Seis cidades da Região dos Lagos do Rio são banhadas pela Lagoa de Araruama. Nessa imensidão vivem diversos peixes e crustáceos, entre eles: carapeba, carapicu, saúba, cavalo-marinho, siri e perumbeba. Diversas espécies de peixes e crustáceos podem ser encontrados na Lagoa de Araruama – a maior hipersalina do mundo
Larissa Vilarinho/g1 e Eduardo Pimenta/Arquivo Pessoal
São 220 quilômetros quadrados e cerca de 630 milhões de metros cúbicos de água. Essa é a dimensão da Lagoa de Araruama ou Laguna de Araruama, considerada a maior laguna hipersalina do mundo.
Seis cidades da Região dos Lagos do Rio são banhadas por ela: Araruama, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Iguaba grande, Saquarema e São Pedro da Aldeia.
A hipersalinidade da Lagoa de Araruama se deve ao baixo índice pluviométrico anual. O biólogo Eduardo Pimenta explicou ao g1 que o clima na região é semiárido e chove muito pouco, então, não tem aporte de rios caudalosos na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, principalmente que deságuam na Lagoa de Araruama, por isso ela é hipersalina.
“Isso ocorre pelo fato da zona costeira da Região dos Lagos apresentar quebra na linha litorânea do continente, restringindo a chegada de frentes frias devido ao afastamento da Serra do Mar. E, ainda, sob a influência do fenômeno da ressurgência com suas correntes marinhas de águas frias, há redução da evaporação e formação de nuvens, fatores determinantes para a ocorrência do clima semiárido”, explica.
Camarão, carapeba, perumbeba e tainha são algumas das espécies encontradas na Lagoa de Araruama
Eduardo Pimenta/Arquivo pessoal
As espécies na lagoa
Em meio à vastidão das águas da Lagoa de Araruama, há uma rica biodiversidade. Entre as diversas espécies que vivem no local, estão: camarão, carapeba, carapicu, saúba, tainha e perumbeba.
Há pouco mais de três anos, devido às melhores condições da lagoa, cavalos-marinhos também começaram a ser encontrados. Placas relatando a presença desses animais foram instaladas em alguns pontos da laguna.
O g1 ouviu a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro (Fiperj) para saber quantas espécies de pescados existem na Lagoa de Araruama, já que o órgão não cuida de toda a fauna aquática. Porém, desde 2014 não ocorre o monitoramento da pesca no local.
“Sem o monitoramento, não temos registros para saber se aumentou ou diminuiu nos últimos anos”, disse a Fiperj.
Lagoa de Araruama banha várias cidades da Região dos Lagos e diversos barcos de pescadores ficam ancorados
Larissa Vilarinho/g1
Em 1999 foi criado o Consórcio Intermunicipal Lagos São João (CILSJ) que tem o objetivo de promover gestão ambiental com qualidade e contribuir para o desenvolvimento sustentável nos 13 municípios de atuação.
Ao g1, o consórcio disse que não possui um levantamento oficial com o número total de espécies na Lagoa de Araruama , mas estima que existam cerca 40 tipos de peixes, sendo os cinco mais abundantes: tainha, saúba, perumbeba, carapeba e carapicu.
O CILSJ disse ainda que entre os crustáceos são duas espécies de camarão, uma de siri e algumas espécies de caranguejos nos mangues.
Siri azul é um das espécies que pode ser encontrada na Lagoa de Araruama
Larissa Vilarinho/g1
Pablo Santos é pescador há 20 anos e, ao longo desse tempo, encontrou diversas espécies, como: vermelho-cioba, badejo, tarpon, carapeba, perumbeba, tainha, sargo-de-dente, ubarana, peixe-pedra ou mangangá, salema, carapicu, caratinga, sardinha-laje, sardinha maromba, peixe-rei ou manjubinha, peixe-morcego, bicuda, baiacu-liso, baiacu espinhoso e piolho do tubarão.
Eduardo Pimenta explica que o aparecimento de tantas espécies na lagoa se deve à recuperação ambiental.
