Oceanógrafo avalia que a embarcação foi sujeita ao fluxo da corrente das Canárias, no litoral do continente africano, passando para a corrente Norte Equatorial, que trouxe o barco ao Pará. PF aponta que vítimas vieram da Mauritânia e de Mali, na África.
Reprodução / Globo
A Polícia Federal informou nesta terça-feira (16) que o barco encontrado na praia de Ajuruteua, litoral paraense, possivelmente sofreu influência de correntes oceânicas (marítimas) até chegar ao Brasil. Segundo um especialista, essas correntes podem deslocar um objeto do oceano Atlântico para o Pacífico, do Pacífico para o Índico e assim por diante.
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Segundo o doutor em oceanografia Yuri Prestes, formado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), já que a possível origem das vítimas é o oeste da África, o barco passou pela corrente marítima das Canárias, que, na altura da Mauritânia (um dos países que consta nos documentos das vítimas), se bifurca, podendo ir para o sul do continente africano ou pode adentrar a corrente Equatorial do oceano Atlântico, levando a embarcação ao litoral do Brasil.
🌊 Corrente Norte Equatorial
O professor explicou que, já dentro da corrente Equatorial, formada por um sistema de correntes na região próxima ao grau zero de latitude do planeta e que flui ao longo da área tropical, existe a Norte Equatorial, responsável por trazer o barco, caso a perícia comprove que ponto de partida fica no oeste da África. .
Yuri explicou que as correntes oceânicas dependem de alguns fatores, como ventos atmosféricos e a rotação do planeta.
Barco foi encontrado à deriva no Pará com corpos no fundo da embarcação em estado de decomposição.
Reprodução
O pesquisador diz que qualquer objeto à deriva, como um container que acaba caindo de um navio transportador cargueiro e consiga flutuar fica dependente das direções das correntes.
“E isso acontece com todo o tipo de material que está à deriva no oceano. Por exemplo, um copinho de café que é produzido em outro país, encontrado em outro local muito distante. O sistema de correntes oceânicas superficial, em âmbito global, é muito grande”.
De acordo com eles, este sistema é resultado de um balanço físico de movimento que envolve vento, a rotação da terra, a proximidade com a costa e a interação com o fundo”, explica.
No caso do barco encontrado no Pará, Yuri Prestes explica que se a embarcação não sofreu nenhum dano no percurso e nem uma grande tempestade, é possível que ela tenha, de fato, flutuado e ficado à deriva por meses.
O caso do “Verão da Lata”
Yuri Prestes também lembra do que ocorreu em 1987, quando os tripulantes de um navio que ia da Austrália para os Estados Unidos ficaram com medo de serem interceptados pela polícia brasileira e jogaram ao mar 22 toneladas de maconha em latas.
Somente 3,5 toneladas foram capturadas e o restante ficou à deriva no mar e foi encontrada principalmente no litoral do Rio de Janeiro e São Paulo. No RJ, o caso ficou conhecido como “Verão da Lata”.
“As correntes oceânicas, se não houver nada que influencie nisso e acabe afundando, por exemplo, o que quer que seja, um container, uma embarcação, o que quer que seja, se continuar à deriva, vai embora, vai ficar a mercê das correntes oceânicas”, disse Yuri.
Migrantes são do continente africano
A Polícia Federal acredita que ao menos 25 pessoas estavam no barco encontrado à deriva no Pará. Ao todo, nove corpos foram encontrados e documentos apontam que as vítimas são da África. No entanto, a investigação suspeita que o barco tinha mais ocupantes quando iniciou a viagem.
“Ao menos 25 pessoas estavam na embarcação à deriva encontrada na região de Bragança no último sábado (13/4). Esse é o número de capas de chuva (23 verdes idênticas e duas amarelas) que estava no barco, de acordo com a perícia da Polícia Federal”, diz a PF em nota.
Documentos encontrados também indicam que a embarcação partiu após o dia 17 de janeiro de 2024 e que as vítimas eram migrantes da região da Mauritânia e Malli, no continente africano. Por isso, a suspeita inicial é que o barco tenha saído da Mauritânia.
Apenas a perícia deve apontar com exatidão o local de saída do barco, assim como a causa da morte. A Polícia não informou suspeitas sobre o que pode ter acontecido com as demais pessoas que não foram encontradas no litoral paraense.
Os trabalhos de perícia seguem pelos próximos dias, de acordo com o superintendente da PF no Pará, José Roberto Peres.
“Um trabalho minucioso de perícia começa e deve se estender até o fim de semana e ali vai ser identificada a causa mortis, mas provavelmente a causa de morte foi falta de alimento e água” , informou o superintendente.
Capas de chuvas estavam em barco encontrado com corpos e indicam que havia mais pessoas na embarcação, diz PF
Polícia Federal/Dikvulgação
Foram nove corpos resgatados em Bragança, no nordeste do Pará, e enviados para o Instituto Médico Legal (IML) na capital Belém. Oito das vítimas estavam no barco encontrado no sábado (13) por pescadores no litoral paraense. Um nono corpo foi achado na água próximo à área onde o barco estava. Todos em avançado estado de decomposição.
O caminhão frigorífico com os corpos chegou a Belém na tarde desta terça-feira (16) para início da perícia -veja aqui os detalhes.
Caminhão frigorífico chega a Belém com corpos achados em barco no litoral de Bragança, PA
PF vai apurar indícios de imigração ilegal
O superintendente da PF no Pará, José Roberto Peres, informou que foram localizadas no barco diversas capas de chuvas idênticas, que apontam para possibilidade de imigração ilegal.
Barco com corpos foi encontrado à deriva no litoral paraense
PF/Reprodução
“Uma organização que muito provavelmente contratou o barco, vendeu as vagas. As capas de chuvas trazem indício forte de que há uma organização criminosa que se enriquece com a tragédia humana da imigração ilegal”.
Peritos vão analisar amostras de DNA, digitais e a arcada dentária para identificar as pessoas encontradas mortas. As informações serão compartilhadas com a Interpol. O objetivo é apurar se há reclamação de pessoas desaparecidas.
Barco com corpos encontrados no PA são levados ao IML
A embarcação foi localizada em área conhecida como “Barra do Quatipuru”, nas proximidades da praia de Ajuruteua, em Bragança, distante cerca de 215 quilômetros de Belém, na região conhecida como salgado paraense.
O barco também vai passar por perícia feita pela Marinha, que não informou data para os trabalhos.
Infográfico: veja onde barco com corpos foi encontrado no Pará
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