Tentativa de resgate de preso com helicóptero que terminou em mortes e explosão em SC – Foto: Windson Prado/Jornal de Joinville/ND
Sete anos após a tentativa de resgate de um detento na Penitenciária Industrial de Joinville, no Norte catarinense, o caso ainda chama atenção pela ousadia do plano, que terminou com três mortos.
O episódio ocorreu em 2018, quando criminosos sequestraram um helicóptero em Penha com o objetivo de retirar da prisão o traficante Paulo Henrique Artmann dos Santos, conhecido como Calango. A ação previa o uso de uma cadeirinha de alpinismo para içar o preso.
A tentativa, no entanto, fracassou. A aeronave colidiu com o muro de uma residência no bairro Paranaguamirim, em Joinville, e explodiu. Três pessoas morreram no local.
Apenas um tripulante sobreviveu
O único sobrevivente, Daniel da Silva, então com 18 anos, ficou em coma por quase duas semanas. Ele foi socorrido por moradores, com queimaduras de segundo e terceiro grau em 15% do corpo. Depois de se recuperar, foi preso em flagrante.
Daniel foi condenado a 12 anos de prisão por atentado contra a segurança do tráfego aéreo. Como já estava detido, a pena foi reduzida para oito anos. Segundo a PF (Polícia Federal), ele participou da operação porque estava devendo para a facção.
Vídeo mostra queda de helicóptero após tentativa de resgate de preso
Três pessoas morreram e o único sobrevivente foi condenado – Vídeo: Divulgação/ND
O plano
O helicóptero da marca Bell, modelo 206B Jet Ranger III, fabricado em 2010, pertencia à Avalon Táxi Aéreo. O voo partiu de um heliponto, em Penha, no litoral Norte, por volta das 15h40 do dia 8 de março de 2018.
Na véspera, dois homens haviam contratado o voo, sob o pretexto de sobrevoar uma área de interesse em Joinville e retornar. Já em voo, anunciaram o sequestro e exigiram que o piloto seguisse para a Penitenciária Industrial, onde pretendiam resgatar Paulo Henrique Artmann com o uso de uma corda com assento preso, semelhante ao usado por alpinistas.
A operação incluía também o pouso posterior em um posto de combustíveis no bairro Itinga, onde o detento desembarcaria. Segundo a investigação da Polícia Federal, caso o piloto não colaborasse, um dos criminosos o mataria e, depois, cometeria suicídio. Eles chegaram a considerar feri-lo na perna com uma faca para forçá-lo a obedecer.
Briga pode ter levado à queda do helicóptero
Para a polícia, houve luta corporal dentro da aeronave. “Em declarações, o Daniel confirmou que houve luta do Ivan com o ajudante do piloto e com o piloto. Provavelmente, isso levou à queda do helicóptero”, explicou o delegado da PF Cristian Juliano Cardoso.
A queda
A aeronave subiu e desceu de forma instável por três vezes, segundo imagens obtidas pela PF. Na quarta tentativa, caiu sobre o muro de uma casa na servidão Adenilda Roeder, no bairro Paranaguamirim, e explodiu.
Três pessoas morreram: o piloto Antônio Mário Franco Aguiar, 56; Bruno Siqueira, auxiliar de serviços, 21; e Ivan Alexsander Zurman Ferreira, 24, identificado como um dos mentores do plano.
Entre as vítimas identificadas estão o ajudante do piloto, Bruno Siqueira, e o piloto Antônio Mário Aguiar – Foto: Divulgação/ND
Ivan não tinha antecedentes criminais, mas teria participado ativamente do planejamento, inclusive realizando voos de teste.
Ivan Alexsander Zurman Ferreira foi uma das três vítimas fatais do acidente de helicóptero – Foto: Reprodução RICTV/Divulgação/ND
Foram encontradas duas armas nos destroços: um revólver calibre .38 e uma pistola 9 mm. A aeronave estava com a manutenção em dia, com todos os certificados válidos. O piloto possuía habilitação para voar o modelo.
Condenações
O mandante do plano, Paulo Henrique Artmann, conhecido como Calango, foi condenado a quase 15 anos de prisão. A Justiça considerou seu papel de liderança em facção criminosa como agravante.
Outros envolvidos três envolvidos também foram condenados. Entre eles, o irmão de Calango que recebeu pena de dois anos e o único sobrevivente da queda a 12 anos de prisão.
A namorada de Ivan, que morreu na queda, foi denunciada por fraude processual, por ter destruído o celular e o chip do companheiro após o acidente.
Conforme a PF, o grupo ocultou provas, falsificou documentos, planejaram e deu apoio à tentativa de libertar o preso. Todos têm relação familiar ou de amizade com Calango.
O Ministério Público Federal concluiu que o acidente foi resultado de interferência ilícita na condução da aeronave. O caso foi classificado como atentado contra a segurança do tráfego aéreo.