De assessor discreto a delator-chave: quem é Mauro Cid e por que ‘ameaça’ Bolsonaro

Tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ex-ajudante-de-ordens de Jair Bolsonaro – Foto: Lula Marques/ Agência Brasil/ND
O tenente-coronel Mauro Cid era um nome pouco conhecido fora dos bastidores do poder durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Discreto, ele atuava como ajudante de ordens do então presidente, com acesso livre ao gabinete presidencial, ao Palácio da Alvorada e até ao quarto de hospital de Bolsonaro.
Hoje, Cid ocupa o centro das atenções como peça-chave nas investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado – e uma ameaça (jurídica) direta a Bolsonaro.

Nesta segunda-feira (9), o STF inicia os interrogatórios na ação penal que apura a tentativa de golpe após a vitória de Lula (PT) nas eleições de 2022. O primeiro a ser ouvido será justamente Mauro Cid.
Segundo as investigações, ele não só acompanhou os bastidores da presidência como teria atuado como interlocutor direto de Bolsonaro na elaboração do suposto plano golpista.
Jair Bolsonaro e Mauro Cid – Foto: Alan dos Santos/Presidência
A mudança de papel de Mauro Cid – de homem de confiança a delator – começou a ganhar forma em setembro de 2023, quando a Polícia Federal firmou um acordo de delação premiada com ele.
O acordo foi homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos. Em fevereiro deste ano, o conteúdo da delação foi tornado público.
Nos depoimentos, o ex-ajudante de ordens da Presidência revelou detalhes do papel de Bolsonaro na trama após a eleição de Lula, do funcionamento do gabinete do ódio no Palácio do Planalto e do envolvimento de aliados do então presidente no questionamento e suposta afronta ao Estado Democrático de Direito.
Mas quem é Mauro Cid?
Mauro Cesar Barbosa Cid tem 46 anos e nasceu em Niterói (RJ). Ele é casado com Gabriela Cid e tem três filhas. Filho do general Mauro Cesar Lourena Cid, colega de Bolsonaro nos tempos da Academia das Agulhas Negras, o tenente-coronel construiu uma relação de confiança familiar com o ex-presidente.
Dentro do Planalto, ele se tornou o “faz-tudo” de Bolsonaro, sempre ao lado do chefe, mesmo nas situações mais delicadas.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República – Foto: Fotográfo/Agência Brasil/ND
Cid também esteve envolvido no caso das joias avaliadas em R$ 16,5 milhões que Bolsonaro trouxe ilegalmente para o Brasil. O ajudante de ordens e “faz-tudo” do ex-presidente foi o primeiro a ser escalado para resgatar pessoalmente joias e relógio de diamantes.
Um ofício revela que Cid escalou ele mesmo para a missão. O documento enviado à Receita Federal informando que um auxiliar do presidente pegaria as joias era assinado pelo próprio Cid. Ele era o oficial mais próximo de Bolsonaro e acompanhava o presidente o tempo todo.
A imagem de lealdade inabalável começou a ruir quando vieram à tona conversas dele com o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, investigadas no inquérito dos atos antidemocráticos. Foi o primeiro indício de que o assessor discreto tinha papel mais ativo do que se imaginava.
Ex-presidente Jair Bolsonaro e seu ajudante de ordens, Mauro Cid, foram os principais articuladores do plano de golpe em 2022, segundo a PF – Foto: Isac Nóbrega/PR/Reprodução/ND
Mauro Cid foi preso pela primeira vez em maio de 2023, no âmbito de uma operação da Polícia Federal que investigava a falsificação de cartões de vacinação do então ex-presidente Jair Bolsonaro, de seus familiares e assessores. Após um período de detenção, ele foi solto mediante decisão judicial.
No dia 22 de março de 2024, Cid voltou a ser preso, dessa vez acusado de obstrução de justiça e por descumprimento de medidas cautelares impostas anteriormente. No entanto, foi novamente liberado em 3 de maio do mesmo ano, após se comprometer formalmente a seguir uma série de restrições estabelecidas pela Justiça.
Meses depois, em 21 de novembro de 2024, o tenente-coronel foi formalmente indiciado no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota nas eleições presidenciais de 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e um dos delatores do caso, durante depoimento no STF – Foto: Reprodução/STF/ND
A situação de Cid se agravou ainda mais em 18 de fevereiro de 2025, quando a PGR apresentou uma denúncia contra Bolsonaro e outros envolvidos, com base em relatório da Polícia Federal. No documento, Mauro Cid foi acusado dos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e participação em organização criminosa.
Agora, como delator-chave, Cid é visto por investigadores e ministros do STF como um elo essencial para entender a suposta participação de Bolsonaro e aliados em ações golpistas. E para o ex-presidente, a voz de seu ex-ajudante pode ser mais do que incômoda: pode ser decisiva.

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