
As mudanças climáticas que causam o aquecimento do planeta podem fazer regiões produtoras da fruta se tornarem impróprias para cultivo. A exportação de banana nanica movimenta cerca de US$11 bilhões anualmente
Mariana Gonçalves/g1
A famosa frase “a preço de banana” para simbolizar algo muito barato pode estar com os dias contados. De acordo com um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Exeter e publicado na revista científica “Nature Food”, as mudanças climáticas irão prejudicar as plantações da fruta na América Latina e a baixa oferta para exportação fará os preços subirem.
Por ser cultivada especialmente em regiões de clima tropical e ser muito sensível à falta de água, o aumento das temperaturas para acima de 30ºC nessas regiões, criará um ambiente adverso para as plantações de banana nanica a partir de 2061.
Esse aumento da temperatura nas regiões de cultivo da fruta irá impactar um comércio agrícola global gigantesco. A banana nanica movimenta cerca de US$11 bilhões anualmente e é uma fonte de receita e emprego para muitos países de baixa e média renda na América Latina e Caribe.
Aproximadamente 50 milhões de toneladas da variedade são produzidas anualmente e desse total, 20 são comercializadas internacionalmente, com foco na exportação para a Europa e Estados Unidos.
A mudança exigiria que a cadeia produtiva global se reorganizasse e as consequências disso ainda não são mensuráveis para as economias agrícolas locais de países produtores e para a diversidade nutricional de países consumidores.
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Condições ideais para a plantação
A banana nanica é cultivada em regiões de baixa altitude, quentes, sem estações bem definidas e com solos ligeiramente ácidos, características encontradas especialmente em locais de clima tropical como América do Sul e Caribe.
Apesar de se dar bem com o calor, a além de ser sensível à falta de água, o aquecimento global e o aumento das temperaturas impactam outros fatores técnicos e logísticos das plantações.
A produção é limitada a áreas próximas a portos e com alta densidade populacional, o que restringe possíveis adaptações. É necessário considerar também que o calor extremo coloca em risco a saúde dos trabalhadores.
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Perda de PIB na Colômbia e aumento de produção no Brasil
Na América Latina, estima-se que a Colômbia e a Venezuela sejam os países que mais sofrerão com a diminuição de suas plantações. No estudo, eles são citados como locais que se tornarão “quase inteiramente subótimos” para a produção de banana para exportação.
Para os colombianos, isso pode representar uma diminuição de ao menos 5% do Produto Interno Bruto (PIB) em um setor da economia que hoje emprega quase 300 mil trabalhadores direta ou indiretamente.
Na contramão dessa tendência negativa, o estudo indica que o Equador e o Brasil são exceções no cenário de declínio generalizado.
No Equador, que já um grande exportador, a área adequada para cultivo pode ser um pequeno aumento.
No que diz respeito ao Brasil, as áreas adequadas para plantio devem se manter especialmente na costa. O nosso país ainda tem um fator a mais: irrigação.
O estudo aponta que o Brasil tem demonstrado um grande e sustentável aumento na área equipada para irrigação. Isso significa que, mesmo com o aumento das temperaturas e a potencial necessidade de mais água, a infraestrutura de irrigação existente ou em expansão pode compensar os déficits hídricos, garantindo a produtividade.
O que fazer para frear os prejuízos
A previsão traçada pelos pesquisadores do Reino Unido não é uma sentença definitiva. Eles listam importantes ações que podem retardar esse impacto das mudanças climáticas na produção e preços da banana nanica.
Melhoramento genético para tolerar o calor: já há esforços para desenvolver uma espécie de banana nanina mais tolerante às altas temperaturas, o que contribui para a resiliência da produção de banana diante de ameaças.
Aumento do uso de tecnologias de irrigação: a irrigação é uma tecnologia que facilita a produção de bananas em regiões mais secas e pode mitigar a limitação de água causada pelas mudanças climáticas.
Desenvolvimento de variedades tolerantes à seca: junto com a manutenção da irrigação, a criação de variedades de banana tolerantes à seca é apontada como uma medida importante.
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