Advogada catarinense coordenou campanha de Zambelli e negociou com hacker que invadiu CNJ

Cristiane Marin trabalhou na campanha de Zambelli e negociou com Delgatti – Foto: @carla.zambelli/Carla Zambelli/Instagram
A advogada catarinense Cristiane Marin, que participou da coordenação da campanha eleitoral da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), aparece em áudios negociando pagamentos com Walter Delgatti, hacker condenado por invadir o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Zambelli e Delgatti foram condenados nesta quarta-feira (14) pelo STF (Supremo Tribunal Federal) pelos crimes de invasão de dispositivo informático e inserção de dados falsos. A parlamentar recebeu pena de 10 anos de prisão e perda de mandato.

Embora tenha sido mencionada por Delgatti, Cristiane Marin não foi denunciada nem responde a qualquer acusação formal. A reportagem do ND Mais procurou a advogada, mas não obteve retorno até o fechamento deste texto. O espaço segue aberto.
Em áudio entregue pela defesa do hacker à Polícia Federal, Cristiane Marin descreve uma negociação de pagamento para ele e promete fazer uma ligação para “analisar a proposta”.
“Só para te dar um alô e dizer que hoje à tarde ainda eu te ligo pra gente trocar ideia sobre o pagamento e sobre essa tua proposta, tá? A gente tá no corre da campanha e acontece que às vezes não dá tempo de eu te ligar”, afirmou Cristiane em mensagem enviada a Delgatti em 2023.
Delgatti usou áudio de advogada catarinense para argumentar que prestou serviços à Zambelli – Foto: Edilson Rodrigues/ Agência Senado
O arquivo foi usado pelo hacker para alegar que, desde o começo da campanha eleitoral de 2022, ele teria recebido dinheiro da equipe da parlamentar. Segundo o advogado de defesa de Delgatti, Ariovaldo Moreira, o áudio da advogada catarinense seria uma prova contundente da prestação de serviços para Zambelli.
Segundo o Metrópoles, a Polícia Federal obteve pelo menos quatro comprovantes de transferências via Pix da equipe de Zambelli para Delgatti. Conforme a parlamentar, porém, apenas uma transação seria relacionada aos serviços digitais.
A deputada alegou que os pagamentos eram relacionados a compra de uísque, que seria vendido pelo hacker. As transferências somam R$ 13,5 mil. Daniel Bialski, advogado de Zambelli, afirmou ter entregue à PF capturas de tela e fotos que comprovariam o negócio envolvendo a bebida alcoólica.
Advogada catarinense participou da campanha de Zambelli por ‘amizade e amor’
Cristiane Marin possui um escritório de advocacia em Florianópolis e é diretora de duas empresas em Santa Catarina, presididas pelo seu marido e que, juntas, tem capital de R$ 17 milhões. Se consideradas todas as relações societárias do casal, o montante chega a R$ 64 milhões.
Deputada fez publicação no dia 14 de fevereiro de 2025 homenageando Cristiane Marin pelo Dia do Amigo – Foto: @carla.zambelli/Carla Zambelli/Instagram
Durante a campanha, Zambelli afirmou que Cristiane Marin é sua melhor amiga e ela atuou como coordenadora por “amizade, idealismo político e amor”.
Na prestação de contas de Zambelli, a advogada catarinense aparece como “coordenadora de campanha”. Nos 47 dias do calendário oficial do primeiro turno, a deputada declarou gastos de R$ 30 mil com esse serviço, valor que equivale à cerca de R$ 638 por dia pagos à Cristiane.
Zambelli e Delgatti foram condenados pelo STF
Carla Zambelli e Walter Delgatti foram condenados por invasão aos sistemas do CNJ e inserção de documentos falsos. A deputada recebeu pena de 10 anos de prisão, além de perda de mandato. O hacker foi condenado a oito anos.
A sentença foi aplicada por unanimidade pela Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) na quarta-feira (14). Ambos os condenados também respondem pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
Zambelli foi condenada a 10 anos de prisão pelo STF – Foto: Lula Marques/ EBC
O julgamento iniciou na sexta-feira (9) e, na ocasião, Cristiane Marin fez uma publicação em suas redes sociais defendendo Zambelli. Segundo ela, a parlamentar estava sendo condenada injustamente.
“Quem te conhece sabe da tua honestidade, da tua coragem e do quanto você se doa por um Brasil mais justo, mais livre e mais próspero”, declarou a advogada.
Além da pena de prisão, Zambelli e Delgatti terão que pagar juntos uma indenização de R$ 2 milhões.  Conforme a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), Zambelli teve “papel central” na invasão aos sistemas do CNJ e foi “autora intelectual” do ataque hacker.
A defesa da deputada divulgou uma nota, na última sexta-feira (9), afirmando que o julgamento foi “absolutamente injusto” e resultou em condenação “sem provas irrefutáveis e induvidosas”. A efetivação da cassação do mandato dela depende de validação da Câmara dos Deputados.

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