Nesta terça-feira (10), Bolsonaro abraçou totalmente a estratégia da defesa de cordialidade e humildade.
Com isso, frustrou seus apoiadores, que esperavam um embate transmitido ao vivo entre o ex-presidente e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Em vez disso, foram tachados por Bolsonaro como “malucos”.
Ministros do STF afirmaram ao blog que não esperavam novas informações sobre a trama golpista nessa fase do julgamento. Treinados por seus advogados, os réus negaram até onde foi possível.
Alguns foram além – como o general Braga Netto, que negou até o que escreveu. Disse que nunca deu ordens para atacar o general Freire Gomes e o brigadeiro Batista Jr (à época, comandantes do Exército e da Aeronáutica) por não terem aderido à trama golpista.
A ação da Procuradoria-Geral da República (PGR) traz as mensagens de texto em que Braga Netto dá esses comandos.
Os magistrados avaliam que, apesar das negativas, o fato de os réus terem admitido a análise de uma minuta de documento – os tais “considerandos” citados nas respostas – acaba confirmando a denúncia da PGR.
De fato, pelo que foi dito, Bolsonaro analisou uma alternativa golpista para tentar evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O próprio ex-presidente admitiu que essa alternativa foi discutida – segundo ele, depois de o Tribunal Superior Eleitoral ter negado recurso do PL pedindo a anulação do segundo turno da eleição presidencial.
Se não houve novidade da parte dos conteúdos, por outro lado surpreendeu, de certa forma, o estilo adotado pelo ex-presidente Bolsonaro. Nada de arroubos, ataques, desafios a Alexandre de Moraes, um estilo que com certeza agradaria seus apoiadores. Só que o ex-presidente seguiu à risca a orientação dos seus advogados. Bolsonaro se esforçou para ser cordato, humilde, fez questão de pedir desculpas a Alexandre de Moraes e atribuiu à sua retórica e desabafos os momentos em que fez acusações a ministros do STF de receberem de US$ 30 milhões a US$ 50 milhões para tomar medidas que beneficiaram Lula e o prejudicariam.
Bolsonaro, para irritação de seus apoiadores, buscou até se mostrar amigável com “Xandão”. Em tom de brincadeira, perguntou ao ministro se ele aceitaria ser seu vice numa candidatura à Presidência em 2026, eleição para a qual está inelegível. “Declino”, respondeu Alexandre de Moraes, arrancando risos de todos na sala da Primeira Turma, onde foram realizados os depoimentos. O ex-presidente foi além, ao chamar de “malucos” aqueles que defendiam intervenção militar, os mesmos que ele incentivava a manter suas manifestações enquanto estava na Presidência da República.
O clima em geral foi tranquilo. E não podia ser de outra forma. Se houvesse um embate entre Alexandre de Moraes com os réus estaria criado o cenário perfeito para que os apoiadores de Bolsonaro explorassem isso nas redes sociais. Além disso, haveria o risco de os réus pedirem a anulação da ação, alegando que não tiveram seus direitos de defesa respeitados. Além disso, lembraram ministros, esse sempre foi o comportamento de Bolsonaro. Costuma desafiar quando se sente poderoso, mas recua quando está acuado.