Cristo Rei: desabamento de sacadas em Belém completa 1 ano e vizinhança convive com insegurança


Imóvel, eu fica em área privilegiada da capital, sofreu desvalorização imobiliária após a queda das 13 sacadas em efeito dominó. Câmeras mostram momento do desabamento em Belém
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O desabamento de sacadas do edifício Cristo Rei, em Belém, completou um ano nesta segunda-feira (13). O prédio fica na rua dos Mundurucus, próximo ao centro da cidade.
Os moradores voltaram ao prédio, mas eles e a vizinhança do edifício convivem com incertezas e insegurança de novos incidentes. Um laudo apontou falhas na construção e problemas de manutenção no prédio e apesar da recomendação de demolição, as 13 sacadas do outro lado do edifício seguem no local.
Antes de Depois do desabamento das 13 sacadas.
Google Street View / Reprodução e TV Liberal / Reprodução
Ao todo, 13 sacadas do lado esquerdo do residencial caíram em efeito dominó, após a sacada da cobertura desabar. O caso ocorreu em um sábado, um dia antes do Dia das Mães.
Vídeos mostram os estragos, que não deixaram feridos, apesar do susto.
Vídeo mostra estragos após sacadas de prédio desabarem em Belém
Um ano depois, o caso segue sob sigilo na Justiça, após o inquérito que investiga a ocorrência ter sido entregue pela Polícia Civil (PC).
Questionados sobre o laudo, o Corpo de Bombeiros não se manifestou, assim como o Ministério Público Pará (MPPA), o qual deveria, segundo o Tribunal de Justiça, ser o responsável acerca do documento final.
Queda de sacadas foi flagrada por câmeras em Belém
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Prejuízos e insegurança
Os moradores dos apartamentos em que as sacadas caíram voltaram para casa quase três meses após o ocorrido, em agosto em 2023. Em uma assembleia, eles definiram que não vão mais se manifestar sobre o desabamento e não quiserem informar à reportagem sobre como está sendo viver no local 1 ano depois.
Na época, a queda causou diversos prejuízos materiais também a quem não era morador. As sacadas atingiram carros que estavam estacionados na área. Proprietários de estabelecimentos próximos também viram seus faturamentos despencarem. Além disso, a rua teve interdições por cerca de três dias.
“Meu prejuízo no carro foi de R$ 30 mil, aproximadamente. Quebrou toda a lataria. Ficamos seis meses andando com o carro todo batido. […] Começamos a avisar todas as clientes sobre o que tinha acontecido, e elas foram desmarcando todos os horários. Eu tive um prejuízo de cerca de R$ 15 mil”, relatou a empresária Thescianny Prado, dona de um salão de beleza próximo ao Cristo Rei. Ela tinha estacionado o carro em frente ao prédio naquele dia.
Além da empreendedora, vizinhos do edifício contaram que vivem com certo medo e receio após o ocorrido.
“A gente vive num momento de insegurança aqui, porque…a gente tem aquela sensação de medo”, contou Seu Heliomar, morador das proximidades.
Destroços na rua dos Mundurucus após o desabamento.
Reprodução / TV Liberal
Outra pessoa que convive com a sensação de insegurança é a Carmem Saldanha, idosa que reside bem em frente ao Cristo Rei e relembrou o que foi um dos momentos mais assustadores de sua vida.
“O barulho e a poeira foi demais e o susto também.. pudesse acontecer, não é?!”
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O que disse a perícia, e o que foi feito?
Em agosto de 2023, após quase três meses desde o desabamento das 13 sacadas, os bombeiros liberaram o local depois de uma nova vistoria, e os moradores começaram a voltar aos seus apartamentos. Eles foram retirados no mesmo dia da queda.
A perícia do Pará já havia apontado falhas na construção e deficiências de manutenção do espaço, durante análise revelada em julho daquele ano.
Escombros de sacadas se espalharam pela rua em Belém.
Reprodução / TV Liberal
Os peritos apontaram, ainda, problemas semelhantes nas outras 13 sacadas do outro lado do prédio, que não tinham desabado, afirmando que havia os mesmos riscos de desabamento.
Na época, os bombeiros disseram que iriam recomendar a demolição das sacadas que restaram, do lado direito do edifício. Até esta segunda-feira (13), as sacadas continuam intactas e não foram demolidas.
Gatinho foi resgatado após sacadas desabarem.
Vinícius Macêdo / TV Liberal
Segundo a perícia, a análise técnica revelou uma combinação de falhas, originadas por problemas na construção das sacadas.
“Os vícios construtivos criaram esforços de cargas excedentes para a estrutura das sacadas, que geraram fissuras e trincas para a laje de concreto armado de todas as sacadas do edifício, que permitiram, ao longo do tempo, o surgimento de corrosões nas armaduras de aço”, explicou o engenheiro e perito criminal José Alberto Sá.
Moradora aparece em sacada momentos após o desabamento.
Reprodução / TV Liberal
Ele concluiu ainda que a falta de intervenções preventivas e reparos necessários provocaram um processo de corrosão crítico nas ferragens.
Além disso, os bombeiros informaram que o projeto inicial do Cristo Rei não previa sacadas. Elas teriam sido colocadas durante a construção a pedido dos moradores.
Lei de “autovistoria”
Perícia conclui laudo no prédio em que 13 sacadas desabaram de uma só vez em Belém.
Reprodução / Agência Pará
Em março de 2024, o governo do Pará sancionou a lei nº 10.424, que determina a realização periódica de “autovistoria” em edifícios no estado. A medida ainda precisa ser regulamentada .
A nova proposta de legislação estabelece que o procedimento deve ser realizado pelos condomínios ou proprietários de prédios residenciais e comerciais, bem como pelo poder público em prédios públicos.
As inspeções abrangem estrutura, fachadas empenas, marquises, telhados, obras de contenção de encostas e todas as instalações, que vão resultar em um laudo de vistoria predial, o chamado “LTVP”. O objetivo é contribuir com um ambiente urbano mais seguro, segundo os órgãos responsáveis.
Segundo a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), a “definição da responsabilidade pela fiscalização se dará com a regulamentação da norma, que será realizada após envio de propostas ao Poder Executivo pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-PA) e pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU)”.
Desvalorização imobiliária
O desabamento também afetou o mercado imobiliário na área. Na internet, um ano após o desabamento, um dos apartamentos a venda no local é anunciado. O espaço tem 360 m², distribuídos em quatro quartos, duas salas, lavabo, copa, cozinha além de outros cômodos de serviço e oferta de garagem.
Anúncio de venda de apartamento no edifício Cristo Rei.
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O valor cobrado, de R$ 950 mil, é um reflexo da desvalorização após o episódio e é considerado, por consultores imobiliários, bem abaixo do padrão cobrado em “condições normais”, tendo em vista o tamanho do apartamento e a localização do prédio, próxima ao centro de Belém.
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