“A partir de 2014, vem gradativamente melhorando a sua balneabilidade. Dados técnicos-científicos apontam que 85% de suas águas estão em boas eou ótimas condições de balneabilidade, refletindo na volta dos esportes náuticos, produção pesqueira, etc”, afirmou o biólogo.
Um dos grandes destaques da Lagoa de Araruama é o camarão
Eduardo Pimenta/Arquivo pessoal
Ainda segundo Pimenta, não há nenhuma espécie que seja só da Lagoa de Araruama, mas o destaque é o camarão.
“Ele varia muito em espécies e o de melhor sabor é o de lagoas hipersalinas, como a da Lagoa de Araruama. Os camarões de águas salobras ou doces são muito menos saborosos”, afirma.
Para garantir a continuidade das espécies e a sua preservação, pelo fato das cidades da Região dos Lagos terem a pesca como sustento de muitas pessoas, é determinado que haja o período de defeso. Esse período ocorre em duas fases diferentes:
Defeso dos crustáceos – de 1º de abril a 30 de junho
Defeso dos peixes – de 1° de agosto a 31 de outubro
Obras na lagoa
De acordo com Instituto Estadual do Ambiente (Inea), o aparecimento de novas espécies fez com que a pesca na região aumentasse. Eles destacam que esse aumento ocorreu com o início das obras de instalação do cinturão coletor de esgoto e com o desassoreamento do Canal do Itajuru.
“O desassoreamento do canal que liga a Lagoa de Araruama, na Região dos Lagos do estado, ao oceano – intervenção que começou em março de 2023 – já retirou cerca de 426 mil m³ de areia e outros detritos para a destinação ambiental adequada. O trabalho também inclui a recuperação das orlas em diversos locais abrangidos pela lagoa a partir da reutilização da areia oriunda do desassoreamento”, disse o Inea.
Pablo é pescador desde os 13 anos e pesca camarão de segunda a sexta-feira na lagoa de Araruama
Pablo Santos/Arquivo pessoal
O pescador Pablo destacou que os peixes do tipo vermelho-cioba e o mangangá começaram a aparecer após as obras de dragagem.
“O mangangá ou peixe-pedra é a espécie invasora, se espetar alguém chega a dar febre. Também está aparecendo muita lula pequena, polvo, já pegamos alguns, e até lagosta pequena pegamos”, disse.
Ele também destaca o aparecimento de mais crustáceos.
“Principalmente o siri e o camarão que estão dando direto , dá uma fracassada às vezes, mas sempre tem. Siri tem muito, tá acabando com as nossas redes. Também estão aparecendo muitas algas verdes, faz um campo quando o tempo fica quente, sem vento”, conta.
O pescador diz que as condições da lagoa estão favoráveis para o pescado, mas existem pontos específicos que precisam ser recuperados.
“A qualidade da água melhorou em boa parte da laguna de Araruama , tirando pontos específicos que continuam a mesma coisa. Na Praia do Siqueira e no canal Mossoró, nessas áreas, o esgoto é despejado continuamente, onde é visível o dano”, afirma.
Perumbeba pode ser encontrada na lagoa de Araruama que banha várias cidades da região dos Lagos do Rio
Eduardo Pimenta/Arquivo pessoal
Em nota, a Prolagos, concessionária responsável pelo saneamento e tratamento de esgoto em quatro cidades da Região dos Lagos, disse que, historicamente, quando chove, a Praia do Siqueira recebe contribuição de rede de drenagem de toda a área central de Cabo Frio, “arrastando os resíduos domésticos e das ruas, o que acaba resultando no acúmulo de material natural naquele local, que é um ponto de difícil renovação de água”.
De acordo com a concessionária, no ano passado, foi implantado cerca de três km de rede separativa de esgoto na Praia do Siqueira para atender os moradores. Informou também que, em 2024, começou a obra de modernização da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) situada no bairro.
“Ao fim das intervenções, a unidade terá um aumento de 50% na capacidade média de tratamento, passando a operar dentro do modelo terciário, gerando ao final do processo água de reuso, que pode ser utilizada para irrigação de jardins e outros fins”, disse a concessionária.
