
Em declaração feita nesta segunda-feira (9), Vladimir Medinski, assessor do presidente Vladimir Putin e chefe da delegação russa nas negociações de paz com a Ucrânia, afirmou que uma tentativa dos ucranianos de retomar territórios atualmente sob controle russo poderia resultar em uma guerra nuclear.
Segundo ele, o apoio da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) a uma eventual contraofensiva de Kiev seria interpretado como escalada direta e levaria a consequências de escala global.
“Depois de algum tempo, a Ucrânia, junto com a OTAN e seus aliados, entrará na aliança, tentará retomar o território, e isso será o fim do planeta — será uma guerra nuclear”, disse Medinski, ao comentar o risco de um cenário semelhante ao do enclave de Nagorno-Karabakh, entre Armênia e Azerbaijão.
A ameaça é parte de uma retórica adotada pelo Kremlin desde o início do conflito, em fevereiro de 2022.
O presidente Vladimir Putin e outros oficiais russos, como o ex-presidente Dmitry Medvedev, fizeram alertas semelhantes ao longo dos últimos três anos, geralmente vinculados a “linhas vermelhas” traçadas pelo governo russo.
Entre elas, está o uso de armamentos ocidentais de longo alcance, como os mísseis ATACMS, dos Estados Unidos, e os Storm Shadow, do Reino Unido e da França, para atingir alvos dentro do território russo reconhecido internacionalmente.
Em setembro de 2024, Putin classificou o uso desses mísseis como uma forma de “participação direta” da OTAN na guerra, o que, segundo ele, justificaria uma resposta nuclear.
No mesmo período, forças russas colocaram em operação um míssil balístico hipersônico não nuclear como retaliação a ataques ucranianos com armamento ocidental.
A doutrina nuclear da Rússia, atualizada em novembro de 2024, autoriza o uso de armamento nuclear contra países não nucleares que recebam apoio militar direto de potências nucleares.
A modificação ocorreu após os Estados Unidos e o Reino Unido autorizarem a Ucrânia a usar seus mísseis contra alvos russos. O governo russo interpretou a decisão como envolvimento direto da OTAN no conflito.
Apesar da retórica, especialistas internacionais consideram pouco provável o uso de armas nucleares pela Rússia no contexto atual.
A possibilidade de contaminação radioativa em áreas próximas à própria fronteira russa também é apontada como fator de contenção para o uso efetivo dessas armas.
A Rússia possui cerca de 5.977 ogivas nucleares, segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo de 2022.
O país tem investido na modernização de seu arsenal, incluindo mísseis como o Burevestnik e o Sarmat.
A doutrina do Kremlin prevê o uso de armamento nuclear em situações de ameaça existencial ao Estado ou em resposta a ataques significativos com armas convencionais.
Ofensivas

A escalada militar tem sido acompanhada de ações ofensivas de ambos os lados. A Ucrânia realizou a chamada “Operação Teia de Aranha”, que destruiu 41 aviões militares russos utilizando drones escondidos em caminhões.
A operação demonstrou a capacidade de atingir alvos estratégicos dentro da Rússia. Em resposta, Moscou intensificou ataques com mísseis e drones contra a infraestrutura energética da Ucrânia, incluindo a usina nuclear de Zaporizhzhia, que sofreu interrupções no fornecimento de energia.
Negociações
No campo diplomático, as negociações mediadas pela Turquia em Istambul resultaram apenas em acordos pontuais, como a troca de 1.200 prisioneiros de cada lado.
As exigências da Rússia para um cessar-fogo incluem a manutenção de cerca de 20% do território ucraniano sob seu controle e a proibição formal da entrada da Ucrânia na OTAN. Essas condições são recusadas por Kiev, que exige a restituição de todos os territórios ocupados.