Homem é picado por cobra 200 vezes e seu sangue se torna um super antídoto

Tim Friede foi picado por cobras 200 vezes e exposto a veneno de cobra centenas de vezes – Foto: Reprodução/ND
Durante quase duas décadas, o norte-americano Tim Friede se expôs voluntariamente ao veneno de algumas das cobras mais letais do planeta.
O que começou como uma tentativa pessoal de desenvolver imunidade transformou-se em um feito científico surpreendente: seu sangue pode conter a chave para um antídoto universal contra picadas de cobra.

Um homem corajoso
Friede, ex-mecânico de caminhões, foi picado mais de 200 vezes e aplicou em si mesmo mais de 700 doses de veneno de cobra.
Ele literalmente quase morreu, chegou a entrar em coma após duas picadas sucessivas. Mesmo assim, não desistiu.
“Eu continuei insistindo o máximo que pude, pelas pessoas que estão a 12 mil quilômetros de mim e que morrem por causa de picadas de cobra”, disse ele à BBC.
Como são feitos os antídotos para o veneno de cobra?
Atualmente, o tratamento padrão contra veneno de cobra é feito com anticorpos obtidos de cavalos que recebem doses pequenas e controladas do veneno.
Homem aplicou em si mesmo mais de 700 doses de veneno de cobra – Foto: The New York Times/Reprodução/ND
O problema é que o antídoto precisa ser específico para a espécie de cobra envolvida.
Isso vale até para cobras da mesma espécie, mas de regiões diferentes, pois elas podem ter venenos distintos. Isso dificulta o tratamento, especialmente em áreas remotas.
Foi nesse contexto que a empresa de biotecnologia Centivax viu em Tim uma oportunidade única.
O CEO Jacob Glanville, conta que, ao ouvir sobre o caso, pensou: “se alguém no mundo desenvolveu anticorpos amplamente neutralizantes, deve ser ele”.
Com a permissão de Friede, uma equipe de pesquisadores coletou e analisou seu sangue e o resultado foi promissor.
O sangue ‘superpoderoso’
O estudo, publicado na revista Cell, identificou dois anticorpos que neutralizam classes inteiras de neurotoxinas, um tipo de veneno comum nas chamadas cobras elapídeas, como najas, mambas, taipans e kraits.
Cientistas analisaram seu sangue e descobriram antídoto poderoso para veneno de cobra – Foto: Jacob Glanville/BBC/ND
Os testes mostraram que camundongos sobreviviam a doses fatais do veneno de 13 das 19 espécies testadas. Para as seis restantes, a proteção foi parcial.
A pesquisa ainda está em fase inicial, mas os cientistas acreditam que adicionar mais componentes ao coquetel pode ampliar sua eficácia. A meta: um antídoto universal para picadas de cobra.
A expectativa, segundo os pesquisadores, é que em 10 ou 15 anos exista uma solução eficaz para todas as classes de toxinas presentes nesses animais.
A expectativa, segundo os pesquisadores, é que em 10 ou 15 anos exista uma solução eficaz para todas as classes de veneno de cobra – Foto: Jacob Glanville/BBC/ND
No mundo, cerca de 140 mil pessoas morrem por ano devido a picadas de cobra e outras centenas de milhares sofrem amputações ou ficam com sequelas permanentes.
Para Friede, ver sua missão se transformar em avanço científico é motivo de orgulho.
“Estou fazendo algo de bom para a humanidade, e isso foi muito importante para mim”, completou.

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