antigos em atividade na cidade, como forma de preservar a memória de quem ajudou a construir essa tradição gastronômica.
Os registros fazem parte de um processo de valorização do x-salada, reconhecido como patrimônio pela Lei nº 8503, de 7 de dezembro de 2023. O prefeito de Criciúma, Vagner Espíndola, reconheceu a relevância do lanche para a memória do criciumense e propôs uma posição de destaque nas comemorações do centenário de emancipação.

Registro documental sobre a história do x-salada em Criciúma – Foto: Gregori Flauzino/Decom/ND
“A história da nossa cidade, da nossa gente, é fascinante. Cada mão construiu com trabalho, dedicação, esperança e fé tudo que vivemos nos dias de hoje. Nesse sentido, as mãos dos “chapeiros” criaram o lanche preferido dos criciumenses, o x-salada. O legado deles merece destaque no ano do centenário”, afirmou o prefeito.
A presidente da Fundação Cultura de Criciúma, Cristiane Uliana Zappelini, ressaltou a relevância da documentação histórica como forma de proteger tal legado.
“Nós estamos reunindo as entrevistas, como forma de documentos orais, para tentar reconstituir a história do x-salada em Criciúma. Conhecendo os primeiros estabelecimentos, as pessoas que foram pioneiras, as receitas, o modo de fazer, tudo isso para a gente é importante para compor a história desse prato gastronômico aqui na cidade”, confirmou.
X-salada é herança familiar
“Ainda lembro do cheiro do tempero, que tomava conta do ambiente”, relembra emocionada Daiane Bitencourt, filha do pioneiro “chapeiro” em Criciúma, fundador do Barão Lanches, José Juarez Bitencourt.
X-salada no prato, no Barão Lanches – Foto: Barão Lanches/@barao.lanches/Instagram
Em seu relato para os historiadores da Fundação Cultural, Daiane contou que o pai chegou em Criciúma aos 16 anos e trouxe consigo a vontade de empreender e ter a sua própria lancheria. “Barão”, como era conhecido, havia trabalhado na Rede Tritão, em Florianópolis, e iniciou em Criciúma com uma filial da lanchonete.
Em meados dos anos 80, a lanchonete foi inaugurada, um marco para a tradição gastronômica de Criciúma. “Esse reconhecimento nos faz perceber que tudo que o pai fez, tudo que ele construiu, deu certo. E esse legado é muito lindo, porque pelo Barão já passaram umas três gerações de clientes. Já tivemos relatos de filho, pai e avô guardando a tradição de comer os nossos lanches”, concluiu.
Leandro Oliveira, proprietário do Daniel Lanches, também deu seu relato. Segundo ele, o tradicional lanche salvou a sua vida, começou a trabalhar com 12 anos em uma lanchonete e não parou mais.
Leandro Oliveira, proprietário do Daniel Lanches, um dos estabelecimentos de x-saladas mais tradicionais de Criciúma – Foto: Gregori Flauzino/Decom/ND
“A primeira vez que comi xis fui a criança mais feliz do mundo. Eu praticamente morei dentro do estabelecimento, a gente passava por muita dificuldade, mas sempre tinha o que comer. Hoje eu tenho o prazer de chegar lá e atender bem os nossos clientes, ver eles ficarem felizes com o nosso lanche”, relatou.
Perguntado sobre o que faz do lanche ser tão desejado, Leandro de pronto respondeu, ressaltando as principais características. “O que fez de Criciúma ser a Terra do x-salada é como ele é feito. Aberto, com bastante milho e maionese caseira”, afirmou.
A oficialização do x-salada Criciumense como patrimônio cultural imaterial visa fortalecer, promover e incentivar o comércio local, que há gerações preserva essa receita autêntica. O lanche representa um símbolo da identidade criciumense, refletindo a interação entre a cultura local e a história da cidade.

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