A vida acontece nos momentos comuns

A vida acontece nos momentos comuns, como em um belo jantar. Foto: Freepik/Reprodução/ND
Sábado ensolarado, frio lá fora. Sento-me no sofá da sala, envolta pelas cobertas, enquanto o sol me aquece gentilmente. Momentos! Amo as cores do outono que pintam a janela. O silêncio preenche a casa e eu paro. Só paro. Aquela sensação deliciosa que tem quem nunca para.
Esse é o momento em que costumo pensar no tema da coluna da semana, e mais uma vez, a vida se revela no simples. Percebo como a felicidade, muitas vezes, mora aqui: nesse espaço entre um compromisso e outro, nesse olhar distraído pela janela. São cenas que facilmente passariam despercebidas, mas que, quando vividas com presença, ganham um brilho inesperado.

A vida acontece nos momentos comuns, ou melhor, ela acontece o tempo todo. Mas é preciso escolher com quais óculos vamos enxergá-la. É como jantar. Você sempre janta, mas um belo dia o mesmo jantar pode ser apenas um jantar, ou pode ser um encontro leve, divertido, uma memória boa que aquece o coração. Depende do olhar, da intenção, da presença. E, no fundo, é tudo tão simples. Tão fácil.
Lembrei do filme Pequena Miss Sunshine, sobre uma família cheia de falhas, numa viagem improvável, onde os momentos mais marcantes não são as grandes conquistas, mas as cenas cotidianas, inesperadas. Não é sobre vencer concursos ou alcançar grandes vitórias, mas sobre o que acontece no meio do caminho: as conversas no carro, os silêncios constrangedores, as risadas fora de hora. É justamente ali, nos instantes improváveis e aparentemente banais, que mora a beleza da história e, quem sabe, da nossa também. Você já parou para pensar na beleza da história da sua vida?
Na correria do dia a dia, e sei bem o que é isso, temos a tendência de olhar apenas para os grandes marcos: os lançamentos, as conquistas públicas, os projetos que estampam o portfólio. Tudo aquilo que provavelmente “viraliza” nas redes sociais e na mídia. Mas o que constrói a nossa trajetória, pessoal e profissional, é a soma de pequenos gestos, escolhas e momentos.
Costumo pensar nisso quando me perguntam como dou conta de tudo: múltiplos projetos, clientes, colunas, eventos, família, filho, cachorro, e de mim, claro! Não é uma tarefa fácil e, como todo mundo, nem sempre dou conta. Mas me preparei para isso.
Descobri desde cedo que sou multitarefa. Principalmente no mundo dos negócios. Não é fácil, confesso. Mas, olho o macro, penso no business como um todo, e levo isso com a seriedade e o preparo que minha trajetória me permitiu construir: estudo, habilidade, muito treino. Aprendi que é preciso preparo e repertório para equilibrar vários pratos, e que essa competência só se sustenta porque também sou capaz de perceber e valorizar os pequenos detalhes, os rituais silenciosos, o tempo das coisas, aquilo que estrutura a rotina e alimenta a criatividade.
Não existe excelência sem essa capacidade de transitar entre o micro e o macro, você não acha?  Consegue equilibrar vários pratos e conciliar mais de uma coisa ao mesmo tempo? A dica é que não tem como estar sempre atenta ao todo, sem desprezar o que parece pequeno demais. Afinal, são essas pausas, o sofá, o jantar tranquilo, o pôr do sol — que reabastecem a mente para seguir em frente com clareza, estratégia e inspiração.
A vida não pode ser sobre esperar grandes acontecimentos para sentir que estamos vivos. É sobre escolher as lentes com as quais enxergamos cada instante. Podemos passar a vida inteira esperando pela ocasião perfeita ou podemos decidir que a ocasião perfeita é agora, no meio da manhã fria, com o sol aquecendo o rosto e a tranquilidade de simplesmente estar.
A beleza está, quase sempre, no que escolhemos ver e viver.

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