Após ser reeleito neste domingo (27), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), afirmou que pretende manter a tarifa de ônibus congelada e criticou a Enel, propondo o encerramento do contrato com a concessionária devido aos recentes apagões, durante uma entrevista à TV Globo nesta segunda-feira (28).
Ontem, Nunes obteve 59,35% dos votos válidos (3.393.110), superando Guilherme Boulos (PSOL), que ficou com 40,65% (2.323.901).
Atualmente, a tarifa do ônibus está fixada em R$ 4,40, sem alterações nos últimos quatro anos. O prefeito afirmou ter intenção de continuar com essa tarifa, embora tenha enfatizado que “não poderia ser irresponsável” ao fazer promessas neste momento. A decisão sobre um possível aumento será tomada em dezembro, quando a gestão analisará a situação.
“Uma coisa que eu sempre fiz e vou continuar fazendo é o governando com responsabilidade. A questão da saúde financeira da cidade, a responsabilidade fiscal, isso é muito importante para a gente poder colocar todos os serviços em atendimento. Quando chega em dezembro é que a gente pega todos os dados do dissídio, o valor do diesel e a questão da política pública de mobilidade para tomar uma decisão. Então, em dezembro, eu sento com a equipe para tomar decisão. Se a gente consegue manter, é a minha vontade, ou se não consegue manter e explicar porque não vai manter.”
Críticas à Enel
A empresa estava comandando a energia da cidade nos últimos três grandes apagões. Em novembro de 2023, quando a Região Metropolitana ficou sem energia por uma semana, em março de 2024, quando o centro da cidade deixou moradores sem luz por mais de 30 horas e em outubro, quando a falta de energia afetou mais de 3 milhões de pessoas na Grande São Paulo.
Desde 2019, a Enel é a responsável pela gestão de energia elétrica na capital e em outras 23 cidades da região metropolitana. Nunes reiterou sua intenção de encerrar o contrato com a empresa, afirmando que irá pressionar politicamente por essa mudança.
“Reeleito com essa votação expressiva, portanto, inegavelmente com muito mais peso político, eu começo, junto com o Tarcísio, por mais força ainda para tirar essa empresa daqui. Essa empresa tem que sair da cidade de São Paulo.”
“O governo federal, o Presidente da República, esse péssimo Ministro de Minas e Energia têm que tomar uma atitude […] A concessão é federal, a regulação é federal e a fiscalização é federal. Então, o governo federal precisa olhar para a população de São Paulo e tirar essa empresa. Nós temos que fazer uma ação para ter uma nova empresa com responsabilidade e isso, se o presidente quiser fazer, ele faz em um minuto, basta assinar o decreto fazendo intervenção, ele tira a diretoria da Enel, põe um interventor para começar a cuidar da cidade.”
Árvores
No primeiro semestre deste ano, a capital acumulou 13,9 mil pedidos de poda ou remoção de árvores, registrados no telefone 156, canal oficial da prefeitura. O problema das quedas de árvores foi um dos fatores que contribuíram para os apagões de outubro.
Quando questionado sobre as podas, Nunes não forneceu detalhes sobre as medidas para reduzir essa fila e atribuiu a responsabilidade à Enel.
“O que acontece, a gente tem engenheiro-agrônomo em todas as 32 sobreprefeituras. Eu queria fazer um exercício com vocês. Vocês vão estar andando pela rua, olhem a fiação e as árvores, vocês vão ver muitas árvores que passam pela afiação. O problema é a Enel. Eu fiz 620 mil podas. A grande questão é que quando a árvore está encostada no fio é a Enel que faz essa poda, não é a Prefeitura de São Paulo. Ninguém tá empurrando nada. É que se você não desligar energia, coloca em risco a vida do profissional, então a Enel vai, desliga energia e a gente faz a poda”, justificou.
Vice-Prefeito
Nunes comentou que ainda não teve conversas com o vice-prefeito, coronel Mello Araújo, sobre suas funções no novo mandato, mas sugeriu que ele poderia assumir “uma secretaria executiva para cuidar de pontos específicos”. O prefeito também ressaltou a experiência do vice na Polícia Militar e na presidência da Ceagesp.
“Acho que uma secretaria executiva que ele possa me ajudar é na questão da Segurança Pública, pode estar ajudando a questão da zeladoria, ou seja, acompanhar mais de perto algumas políticas públicas que a gente está desenvolvendo e vai desenvolver mais específicas, eu chamo de ações prioritárias.”
Araújo foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em troca de apoio político no pleito.
Abstenções
A capital paulista registrou um número recorde de abstenções em 2024, com 31,54% dos eleitores não comparecendo, totalizando 2.940.360. Esse percentual foi maior que os votos recebidos por Boulos.
“A gente teve um número de abstenção grande e acho que atribuo isso a uma campanha muito agressiva que a gente não gostaria que acontecesse. Acho que fica uma lição que as pessoas mais agressivas acabaram tendo uma rejeição muito alta. A população rejeitou esse tipo de comportamento”, analisou Nunes.
Tarcísio
Em seu primeiro discurso após a vitória, Nunes fez agradecimentos a Deus, à família e ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que chamou de “líder maior”. Ele reafirmou que sua administração será voltada para todos e que o equilíbrio venceu o extremismo.
“O Tarcísio, realmente, foi fundamental nesse processo. Não só como um grande parceiro na administração. A gente tem muitas ações conjuntas, habitação, segurança, saneamento, mas o Tarcísio também participou muito ativamente da eleição. Lá no dia 28, 29 de agosto, mais ou menos, dei uma caidinha [nas pesquisas]. E aí foi quando o Tarcísio mais entrou. Foi no momento de dificuldade que ele mais se aproximou e demonstrou seu alto caráter.”
“Então, nós temos é diálogo todos os dias. As pessoas talvez não têm ideia de como é o dia a dia do governador, do prefeito. Existe uma sintonia muito forte, então todos os dias a gente trabalha, a gente costuma.”
Quando indagado sobre sua relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Nunes não o mencionou diretamente, enfatizando que “na eleição a lealdade é fundamental”.
2º Turno
A reeleição de Nunes ocorreu em meio a um elevado índice de abstenção, com mais de 31% dos eleitores não comparecendo às urnas. Em seu discurso de vitória, Nunes lembrou seu antecessor, Bruno Covas (PSDB), falecido em 2021, e destacou que não é o momento de olhar para o passado.
“Eu agradeço muito a Deus, agradeço à minha família. Queria deixar agradecimento especial a minha esposa Regina que esteve sempre ao meu lado, em todos os momentos da minha vida e sofreu enormes maldades nessa campanha. E ao líder maior, sem o qual não teríamos essa vitória, meu amigo, que me deu a mão na hora mais difícil, governador Tarcísio de Freitas […] Tarcísio, seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro.”
“Não é hora de olhar para trás, a hora da diferença passou, vamos governar para todos, porque todos merecem igual respeito por parte de quem governa. Aos que acompanharam essa eleição histórica, a democracia deixou uma grande lição para nós da cidade de São Paulo, e deixou uma lição para o Brasil. O equilíbrio venceu todos os extremismos.”
Nunes, reeleito com uma ampla aliança política que inclui doze partidos, enfrentou uma campanha marcada por ataques e processos, além de uma queixa-crime de Boulos relacionada a declarações do governador sobre o PCC.
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