
Na pesquisa, são destacadas e ilustradas as práticas como as puxações, benzimentos, rezas, interdições alimentares, confecção de remédios e uma infinidade das experiências passadas de geração para geração. Docente é premiada por trabalho que destaca práticas curandeiras tradicionais
Evelanne Silva/Divulgação – Ilustração/Igum Djorge
Evelanne Silva é professora do curso de História no campus binacional da Universidade Federal do Amapá (Unifap), em Oiapoque, fronteira com a Guiana Francesa. A docente levou o título de vencedora da melhor tese no Prêmio Emanoel Gomes de Moura de Teses e Dissertações da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).
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Na tese “Vovó me disse que isso também cura!: práticas populares de cura entre mulheres em Oiapoque – Amapá. Contribuição para uma educação escolar insurgente”, e o produto “Vovó me disse que isso também cura!”, a professora aborda a tradição curandeira de sua própria ancestralidade.
“A ideia foi por causa da minha vida pessoal, que eu sou neta de mulheres que usavam esses saberes. Isso estava presente na minha desde a infância, sempre vi elas curarem, benzerem […]. Minha bisavó por parte de pai era parteira também. Então isso sempre me chamou a atenção”, explicou Evelanne ao g1.
Professora Evelanne e o barbatimão, um dos materiais usados para práticas curandeiras
Evelanne Silva/Divulgação
O produto em questão se trata de um e-book, que está disponível na internet de forma gratuita. O novo formato de trabalho surge como uma ferramenta educacional tecnológica, para que o saber tradicional possa ser trabalhado de forma lúdica em sala de aula.
Confira a tese
Leia o livro
O trabalho foi desenvolvido pela doutora por meio do primeiro Doutorado Profissional do Programa de Pós-graduação em História da Uema (PPGHist). São destacadas as práticas como:
Puxações;
Benzimentos;
Rezas;
Interdições alimentares;
Confecção de remédios.
Uma infinidade das experiências passadas de geração para geração também são destacadas.
A ideia da abordagem surge a partir da perspectiva da professora de que o assunto das práticas antigas não era tão abordado na educação da fronteira franco-brasileira.
Ausência do assunto na educação é citada na obra
Evelanne Silva/Divulgação
Reconhecimento dos saberes tradicionais
A professora notou que os saberes indígenas são presentes na população e circulam diariamente de forma comum, mas, são pouco discutidos em sala de aula.
“Quando fui trabalhar na docência, trabalhei no ensino básico antes de trabalhar no ensino superior, percebi a ausência dessa abordagem que tem a ver com saberes étnicos, saberes ancestrais, de matriz africana, indígena, saberes afro indígenas […] Então percebi essa ausência, apesar das leis que defendem a cultura indígena e africana”, disse.
A professora explicou que o estudo busca acima de tudo, suprir uma lacuna educacional. Visto que, mesmo com a lei 10.639/03 que torna obrigatório os estudos da história e cultura africana nas escolas, ampliada pela lei 11.645/08 que inclui os povos indígenas, ainda há obstáculos na prática.
“Materiais didáticos e literários ainda carecem de circular para o auxílio dos professores. O meu objetivo foi, a partir do estudo da fronteira-brasileira contribuir para superar essa lacuna […] Encontrar formas de viabilizar através de produtos técnicos e tecnológicos que isso circule na educação de uma maneira mais ampla”, disse.
Evelanne destacou ainda que apesar de receber o prêmio de grande relevância acadêmica, o ganho maior é o reconhecimento da riqueza étnica e cultural dos povos que residem na fronteira.
“A gente sente que cumpriu o dever de dar lugar aos sujeitos que antes não apareciam nos livros de história,. Então, eu sinto um reconhecimento do trabalho e sinto que é uma colocação merecida para esses sujeitos que vivem aqui no Amapá”, completou.
Trecho do produto da pesquisa produzida por Evelanne
Evelanne Silva/Divulgação – Ilustração/Igum Djorge
Descoberta sobre a Mãe Luzia
Durante as pesquisas, a professora descobriu novas informações sobre a figura emblemática no Amapá que dá nome à Maternidade do estado, Mãe Luzia. Evelanne revelou que além de lavadeira e parteira, Mãe Luzia era perita em crimes sexuais contra mulheres.
“A partir dos estudos documentais dos arquivos do Tjap, no fórum de Macapá, eu descobri então que ela era perita em crimes sexuais contra mulheres [..] Então é um papel social que não se sabia, é uma faceta da Mãe Luzia que a gente não conhecia, e através dessa pesquisa foi possível perceber isso”, destacou a professora.
Mãe Luzia, figura emblemática do Amapá
Reprodução/Internet
Durante as entrevistas com mulheres curandeiras de Oiapoque para a pesquisa, Evelanne conseguiu perceber o quão os saberes tradicionais ainda são presentes, não somente no local de sua área de atuação, mas na Amazônia como um todo.
Ponte sobre o rio Oiapoque conecta Brasil e Guiana Francesa
Maksuel Martins/GEA
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