Após seis anos do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, executores confessos do crime, enfrentarão o júri popular. O julgamento está marcado para esta quarta-feira (30), no 4º Tribunal do Júri do Rio, no Centro do Rio de Janeiro.
Ambos os acusados são ex-sargentos da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Lessa, expulso em 2023 da corporação, é acusado de ser o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson. Já Queiroz, que foi expulso da PM em 2015, é apontado como o motorista que conduziu o veículo usado para o crime.
Lessa e Queiroz respondem por duplo homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima) e pela tentativa de homicídio contra Fernanda.
Relembre o caso e a participação de cada um dos ex-sargentos no crime que chocou o Brasil.
O crime
Marielle e Anderson foram mortos em um ataque a tiros realizado em 14 de março de 2018. Ao sair de um evento na Casa das Pretas, espaço coletivo de mulheres negras na Lapa, na Centro do Rio, Marielle embarcou em um carro dirigido por Anderson, ao lado da assessora Fernanda Chaves.
O veículo foi emparelhado por um Cobalt prata e foi atingido por diversos disparos de uma submetralhadora HK MP5. A parlamentar e o motorista foram atingidos e morreram no local.
Antecedentes do crime
No inquérito, os investigadores afirmam que a operação que culminou no assassinato de Marielle foi iniciada no dia 14 de março, ao meio-dia, quando Ronnie Lessa convidou Élcio para sua casa, no condomínio Vivendas da Barra.
Ambos entraram no carro Chevrolet Cobalt prata e foram para o bairro da Lapa, onde a vereadora participava do evento “Mulheres negras movendo estruturas”.
Quando chegaram no evento, os ex-sargentos aguardaram a saída da vereadora, e Lessa foi para o banco de trás e preparou a submetralhadora HK MP5.
Terminado o evento, Marielle entrou no carro conduzido pelo motorista Anderson Gomes, e o veículo dos dois acusados saiu logo atrás, seguindo o carro da parlamentar até um determinado ponto do bairro.
Por volta das 21h, Queiroz emparelhou os veículos, e Lessa efetuou 13 disparos contra o carro de Marielle. A parlamentar foi alvejada quatro tiros na cabeça e Anderson, por três. Os dois morreram no local. Fernanda Chaves, assessora de Marielle, não foi atingida, mas se feriu com os estilhaços.
Após cometerem o crime, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz fugiram pelo acesso à Avenida Brasil, rumo ao Méier, usando a Linha Amarela como rota de conexão.
Chegando na zona norte, a dupla se encontrou com irmão de Lessa, Denis, a quem foi entregue os equipamentos e a arma do crime. Em seguida, o irmão do ex-sargento chamou um táxi para os criminosos, que voltaram para a casa de Lessa, onde religaram seus celulares. Em seguida, ambos se deslocaram para um bar na Barra da Tijuca.
Investigação
Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram presos em 12 de março do ano seguinte, em uma das operações sobre o caso. Na ocasião, eles assumiram a autoria do crime.
Além disso, os dois também concordaram em fazer, separadamente, delações premiadas com a Polícia Federal. Foi a partir desses depoimentos que surgiram os nomes dos mandantes do crime: Domingos Brazão, Chiquinho Brazão e Rivaldo Barbosa.
As defesas dos réus esperam que, com a cooperação a partir das informações, sejam aplicadas penas “justas” neste julgamento.
Júri
A audiência está marcada para as 9h desta quarta-feira. Os réus participarão por videoconferência, dos presídios onde estão. Lessa a partir do Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo; e Queiroz do Complexo da Papuda, presídio federal em Brasília.
A sessão vai ouvir nove testemunhas, sendo sete delas indicadas pelo Ministério Público estadual e duas pela defesa de Lessa. Os advogados de Queiroz desistiram de ouvir as testemunhas que haviam requerido anteriormente.
A acusação contará com o depoimento da única sobrevivente do atentado, a assessora de Marielle, Fernanda Chaves, além de familiares das vítimas e dois policiais civis.
Após os depoimentos das testemunhas dos réus, tem início o tempo para que a defesa e a acusação debatam o processo. A expectativa é que o julgamento se estenda por ao menos dois dias.