A respeito da reclamação no bairro Mossoró, em São Pedro da Aldeia, a Prolagos disse que para suprir as necessidades geradas pelo crescimento da cidade, vai iniciar, ainda em 2024, o início de um novo trecho do cinturão coletor de esgoto – que atualmente conta com mais de 38 km de extensão no entorno da Lagoa de Araruama.
“A estrutura irá interceptar a rede de drenagem, direcionando a contribuição de esgoto para o sistema da concessionária, de onde será feito o bombeamento para a estação de tratamento do município”, informou.
O crescimento da pesca
Gancho de captura de tainha na Lagoa de Araruama. A cresce da espécie cresceu em 2023
Eduardo Pimenta/Arquivo pessoal
O projeto de Estatística Pesqueira, feito pela Universidade Veiga de Almeida e liderado pelo Eduardo Pimenta, destacou que houve um aumento de 32% na produção do pescado entre 2022 e 2023 na laguna, passando de 263 toneladas para 348 toneladas. O levantamento foi feito entre março e dezembro de 2023.
A pesquisa destacou que quatro espécies tiveram maior representatividade:
Camarão-rosa (Farfantepenaeus brasiliensis): 143 toneladas pescadas (+157% em relação a 2022);
Tainha (Mugil liza): 96 toneladas (+121%);
Carapeba (Eugerres brasilianus): 69 toneladas (+6%);
Perumbeba (Pogonias cromis): 27 toneladas (-70%).
A cidade com maior volume capturado em 2023 foi São Pedro da Aldeia, com cerca de 134 toneladas, um crescimento de 21% em relação ao mesmo período anterior. Cabo Frio, a segunda maior em volume, registrou um crescimento de 138%, chegando a 124 toneladas.
Em Arraial do Cabo, “o total capturado foi de 46 toneladas em 2023, uma queda de 12% comparando com o ano de 2022. Iguaba Grande contabilizou 43 toneladas, um aumento de 6% em comparação ao mesmo período de 2022”, apontou o levantamento.
Perumbeba é uma das espécies encontradas na lagoa que passa por várias cidades da Região dos Lagos
Eduardo Pimenta/Arquivo pessoal
Pablo pesca camarão de segunda a sexta-feira. Ele disse que a quantidade varia, dependendo do tempo.
“Em uma pescaria boa por semana, a gente chega a pescar 300 kg de segunda a sexta. Tem vez que até pescamos mais, uns 400 kg. Por mês, varia entre 800 a 1000 kg em uma boa pescaria. Na pescaria fraca, varia entre 70 a 120 kg por semana, aí, por mês, varia entre 350 a 500 kg”, explica.
De acordo com o pescador, no verão a quantidade cai, pois as águas da Lagoa de Araruama ficam quentes e começa a aparecer muitas algas. “Sem contar o aumento do esgoto para dentro da lagoa com a população flutuante, turistas, que chega para a Região dos Lagos”, disse.
Anualmente, Pablo disse que pega uma faixa entre oito a dez toneladas de camarão.
Pablo pescando camarão na Lagoa de Araruama. Ele pesca de segunda a sexta-feira
Pablo Santos/Arquivo pessoal
Investimentos
De acordo com a Prolagos, foi feito um investimento de R$ 1,4 bilhão em saneamento nos último 26 anos nas cidades de responsabilidade da concessionária.
“Os investimentos possibilitaram a universalização da região, com cobertura passando de zero para 90%, sendo 100% do esgoto coletado tratado, o que resultou na melhoria geral na qualidade da Lagoa de Araruama”, disse a concessionária.
A concessionária informou ter feito uma implantação de um sistema que conta com “38 km de um cinturão coletor no entorno da laguna, sete Estações de Tratamento com capacidade para tratar até 97 milhões de litros de esgoto por dia, e outras unidades de bombeamento, que permitem que todo o esgoto seja transformado em efluente tratado, a fim de que seja devolvido para o corpo hídrico sem impacto para o meio ambiente”.
Lagoa de Araruama é a maior laguna hipersalina do mundo e é o lar de diversas espécies marinhas
Larissa Vilarinho/g1