
Na véspera dos ataques ao Irã, o Parlamento de Israel passou perto de ser dissolvido.
O motivo da cisão entre os partidos da coalizão de Benjamin Netanyahu é a possibilidade de convocação de jovens religiosos para o serviço militar.
Netanyahu argumento que há um déficit de 10 mil soldados no país – parte deles para funções de combate – e ele precisa de mão-de-obra para sua obsessão expansionista (não com esses termos).
Pode sobrar para os jovens ortodoxos que hoje estão protegidos em seus seminários.
Desde 1948 eles são isentos de engrossar as tropas israelenses, uma contrapartida para o estabelecimento de um Estado secular.
Na guerra, a função deles é rezar, enquanto os não-ortodoxos se lançam ao conflito.
Só que desde o ano passado a Suprema Corte de Israel decidiu que os seminaristas podem, sim, ser convocados e servir as Forças Armadas. Eles representariam um contingente que pode chegar a 50 mil soldados.
Mas a oposição e até os partidos aliados da Likud, de Netanyahu, bateram o pé e ameaçam levar a proposta a votação.
Na prática, seria um voto de confiança sobre a capacidade de Netanyahu liderar o país, hoje sob pressão da comunidade internacional (com a exceção dos Estados Unidos) em razão do massacre de mulheres e crianças em Gaza.
A convocação de novas eleições poderia ser fatal para o premier, que provavelmente deixaria o posto e seguiria direto para os tribunais internacionais.
Netanyahu resolveu a questão criando uma outra guerra.
Apostou, assim, no mantra segundo o qual a melhor maneira de unir um país é criando um inimigo – o Hamas, destroçado, já não soa como uma ameaça o suficiente.
Os Estados Unidos dizem que não tem nada com isso, embora tenham atuado direta e indiretamente para desossar os dispositivos de defesa do Irã nos últimos anos.
Antes de atacar Teerã, as forças israelenses, com apoio da Casa Branca, alvejaram o Hezbollah, enquanto tiravam de jogo, em dobradinha, lideranças da Guarda Revolucionária Iraniana — como o general Qasem Soleimani, morto em um ataque aéreo dos Estados Unidos a Bagdá em 2020.
Donald Trump finge surpresa enquanto coça as mãos para retirar de um governo acuado um acordo de não proliferação de armas nucleares.
É um golpe duplo em um momento em que o Irã se aproxima da China, que vê no país persa um ponto estratégico da Nova Rota da Seda.
A ideia é levar infraestrutura a países de sua área de influência, acelerar e diminuir a dependência de transporte marítimo com a construção de uma linha férrea que ligaria as duas nações.
Mais pela bravata do que pelo poder de fogo, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, promete revidar o ataque inimigo.
China e Estados Unidos observam a todo de (muito) perto. Qualquer passo em falso detonará um rastilho de pólvora para a escalada de um conflito que interessa, e muito, às duas grandes potências.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG