Famílias do Oeste de SC relatam economia com alimentos cultivados para consumo próprio

Famílias do Oeste de SC relatam economia no cultivo de alimentos para consumo próprio – Foto: Divulgação/Freepik/ND
Diante dos altos índices de insegurança alimentar no Brasil, famílias rurais do Oeste de Santa Catarina estão redescobrindo o valor do cultivo de alimentos para consumo próprio.
Além de garantir uma alimentação mais saudável, a prática gera economia significativa e fortalece vínculos familiares, principalmente com parentes que vivem em centros urbanos.

Dificuldades em uma alimentação adequada
Segundo a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), em alguns casos, os alimentos repassados representam mais do que um salário mínimo em economia mensal.
O tema da segurança alimentar voltou ao centro das discussões após a pandemia de Covid-19, quando milhões de brasileiros enfrentaram dificuldades para manter uma alimentação adequada.
Segundo dados da Rede PENSSAN, em 2022, 58,7% da população convivia com algum nível de insegurança alimentar. Embora os números de 2023 indiquem uma leve melhora, com 27,6% dos domicílios ainda em situação de insegurança, o problema persiste e exige soluções práticas e sustentáveis.
Economia no cultivo de alimentos para consumo próprio
Tradicionalmente associado a populações empobrecidas ou de perfil mais conservador, o autoconsumo agora é visto sob uma nova perspectiva. A produção de alimentos para consumo próprio passou a ser reconhecida como estratégia de soberania alimentar e de resistência econômica.
Agricultores familiares, com apoio de instituições como a Epagri, universidades, prefeituras e ONGs, estão investindo em agroindústrias que produzem itens orgânicos, coloniais e agroecológicos, produtos que, além de nutritivos, são valorizados nos mercados locais.
A produção de alimentos para consumo próprio passou a ser reconhecida como estratégia – Foto: Divulgação/Freepik/ND
Pesquisa revela impactos sociais e econômicos da prática
Entre 2018 e 2020, 381 famílias de 112 municípios do Oeste catarinense participaram de uma pesquisa conduzida por extensionistas da Epagri.
Todas afirmaram cultivar alimentos para consumo próprio, independentemente do tamanho da propriedade ou da atividade econômica principal.
O estudo também mostrou que a transferência desses alimentos para parentes que vivem nas cidades é uma prática comum, especialmente entre pais e filhos, e traz impactos positivos tanto no orçamento quanto na qualidade da alimentação urbana.
Economia mensal supera salário mínimo
De acordo com os pesquisadores Clóvis Dorigon e Cristiano Nunes Nesi, o valor médio que as famílias estimam economizar com o autoconsumo era de R$ 1.351,99 em 2018.
Atualizado para maio de 2024, o montante chega a R$ 1.896,59, superando o salário mínimo vigente, de R$ 1.412,00. Embora os dados sejam baseados na percepção dos agricultores, que costumam subestimar os benefícios, eles revelam o potencial dessa prática para aliviar os custos de vida e garantir acesso a alimentos de maior qualidade, como carnes, laticínios e hortaliças.
Significado cultural e afetivo
O estudo mostra que o autoconsumo não tem apenas uma função econômica ou nutricional: ele carrega um profundo significado cultural e afetivo.
A produção de alimentos, muitas vezes liderada por mulheres, fortalece os vínculos familiares e reforça identidades rurais. Para muitos filhos que vivem nas cidades, receber alimentos da família é mais do que uma ajuda, é uma forma de manter vivas as raízes e tradições do campo.
No Oeste de Santa Catarina, ela garante comida na mesa, gera economia e, acima de tudo, fortalece os laços – Foto: Divulgação/Freepik/ND
Nova etapa da pesquisa: o olhar de quem recebe
Os pesquisadores agora analisam uma segunda etapa do estudo, com base em entrevistas com 80 pessoas que vivem em áreas urbanas, mas que continuam recebendo alimentos da família rural.
“Queremos compreender a importância socioeconômica e emocional dessa transferência de alimentos, especialmente em contextos onde os beneficiários são financeiramente independentes”, explica Clóvis Dorigon.
Os dados preliminares reforçam a relevância do autoconsumo como elo entre o campo e a cidade, e como estratégia concreta na luta contra a insegurança alimentar.
Garantia de comida na mesa
A prática do autoconsumo, que por muito tempo esteve à margem dos debates sobre segurança alimentar, ressurge como solução simples e eficaz diante dos desafios atuais.
No Oeste de Santa Catarina, ela garante comida na mesa, gera economia e, acima de tudo, fortalece os laços entre quem produz e quem se alimenta, em uma troca que ultrapassa o valor do alimento e se firma como um gesto de cuidado e resistência.

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