Tela de Marielle como santa faz parte da exposição “Mulheres que resistem à violência de Estado – ontem e hoje” – Foto: Divulgação/Amanda Vettorazzo
A tela bordada em que uma representação negra de Nossa Senhora das Dores aparece acompanhada dos dizeres “Marielle vive” gerou discussão no plenário da Câmara de São Paulo nesta quarta-feira (21). Amanda Vettorazzo (União Brasil) acusou a obra de intolerância religiosa e pediu sua retirada. Ela bateu boca com Luana Alves (Psol).
O alvo da polêmica faz parte da exposição “Mulheres que resistem à violência de Estado – ontem e hoje”, da médica psiquiatra e artista Maria Goretti Vieira Mendonça, que fica no hall da Câmara de 12 a 26 de maio.
Ela busca com o trabalho narrar histórias de mulheres que sofreram violência estatal, ligando diferentes pontos da história brasileira, “evidenciando nossa ancestralidade negra e indígena, nossa relação com a natureza e religiosidade”, diz texto da exposição. “Maria acolhe seu filho Jesus, assassinado pelo estado, e simboliza a dor das mulheres que tem de enterrar seus filhos numa ordem contrária à natureza.”
A exposição cita nomes como de Carolina Maria de Jesus, escritora de obras como “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada”, e Marielle Franco, vereadora do Psol do Rio de Janeiro, assassinada em março de 2018.
Marielle como santa
A vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil), coordenadora nacional do MBL – Movimento Brasil Livre, levou a foto da tela com a frase “Marielle vive” para pequeno expediente da sessão desta quarta, no plenário, acusando a obra de retratar Marielle como santa e ofender a fé cristã.
Amanda Vettorazzo e Luana Alves bateram boca por causa da tela – Foto: Lucas Bassi/Rede Câmara/ND
“É praticamente uma paródia da mãe de Deus. Eu, como católica, me senti extramente ofendida. Marille não foi santa. Quem diz quem é santo ou não, não é o Psol, não é o PT, e não é a esquerda. Quem diz quem é santo é a Igreja Católica”, declarou a parlamentar.
Luana Alves, vereadora que cedeu espaço para a exposição, rebateu. “Sabe quem era católica? Marielle Franco, que você tanto está ofendendo”. Amanda defendeu que não estava ofendendo a vereadora carioca, e afirmou que a tela, de Marielle como santa, ofende sua fé. A pessolista acusou a vereadora do União Brasil de ofender a artista.
João Jorge (MDB), 1º vice-presidente da Casa, tentou cortar a discussão alegando que naquele momento da sessão não havia direito a “aparte” e chamou a vereadora Ely Teruel (MDB), próxima da lista, a fazer uso da palavra.
Pedido de retirada
Amanda Vettorazzo protocolou na noite desta quinta-feira requerimento ao presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União Brasil), em que pede a retirada da exposição com a tela de Marielle como santa.
“O problema não está na exposição artística em si, mas sim no desrespeito à fé cristã ao usar um símbolo católico como meio de manifestação política e por descredibilizar a Santíssima Virgem Maria em uma paródia artística”, argumentou a parlamentar.
A Câmara de São Paulo tem presenciado discussões ideológicas e polêmicas, como a Guerra das CPIs, que obstruiu comissões na Casa. No mês passado, a vereadora Cris Monteiro (Novo) declarou que “mulher branca, bonita e rica incomoda” ao discutir com servidores que acompanhavam a votação do projeto de reajuste salarial.